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    Economia da Rússia encolhe, e cresce o medo de uma crise financeira

    DO "FINANCIAL TIMES", EM MOSCOU

    10/08/2015 18h05

    A economia da Rússia se contraiu em 4,6% no segundo trimestre, comparado ao mesmo período em 2014. É a maior queda em seis anos, o que marca a primeira recessão do país desde a crise financeira de 2009.

    O Serviço Federal de Estatísticas russo não ofereceu detalhes ao divulgar sua estimativa inicial, mas analistas dizem que o número preliminar deve ser revisado para mostrar queda ainda maior, já que as estatísticas setoriais —que incluem as vendas do varejo, a produção industrial e a renda domiciliar - apontam para contração ainda mais profunda em termos reais.

    O número surge depois da contração relativamente amena de 2,2% registrada no primeiro trimestre deste ano. Até junho, o governo russo vinha garantindo ao público que o pior da atual crise já havia passado, com a estabilização do rublo depois da severa depreciação sofrida no ano passado. A contração de 4,6% foi ligeiramente pior do que a média das estimativas de analistas. Economistas alertaram que a queda renovada nos preços do petróleo, que causou queda do rublo, tornaria uma recuperação rápida ainda mais improvável.

    Mas a primeira queda na renda durante os 15 anos de poder do presidente Vladimir Putin, registrada em dezembro de 2014, se provou um obstáculo difícil de superar.

    De acordo com números divulgados no mês passado, a queda nos gastos dos consumidores se aprofundou no segundo trimestre, com as vendas do varejo caindo em 9,4% em junho. O crescimento do setor industrial, estagnado nos três primeiros meses do ano, também caiu em quase 5% no segundo trimestre.

    "Com os preços do petróleo caindo ainda mais nos últimos meses, continua a ser cedo demais para falar de recuperação", disse Liza Ermolenko, analista da Capital Economics.

    O crescimento econômico já havia caído a quase zero no ano passado devido à duradoura escassez de investimento. O baque causado pela queda do preço do petróleo foi agravado pelas sanções que o Ocidente impôs por conta do envolvimento russo no conflito da Ucrânia, que impedem que muitas empresas e bancos russos captem recursos no exterior.

    O medo de que essa compressão possa deflagrar uma crise sistêmica mais ampla se acalmou depois que o rublo se estabilizou em uma cotação de cerca de 50 rublos por dólar, no segundo trimestre, depois de uma queda acentuada. De lá para cá, ele voltou a cair para 64 rublos por dólar - o que redespertou as preocupações.

    "Esta é e longe a mais severa crise que a Rússia já experimentou, mesmo comparada às de 1998 e 2008, e ainda não vimos o pior dela", disse Irene Shvakman, diretora da McKinsey em Moscou. "O setor bancário pode se provar o ponto fraco".

    Desde a metade do ano passado, o governo russo vem promovendo a substituição de importações, na esperança de que um rublo fraco volte a tornar competitivos os bens industrializados que a Rússia em geral importa, desde o colapso da União Soviética. Mas os analistas afirmaram que a contração na produção industrial demonstrou que quaisquer efeitos que essa tendência possa ter exercido se esgotaram rapidamente.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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