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    Idosos procuram intercâmbio para melhorar idioma e aproveitar viagens

    JOANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    17/08/2015 02h00

    O aposentado Geraldo Guimarães, 60, acaba de voltar de uma temporada de 20 dias em Londres, onde assistiu à troca da guarda e fotografou os arredores do Palácio de Buckingham. Mas os passeios diários só estavam liberados depois que o intercambista recém-chegado à terceira idade terminava a tarefa na escola de inglês.

    "Já turistei muito na vida. Dessa vez eu quis fazer diferente. Escolhi ficar hospedado em casa de família e pegar o trem todos os dias para ir às aulas como um rapaz de 18 ou 19 anos. Na minha classe tinha alunos do mundo todo", conta.

    Cansados de viajar só para descansar, os idosos brasileiros estão despertando para o intercâmbio e atraindo a atenção de empresas de viagens de estudos antes voltadas apenas para adolescentes e jovens adultos.

    A prática já é uma realidade entre europeus, principalmente os alemães e os escandinavos, segundo Tereza Fulfaro, diretora educacional da empresa de viagens CI.

    "Aqui no Brasil, na faixa dos 50 anos é algo bem comum porque é uma idade que ainda procura preparação para o mercado de trabalho, mas o brasileiro acima de 60 está despertando para o intercâmbio também", diz Fulfaro.

    A CVC, que já tem tradição no turismo da terceira idade, abriu uma divisão de intercâmbio no primeiro semestre deste ano. E a demanda dos idosos já representa 8% do total, de acordo com Santuza Bicalho, diretora da nova área.

    Trata-se de uma participação impensável há dez anos, quando o volume não superava os 4% no mercado em geral.

    "Essa prática avança à medida que a população brasileira vai envelhecendo. Eles têm a vantagem de ter mais tempo disponível. Podem procurar cursos na baixa temporada e conseguir preços mais baratos que os jovens, que ficam presos ao calendário escolar", afirma Bicalho.

    É o caso da aposentada Lourdes Cardoso, 77, que está planejando fazer um intercâmbio de até dois meses em Buenos Aires. Ela já viajou a turismo para a Argentina e quer fazer disso um hábito, mas antes pretende aprender a língua.

    "Eu gostaria de me hospedar em um lugar onde tivesse outras pessoas estudando também, para eu conviver e aprender melhor", diz.

    Nem todos, porém, aceitam abrir mão da privacidade. Arthur Benchimol, 61, que passou dois meses em Boston, preferiu alugar um apartamento.

    "Fiz intercâmbio agora porque era uma frustração que eu tinha. Mas nessa idade eu não queria ficar me sujeitando a horários e regras em hospedarias e casas de família", explica.

    Já há cursos especificamente desenhados para idosos, que incluem passeios a vinícolas e museus, segundo Bruno Contrera, coordenador de produto da STB.

    "É menos acadêmico e mais voltado ao dia a dia, para que eles possam aprender a pedir um vinho na Itália ou na França", explica Contrera.

    Há diferenças no perfil das viagens escolhidas pelos idosos. A principal delas está no destino, segundo Bicalho. "Pessoas com mais de 70 anos procuram lugares com clima melhor, como França, Espanha e Itália. Imagine um idoso em Toronto com inverno de menos 30 graus. É difícil", diz ela.

    Também há diferença na duração do intercâmbio. Enquanto os adolescentes procuram principalmente os cursos de um semestre, os mais velhos fazem viagens mais curtas.

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