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    Novo canal do Suez mira volta do petróleo do Irã

    ISABEL FLECK
    ENVIADA ESPECIAL A ISMAILIA (EGITO)

    17/08/2015 02h00

    Amr Abdallah Dalsh/Reuters
    Cargueiro na extensão do canal do Suez, em Ismailia, Egito
    Cargueiro na extensão do canal do Suez, em Ismailia, Egito

    Concluída dois anos antes do prazo estipulado, a expansão do canal do Suez, celebrada pelo presidente Abdel Fattah al-Sisi como um "presente do Egito para o mundo", chega em meio à expectativa sobre o retorno do petróleo iraniano ao mercado global.

    O canal, por ser rota preferencial para o petróleo que sai dos países do golfo Pérsico rumo à Europa, seria um dos beneficiados com a queda das sanções a Teerã, podendo ver o fluxo de petróleo e derivados -hoje em 3,2 milhões de barris por dia- aumentar cerca de 20%.

    Hoje, 22% da carga transportada pelo Suez é composta por petróleo e derivados.

    A volta das exportações iranianas representariam, segundo estimativa recente do Banco Mundial, mais 1 milhão de barris circulando por dia (em 2014, eram 93 milhões de barris por dia em todo o mundo). Só para a Europa, o Irã costumava exportar, antes das sanções, cerca de 600 mil barris diários.

    A suspensão das sanções dos EUA e da União Europeia está prevista no acordo sobre o programa nuclear iraniano fechado em julho -sob a condição de que Teerã cumpra sua parte do texto- e pode ter início nos próximos meses.

    "Se o Irã conseguir pegar uma quota do mercado dos países da África Ocidental [para a Europa], esse petróleo vai passar pelo Suez. Carga e número de embarcações vão aumentar", diz Peter Sand, especialista da associação de transporte marítimo internacional Bimco.

    Apesar de o governo egípcio não fazer alarde sobre o impacto para o país do retorno das exportações do Irã, o ministro do Petróleo, Sherif Ismail, já declarou que o Egito "não tem objeções" ao produto iraniano.

    A EXPANSÃO DO CANAL DE SUEZ

    EXPANSÃO

    O governo afirma que a expansão do canal -que envolveu a construção de uma nova "faixa", de 35 km, paralela ao canal já existente, e a dragagem de um trecho de 37 km para a passagem de navios maiores- permitirá a travessia de praticamente o dobro de embarcações até 2023 (de 49 para 97).

    Com a obra, de US$ 8,5 bilhões, a arrecadação do canal pode aumentar de US$ 5,3 bilhões para US$ 13,2 bilhões em oito anos, segundo o governo.

    Apesar de considerar as projeções egípcias ambiciosas diante de um crescimento de 3% ao ano no comércio marítimo, o diretor de relações exteriores da Câmara Internacional de Transporte Marítimo, Simon Bennett, diz que mudanças não só no Irã como em outros países da região contribuiriam com o crescimento do fluxo no Suez.

    "Se as sanções contra Teerã forem suspensas e a situação no Iraque melhorar, é possível uma maior circulação de petroleiros. Embarcações servindo o crescente setor de refinaria no Oriente Médio também podem levar a um aumento", afirma.

    Variação do fluxo do petróleo pelo canal do Suez

    Ao contrário de outros tipos de carga, que têm seu fluxo mais intenso no canal no sentido Mediterrâneo-mar Vermelho, o petróleo circula majoritariamente no sentido sul-norte, do golfo para a Europa -o que só seria reforçado pelas exportações iranianas.

    Paul Tossetti, da IHS, consultoria americana especializada em energia, contudo, destaca que, apesar da expansão, o canal seguirá não comportando os maiores petroleiros, chamados de VLCCs, com sua carga total.

    "Essas embarcações continuarão desembarcando parte da carga no mar Vermelho, para ser transportada por oleoduto [no Egito], passando parcialmente carregadas pelo canal e sendo recarregadas no Mediterrâneo."

    A repórter ISABEL FLECK viajou a convite da Autoridade do Canal do Suez

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