• Mercado

    Thursday, 02-May-2024 23:53:50 -03

    Criadores de animais transformam dejetos em energia para veículos e máquinas

    ROBSON RODRIGUES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    23/08/2015 02h00

    O paranaense José Carlos Colombari enfrentava um problema na sua fazenda em São Miguel do Iguaçu, onde cria 5.000 porcos. Os suínos produzem cerca de 100 mil litros de esterco e efluentes líquidos por dia, o que deixava sua propriedade cheia de moscas e com mau cheiro.

    Ele decidiu então instalar um biodigestor para tratar os resíduos, produzir biogás e gerar energia elétrica.

    Colombari foi um dos primeiros a investir no uso de dejetos animais para produção de energia, em 2006, um negócio que tem atraído outros pequenos empresários.

    Energia

    O investimento foi alto: R$ 350 mil utilizados para desenvolver um sistema de coleta dos dejetos, construir o biodigestor, que os transforma em gás, e criar um local de armazenamento.

    O empresário diz produzir 750 m³ de biogás por dia, que, transformado em energia em um gerador, é o suficiente para tornar sua propriedade autossuficiente de energia.

    "Este processo me dá uma economia mensal de R$ 5 mil. Economizo mais R$ 2 mil de adubo, porque uso o efluente tratado como biofertilizante", diz Colombari, acrescentando que o investimento já se pagou.

    Robson Rodrigues
    Produtor de animais José Carlos Colombari investiu na produção de energia com dejetos
    Produtor de animais José Carlos Colombari investiu na produção de energia com dejetos

    A economia foi o que motivou o granjeiro Nilson Haake, em Santa Helena, também no Paraná, a investir recentemente em um sistema de produção de biogás.

    Ele cria 84 mil aves para a produção de ovos, além de bois para corte. Os excrementos das galinhas servem de matéria-prima para abastecer os seus veículos.

    Os dejetos são captados e processados no biodigestor, onde microorganismos produzem o biometano.

    "O gás abastece o motor de um ônibus com capacidade para 120 passageiros, além de emitir 80% a menos de poluentes. Agora quero converter um caminhão para gás para fazer as entregas dos ovos", conta o granjeiro.

    Haake investiu R$ 130 mil na construção e instalação do sistema. A produção contínua do biogás, contudo, tem custos pequenos e alimenta as máquinas de moer o pasto, as bombas d'água e a refrigeração nos barracões.

    Apesar do biogás ser considerado uma alternativa limpa de produção de energia, o uso dos dejetos animais para esse fim ainda é raro.

    Cícero Bley Jr., representante do Brasil na Agência Internacional de Energia, diz que o país poderia gerar até 12% de toda a energia consumida a partir do biometano -hoje essa fatia é de apenas 0,05% (veja mais ao lado).

    "O Brasil tem 23 bilhões de m³ de biometano para serem explorados, uma alternativa eficiente e barata se comparada aos recursos fósseis, mesmo assim é uma fonte negligenciada", diz Bley, que atribui o pouco investimento à falta de medidas de estímulo do governo.

    Biogás

    TUDO SE TRANSFORMA

    Nem só os dejetos dos animais podem virar um negócio lucrativo.

    Em São Paulo, a graxaria (que faz reciclagem de restos animais) de Gustavo Razzo Neto compra a baixos preços de açougues e frigoríficos sobras não aproveitadas de vísceras, ossos, sangue e carcaças, que transforma em produtos de limpeza, como detergentes, e ração.

    Petala Lopes/Folhapress
    Fernando Razzo na fábrica sabão Razzo
    Fernando Razzo na fábrica sabão Razzo

    "Em São Paulo, cinco companhias fazem a coleta de 22 mil toneladas de resíduos de ossos e gordura por mês", diz.

    O empresário não revela seu faturamento, mas o setor de reciclagem de resíduos de origem animal tem uma receita anual de R$ 5,8 bilhões.

    Há quase 50 anos nesse ramo, Razzo diz que o mercado passa por um momento ruim diante da alta do preço da carne, que diminui o consumo e, conseqüentemente, a quantidade de sobras.

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024