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    Buscar cliente a qualquer custo destrói valor do negócio, afirma empresário

    FERNANDA PERRIN
    DE SÃO PAULO

    23/08/2015 02h00

    A primeira versão da Wappa não funcionou. A segundo levou-a a se tornar uma das maiores empresas de gestão de táxi corporativo no Brasil. Agora, a empresa planeja mudanças que podem colocá-la no meio da disputa entre os aplicativos de celular 99Taxis e EasyTaxi.

    A empresa nasceu com a proposta de intermediar, via celular, pagamentos de vale-refeição. Na época (2004), boa parte deles ainda eram feitos com tíquetes de papel.

    Quando perceberam que o negócio não tinha capacidade de atender a demanda dos clientes, pivotaram –expressão que se popularizou entre start-ups para se referir a empresas que adaptam a estratégia do negócio, corrigindo a rota mas sem perder a essência original.

    No caso da Wappa, a mesma lógica de pagamento foi direcionada para um novo serviço: corridas de táxi feitas por funcionários a trabalho. Atualmente, a empresa trabalha com 280 cooperativas e 55 mil taxistas autônomos, tem entre seus clientes Centauro e HP, criou um aplicativo próprio e, este mês, lançou uma versão dele para o consumidor final, afirma Armindo Mota Júnior, fundador e presidente do negócio.

    Bruno Santos/Folhapress
    São Paulo, SP, BRASIL- 07-08-2015: Na foto, Armindo Mota, CEO da Wappa, empresa de gestão de táxi corporativo. ( Foto: Bruno Santos/ Folhapress ) *** MNEGÓCIOS *** EXCLUSIVO FOLHA***
    Armindo Mota Júnior, presidente da Wappa, empresa de gestão de táxi corporativo

    Leia abaixo os principais trechos da entrevista que Mota Júnior concedeu à Folha, por telefone.

    *

    Folha - Qual era a ideia original da empresa?

    Armindo Mota Júnior - Nós começamos a desenhar a Wappa em 2001, analisando mercados em que a tecnologia poderia acelerar o processo de comunicação e otimizar processos dentro das empresas. Na época, identificamos o potencial do mercado de benefícios. Começamos a desenvolver uma plataforma de comunicação entre empresas fornecedoras e compradoras de tíquete-restaurante. Nós vimos que as empresas começavam a migrar para o cartão, e entendemos que o próximo passo da internet seria o celular. Então por que não criar um negócio em cima disso?

    Em 2004, desenvolvemos a plataforma e integramos com as operadoras de telefonia móvel. Fizemos um projeto-piloto no Unibanco: cadastramos alguns restaurantes em São Paulo e, quando os funcionários saíam para almoçar, pagavam pelo celular por SMS ou WAP. Nós integramos até o pager.

    O que deu errado?

    Conversando com as grandes empresas, nós víamos que elas adoravam a ideia de eliminar o papel, mas estávamos muito à frente do mercado tentando transformar isso em uma transação pelo celular. As empresas precisavam que a gente atendesse o Brasil inteiro –mais de 2 milhões de estabelecimentos– e nós precisávamos fazer com que cada um deles estivesse preparado para realizar a operação. Foi quando percebemos que nós íamos ter muitos problemas operacionais para escalar o negócio.

    Como se deu a correção de rota?

    Além de tíquete-refeição, a plataforma também estava pronta para ser usada em farmácias, combustível e táxi. No caso do táxi, as empresas tinham muito problema de gerenciamento porque tudo era feito no papel. Então, no final de 2006, decidimos dar essa virada de chave no táxi fazendo uma parceria com uma cooperativa que já atendia uma rede de empresas.

    Nós mandávamos um cartãozinho para o usuário com o número que ele tinha que digitar no SMS, pra mostrar onde estava o crédito. Já era tudo virtual, mas as pessoas ainda precisavam desse elemento físico.

    A popularização dos aplicativos de celular para táxi afetaram a empresa?

    Em 2010, nós lançamos um aplicativo para smartphone: o usuário podia consultar saldo, extrato, pagar, mas ainda não tinha chamada para corridas. Nós tínhamos mais de 300 cooperativas no Brasil inteiro, que ainda precisavam ser acionadas via telefone.

    Começamos a tentar integrar os sistemas das cooperativas, mas era difícil porque cada uma tinha um software diferente. Quando aconteceu o boom dos aplicativos, entre 2011 e 2012, todos os novos negócios da área vieram procurar a gente. Eles precisavam de usuários, mas nós tínhamos uma limitação porque as cooperativas não podiam nem ouvir falar em aplicativo. Elas estavam em guerra com eles.

    Nós achávamos a ideia dos apps ótima, mas teríamos muitos problemas porque os taxistas iriam parar de trabalhar com a gente.

    Mas hoje a Wappa tem um aplicativo.

    Nós vimos que a única forma de preservar nossa escala era ter um app da Wappa para abrir o mercado. Em 2013, lançamos o app e tivemos um problema gigante com as cooperativas. Depois, elas entenderam que era um caminho sem volta.

    Como vocês encararam a concorrência da 99Taxis e Easy Taxi?

    O mercado teve um boom de novas empresas, mas depois criou um funil. Nós temos um ativo que é entregar esse serviço para grandes companhias: nosso software entende a estrutura do cliente, nós fazemos o treinamento, como faturar as corridas, o pós-venda.

    É um mercado de quase R$ 20 bilhões no Brasil, então o maior desafio é trazer todo mundo pra dentro da tecnologia. O celular ainda é limitado, ainda tem muita gente que não tem smartphone, então nós preservamos uma plataforma multicanal no mundo B2B [de empresa para empresa]: o usuário ainda pode pagar a operação por SMS, pelo app do taxista ou pela nossa central de atendimento.

    O SMS ainda é de 5% a 8% do nosso volume transacional, mas o smartphone já é o principal canal para chamada de corridas. Talvez não tenha mercado em que a tecnologia tenha rompido tantas barreiras quanto o brasileiro. Tivemos que fazer uma série de mudanças, adaptações, você tem que ter muita velocidade na mudança de rota.

    Os taxistas ainda têm muita resistência a aplicativos?

    O público tem mudado, eles estão ficando mais jovens, antenados com tecnologia. É um processo de mudança de mercado. Toda essa confusão que o Uber está causando é positiva, porque mostra para os taxistas que eles precisam prestar um serviço difrerente. As pessoas estão mais exigentes, querem serviços de qualidade.

    Vocês planejam entrar no mercado de corridas para o consumidor final, já bastante disputado entre Easy Taxi e 99Taxis. Por quê?

    Nós vamos lançar em agosto um app para o mercado geral. Decidimos fazer isso porque temos muitos usuários que querem usar o Wappa na pessoa física [fora do expediente]. Queremos captar em um primeiro momento esse usuário que já usa Wappa no corporativo quando ele estiver no tempo livre dele, para que a marca fique mais conhecida.

    Mas nós não queremos cair no varejão da 99Taxis e da Easy Taxi. Acho que o valor da empresa é destruído quando ela vai buscar o usuário a qualquer custo. Nós queremos nos posicionar entre a pessoa física e o varejo da 99Taxis, do Uber.

    Como isso vai funcionar?

    Em um primeiro momento, só funcionários das empresas [para quem prestamos serviço] vão poder se cadastrar. Depois, eles vão poder convidar amigos, e depois vamos decidir se abrimos para geral ou não.

    Easy Taxi e 99Taxis fazem o caminho inverso e migram para o mundo corporativo. Como vocês encaram essa nova concorrência?

    A entrada de concorrência é sempre positiva, e acaba ajudando a abrir este mercado. Nas empresas maiores, nós ganhamos quase todos os processos pelo tamanho que temos, nosso benchmarking. Nas empresas médias, temos concorrido um pouco mais, nas pequenas a concorrência é ainda maior.

    Eles ajudam a abrir concorrência em clientes que nós não procuramos, e acabamos levando. Não dá para a Wappa sozinha abrir o mercado. Por isso uma concorrência eficiente, que trabalhe bem, é bom.

    Mas eles são conhecidos por estratégias promocionais bastante agressivas. Isso não preocupa você?

    A pessoa jurídica foi o mercado que sobrou para eles gerarem receita com o negócio, porque na física eles praticamente pagam para a pessoa usar. Eles entenderam que o corporativo é onde dá para ganhar dinheiro. Mas eles ainda precisam botar a operação de pé, então eles estão sendo muito mais conservadores nessa cobrança, para conseguir receita. Nós já estamos muito bem posicionados, quem nos usa são empresas de serviços, bancos, seguradoras, call centers. Já temos nossa fatia grande do mercado.

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