• Mercado

    Saturday, 04-May-2024 18:54:20 -03

    Bolsa desaba 6% e dólar vai a R$ 3,58 em 'Segunda Negra' causada por China

    DE SÃO PAULO

    24/08/2015 11h18

    Stringer /Reuters
    Investidor em frente a painel com informações da Bolsa, em corretora de Huaibei, na China
    Investidor em frente a painel com informações da Bolsa, em corretora de Huaibei, na China

    A Bolsa brasileira abriu em queda superior a 6% e atingiu o menor patamar desde 2009 naquela que está sendo chamada de "segunda negra", provocada pelo pânico de investidores com uma desaceleração na China. A forte aversão ao risco aumenta a busca por ativos seguros, como o dólar. No Brasil, a cotação da moeda atingiu R$ 3,58 na máxima.

    Às 14h34, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, tinha alta de 1,23%, para R$ 3,540. Na máxima, chegou a R$ 3,579, maior patamar desde 26 de fevereiro de 2003, quando fechou a R$ 3,584. Corrigido pela inflação, o valor equivaleria hoje a R$ 5,70.

    No horário, o dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, subia 1,54%, para R$ 3,549, após alcançar o pico de R$ 3,58. Foi o maior nível também desde 26 de fevereiro de 2003, quando encerrou a R$ 3,588 —o que equivaleria hoje a R$ 5,71.

    O Ibovespa segue os mercados mundiais e cai nesta segunda-feira (24). O principal índice do mercado acionário brasileiro, que chegou a despencar 6,5% em relação ao fechamento de sexta-feira, tinha queda de 1,88%, para 44.861 pontos, às 14h35. É o menor nível desde 2009, quando a Bolsa começava a se recuperar dos efeitos da crise econômica mundial.

    O mercado acionário brasileiro acompanha o pânico no exterior motivado pelas dúvidas sobre o crescimento da economia chinesa. Na sexta-feira (21), o índice Caixin dos executivos de compras -que acompanha a atividade do setor industrial- caiu à sua marca mais baixa desde o começo de 2009, o momento de pico da crise financeira mundial. Os analistas vinham esperando sinais de melhora.

    Bolsa de Xangai - Índice composto da Bolsa chinesa, em pontos

    Os investidores esperavam que, diante de dados econômicos fracos no gigante asiático, o governo lançasse medidas amplas de estímulo neste final de semana, o que não ocorreu.

    No domingo, para tentar impulsionar o mercado acionário local, a China decidiu permitir que fundos de pensão administrados por governos locais investissem no mercado acionário pela primeira vez, o que pode canalizar potencialmente centenas de bilhões de yans para o mercado acionário chinês.

    O governo chinês publicou um esboço dessa regra para consulta pública em 30 de junho, no pico de uma recente venda generalizada no mercado acionário. A Bolsa de Xangai fechou o dia com forte queda de 8,49%, para 3.209 pontos. A Bolsa de Shenzhen, a segunda maior da China, registrou queda de 7,70%, a 1.882 pontos.

    "A forte queda da Bolsa chinesa alimenta preocupações com o estouro de uma bolha e com a instabilidade da economia do país", afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil.

    "O governo chinês vinha tentando segurar a queda da Bolsa chinesa, mas após o mercado americano ter queda expressiva na sexta-feira, não conseguiu impedir a desvalorização de hoje", avalia.

    Em relatório, o analista Marco Aurélio Barbosa, da CM Capital Markets, afirma que "seria mais produtivo" o governo chinês anunciar "medidas estruturais em vez de ações conjunturais para segurar o preço das ações".

    Para ele, a permissão para que fundos de pensão possam investir no mercado acionário busca "estancar o pânico junto aos investidores pessoas físicas, que representam 80% dos aplicadores na Bolsa local, evitando o contágio da economia real pela 'perda de lastro para o consumo' devido à redução da poupança", diz, em relatório.

    No entanto, complementa, as medidas de 'socorro' do governo à Bolsa chinesa vêm "afastando os poupadores e atraindo mais especulação". "Há uma sensação de que o governo chinês está perdendo o controle da situação e um 'hard landing' [pouso forçado] é inevitável", diz o analista.

    Alguns analistas, porém, já começam a ver sinais de uma crise asiática.

    Segunda-feira negra - Fechamento das bolsas pelo mundo, em %

    PÂNICO

    Além da forte queda nos mercados asiáticos, a preocupação com a China também fez as Bolsas europeias desabarem nesta segunda.

    O principal índice europeu de ações despencou nesta segunda-feira após os mercados chineses desabarem, reduzindo em bilhões de euros seu valor de mercado e atingindo a mínima em sete meses. O índice FTSEurofirst 300 fechou com queda de 5,44%, para 1.349 pontos, e perdeu cerca de € 450 bilhões (US$ 521,42 bilhões) em valor de mercado – pior performance de fechamento desde novembro de 2008.

    Em Londres, o índice FTSE-100 recuou 4,67%, para 5.898 pontos. Em Frankfurt, o índice DAX caiu 4,70%, para 96.648 pontos. Em Paris, o índice CAC-40 perdeu 5,35%, a 4.383 pontos.

    Em Milão, o índice FTSE-MIB teve desvalorização de 5,96%, para 20.450 pontos. Em Madri, o índice Ibex-35 registrou baixa de 5,01%, a 97.756 pontos. Em Lisboa, o índice PSI-20 se desvalorizou 5,80%, para 4.981 pontos

    Nos Estados Unidos, os principais indicadores seguem sua trajetória de queda, após registrarem a pior semana em quatro anos com as preocupações envolvendo China.

    Às 14h38, o índice Dow Jones caía 1,72%, enquanto o S&P 500 tinha desvalorização de 1,33% e o índice da Bolsa Nasdaq perdia 1,57%.

    A queda no preço das commodities causada por uma menor demanda da China —grande importador de matérias-primas— pode provocar uma pressão deflacionária na economia americana, em um momento em que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) discute o aumento dos juros no país.

    "O cenário de grande incerteza pode levar o Fed a adiar para o próximo ano a alta dos juros. O movimento deflacionário é um fator de risco que o banco central americano vai discutir e avaliar seu impacto na perspectiva inflacionária para o país", afirma Rostagno, do banco Mizujo.

    Em julho, o índice de preços ao consumidor nos EUA subiu 0,1%, abaixo da expectativa de analistas, que viam avanço de 0,2%. Foi o menor ritmo em três meses, o que gera dúvidas sobre a velocidade com que a inflação vai voltar à meta estabelecida pelo Fed, que é de 2% ao ano.

    O adiamento da elevação dos juros nos EUA deve diminuir a pressão sobre o dólar aqui, com os investidores optando por manter recursos em economias emergentes, como o Brasil, que oferecem taxas de remunerações maiores. O movimento de entrada de dólares tende a conter a valorização da moeda americana e pressionar a cotação para baixo.

    AÇÕES

    Aqui, o forte aumento da aversão ao risco jogou os papéis preferenciais —mais negociados e sem direito a voto— da Petrobras no menor nível desde setembro de 2003. Às 14h38, as ações tinham queda de 3,97%, para R$ 7,97, após desabarem mais de 9% no início dos negócios.

    Às 14h38, as ações ordinárias da estatal —com direito a voto— perdiam 2,50%, para R$ 8,97. No início da sessão, também chegaram a perder mais de 9%. As ações são fortemente afetadas pela desvalorização do preço do petróleo no mercado internacional.

    Já as ações da Vale chegaram a desabar mais de 10%, influenciadas pela preocupação com China, o que fez os preços do minério de ferro caírem 5% nesta segunda-feira. Às 14h39, os papéis preferenciais da mineradora perdiam 5,20%, para R$ 12,75, no menor patamar desde setembro de 2004. As ações ordinárias caíam 4,07%, para R$ 16,02, no menor nível desde novembro de 2004.

    Folhainvest

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024