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    Por que as commodities do setor de recursos naturais despencaram

    HENRY SANDERSON
    ANJLIT RAVAL
    DAVID SHEPPARD
    DO "FINANCIAL TIMES", EM LONDRES

    24/08/2015 16h57

    Ajay Verma/Reuters
    Barras de ouro em exibição em uma loja de jóias na cidade de Chandigarh, Índia. *** Gold bars are displayed at a gold jewellery shop in the northern Indian city of Chandigarh May 8, 2012. Gold imports by India, the world's biggest buyer of bullion, could rise on pent-up demand from jewellers after the federal government decided to scrap an excise duty on jewellery it imposed in March, the head of a trade body said on Monday. REUTERS/Ajay Verma (INDIA - Tags: BUSINESS COMMODITIES)
    Barras de ouro exibidas em loja na cidade de Chandigarh, Índia; metal teve alta de 6% neste mês

    Os preços das commodities caíram às suas marcas mais baixas desde a crise financeira e —de acordo com pelo menos um indicador— à sua marca mais baixa do século.

    Embora o setor de recursos naturais tenha sido apanhado pelo medo quanto a uma desaceleração no crescimento da China, cada commodity continua a ter uma dinâmica própria de mercado. Eis um guia rápido quanto ao que está acontecendo.

    1- PETRÓLEO

    Crescentes sinais de que o excedente de petróleo persistirá enervaram os operadores e investidores. Mas é a China que está causando verdadeiro medo. O país contribuiu mais do que qualquer outro para o crescimento da demanda por petróleo na década passada, e por isso qualquer desaceleração na economia chinesa pode representar má notícia para o consumo de petróleo cru.

    O setor de petróleo de xisto betuminoso nos Estados Unidos mostrou mais resistência do que se esperava, e o mesmo vale para a produção dos países que não integram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Enquanto isso, os membros do cartel de produtores Opep, como Arábia Saudita e Iraque, estão extraindo petróleo em nível quase recorde.

    A caminho de setembro, o setor está de olho na temporada de manutenção de refinarias, já que os reparos e melhorias sazonais das refinarias tendem a reduzir a demanda por petróleo nos meses finais do ano.

    Analistas da BMI Research afirmaram que a alta acentuada nas apostas dos fundos de hedge contra o preço do petróleo "geraram pressão crescente de baixa tanto sobre o petróleo Brent quanto sobre o WTI nas últimas semanas". A derrocada do petróleo, iniciada em junho de 2014, "ainda tem muito a avançar", eles afirmaram.

    Ainda que a oferta tenha se recuperado do começo do ano para cá, até o momento ela não conseguiu absorver a oferta adicional disponível. Os analistas estimam que esse excedente possa atingir os dois milhões de barris diários, no segundo semestre deste ano.

    "Com o quadro macroeconômico se deteriorando nas últimas semanas, o mercado não pode depender apenas de melhoras na demanda para reencontrar seu equilíbrio", disseram analistas da Energy Aspects, consultoria sediada em Londres. "Uma resposta significativa em termos de oferta, por todos os produtores", é necessária para que os preços encetem uma recuperação, eles acrescentaram.

    2- COBRE

    A demanda por cobre na China cresceu em 2,5% a 3% este ano, abaixo das projeções de muitos analistas. A antecipação dessa mudança na demanda levou fundos de hedge chineses a pressionar os preços do metal a uma rápida queda em janeiro. Este mês o cobre, usado em todo tipo de produto, de cabos elétricos a fios de tomada, caiu aos seus preços mais baixos em seus anos.

    Embora os analistas afirmem que o mercado físico na China tenha estado bastante ativo, com as importações de cobre refinado subindo em 2% em julho, a demanda geral continua relativamente fraca.

    A produtora e trading de cobre Glencor afirmou na semana passada que os estoques de cobre estavam em níveis historicamente baixos e argumentou que os fundos de hedge é que haviam forçado uma baixa do mercado. Ivan Glasberg, presidente-executivo da empresa, disse que "normalmente estoques baixos querem dizer preços altos".

    Mas muitos operadores apontam para a desaceleração no investimento chinês em infraestrutura, especialmente no setor elétrico - um dos maiores consumidores de cobre.

    O preço do metal no mercado está abaixo de seu custo de produção, e a Macquarie estima que, aos preços atuais, 17% das minas estejam perdendo dinheiro. Isso pode levar as minas a reduzir produção, o que mais tarde estimularia os preços.

    Em prazo mais longo, os analistas dizem que há poucas minas novas de grande porte para substituir a produção mais antiga. A Codelco, do Chile, maior produtora mundial de cobre, está investindo bilhões para manter seu nível atual de produção.

    3- ALUMÍNIO

    Os preços do alumínio bateram de frente contra um paredão de exportações chinesas este ano, e são os mais baixos em seis anos.

    Mas embora o incentivo para que companhias chinesas exportem o metal possa ter diminuído, o mercado continua a sofrer de excesso de oferta, porque nenhum produtor se dispõe a reduzir sua produção.

    A oferta mundial de alumínio subiu em mais de 10,3% no primeiro semestre do ano, de acordo com o Aluminium Institute. Na China, embora alguns fechamentos possam ter acontecido, muitas fundições de alumínio ampliaram sua capacidade, de acordo com a consultoria CRU, e a produção na província de Xinjiang, no oeste do país, subiu em 36,5% em julho.

    Os analistas antecipam que a crescente produção chinesa possa forçar o fechamento de produtores ocidentais, com a transição do país de "cliente a concorrente".

    "Sentimos que a estrada será muito dolorosa para o alumínio, dado o grande excesso de capacidade que foi e ainda está sendo criado na China", disse a Investec. "As novas fundições chinesas têm tecnologia de ponta, e seus custos de produção são muito baixos. Sentimos, portanto, que isso resultará em fechamento em larga escala de capacidade 'ocidental', nos próximos anos".

    4- MINÉRIO DE FERRO

    Os preços do minério de ferro se saíram melhor que os dos metais básicos nos dois últimos meses, subindo em 25% depois do recorde de baixa registrado em julho.

    A recuperação, para a marca de US$ 56 por tonelada, surgiu por conta da queda nas exportações do Brasil e Austrália. Mas os preços ainda assim continuam a registrar 22% de baixa no ano, de acordo com o Índice do Aço, e a oferta continua a superar a procura.

    O minério de ferro negociado no mercado futuro chinês caiu em 4% na segunda-feira, o máximo permitido em uma sessão de acordo com as regras do mercado.

    Embora as minas de custo mais alto estejam sentindo a pressão, as grandes mineradoras do planeta mostram poucos sinais de corte. A mineradora Rio Tinto planeja entregar 20% mais minério de ferro à China este ano do que no ano passado, informou a empresa na semana passada.

    5- OURO

    O ouro se beneficiou este mês da crescente expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) postergue os aumentos de juros previstos para o mês que vem. Com estímulo adicional de investidores em busca de um chamado porto seguro para seu dinheiro, em meio à derrocada mundial dos mercados de ações, o ouro registrou 6% de alta este mês.

    O metal precioso enfrentou alguma pressão na segunda-feira, porém, quando investidores decidiram realizar lucros sobre suas posições de ouro, a fim de atender a pedidos de cobertura de margem em outro mercado.

    "O ouro está se segurando bem a despeito das pesadas perdas sofridas pelas commodities em geral", disseram analistas do Commerzbank. "Mesmo assim, ele não conseguiu avançar mais, a despeito da forte alta na aversão a risco e de um dólar perceptivelmente mais fraco".

    Os compradores em geral vêm sendo ocidentais ou norte-americanos, e não os tradicionais centros de demanda na Índia e China, dizem analistas. Isso significa que os preços dependerão mais pesadamente do dólar dos Estados Unidos e dos sinais enviados pelo Fed.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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