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    Lava Jato pode parar usinas de Angra e afetar fornecimento de energia

    JULIO WIZIACK
    DE SÃO PAULO

    26/08/2015 17h09

    Luciana Whitaker/Folhapress
    Usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, no RJ
    Usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, no RJ

    Envolvida no esquema de pagamentos de propina investigado pela Lava Jato, a Eletronuclear não tem dinheiro para pagar uma dívida de R$ 500 milhões pelo combustível de Angra 1 e 2 e as usinas correm o risco de parar em seis meses.

    As duas centrais respondem por 1,4% da energia do sistema elétrico nacional —o que seria suficiente para abastecer quase metade do Estado do Rio de Janeiro durante um ano.

    Hoje, o combustível nuclear das usinas é fornecido pela INB (Indústrias Nucleares do Brasil), estatal que detém o monopólio da exploração de urânio no país. Ela cobra a fatura milionária da Eletronuclear há seis meses. A Eletronuclear é uma subsidiária da Eletrobrás. Ambas estão sob investigação da Polícia Federal.

    As conversas pelo pagamento estão travadas desde o fim de julho, quando o almirante Othon Luiz Pinheiro, presidente licenciado da estatal, foi preso pela Polícia Federal. Ele é investigado por supostamente ter recebido propina de construtoras que fazem Angra 3.

    O caso colocou em pé de guerra o Ministério da Ciência e Tecnologia, a que a INB está vinculada, e o Ministério das Minas e Energia, que responde pela Eletronuclear.

    A Folha apurou que, há duas semanas, o ministro Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia) tenta um acordo com o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia), mas as negociações não avançaram. Braga não explica por que a Eletronuclear não tem caixa para pagar a fatura. Nas correspondências, a empresa só diz que "está com problemas financeiros" e o caso segue sem solução.

    Alan Marques/Folhapress
    Othon Luiz em 2011, quando participava de comissão para discutir a segurança do programa nuclear brasileiro
    Othon Luiz em 2011, quando participava de comissão para discutir a segurança do programa nuclear

    ANTECEDENTES

    Em maio, o presidente da INB, Aquilino Senra Martinez, informou o ministro Aldo Rebelo que a situação tinha passado do limite.

    Na carta, a que a Folha teve acesso, Martinez informou que, se a dívida não fosse paga até o fim de julho, não seria mais possível fornecer o combustível nuclear do próximo ano para Angra 1 e 2.

    O enriquecimento do urânio e a fabricação das pastilhas combustíveis usadas pelas usinas é um processo demorado que exige planejamento antecipado, em geral, de um semestre. As entregas para este ano estão garantidas porque o combustível já vinha sendo produzido. O que pode ser paralisado, caso a situação não seja resolvida nas próximas semanas, é a produção do próximo semestre.

    Hoje, as usinas geram 95% das receitas da INB. A empresa estatal diz na carta que "a dívida está reduzindo o fluxo de caixa" e que a INB "não teria mais como operar para a Eletronuclear".

    Por meio de sua assessoria, a Eletronuclear disse que não poderia comentar detalhes do acordo com a INB porque o contrato é sigiloso.

    O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação informou que os ministros Aldo Rebelo e Eduardo Braga "trataram recentemente deste tema" e Braga "assegurou que encaminhará uma solução adequada para o caso".

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