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    Incentivo via crédito público deve ser pontual, diz presidente do Banco Fator

    JOANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    27/08/2015 02h00

    Zanone Fraissat/Folhapress
    SAO PAULO/SP BRASIL. 19/08/2015 - Entrevista Ping pong com Marco Antonio Bolonha, presidente do banco Fator..(foto: Zanone Fraissat/FOLHAPRESS, MERCADO)***EXCLUSIVO*** - Bologna e Marco Antônio Bologna
    Marco Antonio Bologna, presidente do Banco Fator

    O uso de incentivos setoriais e de bancos públicos para impulsionar o crédito, medidas anunciadas na semana passada que resgatam premissas do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, não devem ser estendidas pelo longo prazo, devem ser pontuais, segundo Marco Antonio Bologna, ex-presidente da TAM, que assumiu neste ano a presidência do Banco Fator.

    Para ele, está claro que o fornecimento de capital por meio de recursos subsidiados ou abaixo do custo de mercado já se exauriu.

    Bologna classifica a crise pela qual passa o país como a mais grave dos últimos 40 anos, mas vê com otimismo os cenários de atuação do banco, tanto pela retração do financiamento público quanto pelos efeitos da concentração no setor bancário.

    *

    Qual o impacto do atual cenário político nos negócios?

    A crise é econômica, com suas razões em termos de equilíbrio fiscal e da economia mundial, e política, em que os poderes não estão com alinhamento perfeito para a condução, inclusive, da política econômica. Agregado a isso, há as investigações.

    Essa somatória leva à queda da atividade econômica. Acredito que nos últimos 40 anos não tenhamos assistido a tamanha crise institucional com tamanho reflexo na atividade. O grande problema hoje é o bloqueio do relacionamento de crédito da fluência de negócios.

    Vai piorar?

    Ainda deve piorar. Inflação alta, queda de emprego e uma maior restrição de crédito criam uma somatória que não é boa para ninguém. Precisamos ter uma recuperação do ambiente de governabilidade. Esse ambiente de expectativa muito negativa inibe o investimento.

    Esperamos que se crie entre Senado, Câmara, Executivo, Ministério Público, Tribunal de Contas, uma consciência da necessidade da reversão das expectativas para que o investimento flua. Precisamos de um grande pacto nacional e de reformas.

    Deveríamos olhar a coisa menos como política e mais como administração. Em uma empresa isso é normal. Se você tiver que fazer um turnaround [reestruturação] em uma empresa, mas houver resistências políticas ou paixões internas, você não executa.

    O governo voltou a anunciar crédito para impulsionar os setores. Há um retorno à era Mantega?

    Algumas coisas pontuais são bem-vindas quando se faz o crédito público. Em qualquer economia do mundo há recursos direcionados com custo de capital atrativo. As medidas anticíclicas talvez tenham sido usadas numa dimensão que trouxe um problema de finanças públicas.

    Há três políticas em qualquer país: monetária, fiscal e cambial. Quando as dosagens não são adequadas, sobrecarrega uma ou outra. Por termos tido uma política anticíclica que impactou a fiscal, tivemos de ir para a política monetária forte. Então o país vive hoje uma taxa de juros alta, inibidora de investimentos e complicadora para quem deve.

    É difícil parar em pé em qualquer retorno de investimento. Hoje, eu chutaria que talvez nem 10% das empresas no Brasil têm um retorno sobre capital investido maior que o custo de captação médio ponderado. Isso não é legal para criação de valor.

    Agora a preocupação com o emprego está sendo vinculada ao crédito. Se você não desempregar, terá acesso a algum recurso diferenciado. Isso é difícil de se sustentar. Ele pode ser usado momentaneamente, porque é muito difícil você segurar um negócio que não tenha rentabilidade, simplesmente com dinheiro subsidiado. Ele não se sustenta a longo prazo. Ele pode ser usado como uma medida específica.

    Tem que parar por aí?

    Qualquer subsídio a longo prazo é insustentável. O mais fácil é dar condição de custos para que a atividade tenha viabilidade. Somos um país caro, na logística, na energia. O que poderia dar mais condições seria uma reforma fiscal, de ICMS.

    É caro porque não temos uma tributação alinhada, estimulante. Reformas estruturais seriam muito mais positivas do que a concessão de um crédito específico. Ele vai ser bom? Vai. Ele é tópico, mas não é um remédio. Não é o necessário.

    Qual o impacto dele na evolução da participação do setor financeiro privado?

    Acho que já ficou claro que a participação proporcional do banco privado, dos agentes privados, daqui para frente será maior. Nós chegamos no passado a ter 50% do fornecimento de capital feito por recursos subsidiados ou abaixo de custo de mercado. Acho que isso se exauriu.

    Algo em que o Banco Fator acredita como negócio é que daqui para a frente o mercado de capitais terá uma relevância maior do que teve nos últimos anos pela menor presença do recurso subsidiado. Até para a própria política monetária. Por que a gente tem uma política monetária tão alta que você está praticamente atuando sobre metade da economia.

    Houve derrota para o Levy?

    Eu não acredito que haja uma mudança de estratégia do Executivo. A leitura que eu tenho é que há um alinhamento e há por parte de todos os ministros e da própria presidente, um apoio às políticas que o ministro tem levado ao Congresso. Ela não é contra. O maior exemplo disso é a oneração da folha.

    Eu não vejo um desalinhamento, um desapoio às propostas dele. Essas coisas pontuais são normais de acontecer porque há indicadores muito graves de emprego. Ao mesmo tempo em que se lança um programa de crédito vinculado à preservação do emprego, se quer onerar a folha. A oneração da folha tem um impacto no emprego. Uma economia que um setor tinha, não vai ter mais. Então está se tentando dar algum tipo de compensação para viabilizar algo mais estrutural.

    Qual o impacto no seu setor de atuação anterior? As aéreas estão reduzindo capacidade.

    Todas estão ou reduzindo a capacidade instalada ou a capacidade programada futura. No Brasil temos grande população, com baixa penetração do transporte. Mas como fazer com que as pessoas voem mais? Há o gargalo da infraestrutura, que não é abundante, é cara, não é acessível.

    E há o custo Brasil: alta carga tributária, combustível mais caro do mundo no mercado local pela política de preços da Petrobras, lei da aviação muito antiga. Essas coisas tornam o custo alto e a acessibilidade do transporte cai. Aí você entra com estímulo, que vem de onde? Crédito. E onde tudo isso se acerta? Quando tem PIB crescente.

    Mas com PIB negativo, começa a ter excesso de capacidade. Então começa a baixar preço para estimular o tráfego. Mas não dá resultado. Só tem uma solução: reduzir capacidade. Não abandona destino, mas tira a frequência. É a mesma coisa na indústria, como a automobilística, que para produção, dá férias coletivas. Na aviação não dá pra fazer férias coletiva. Tem que continuar voando. Então voa menos, disciplina a oferta.

    A demanda fica inelástica, não adianta estimular, ela não vem. A pessoa não toma crédito, está com medo do emprego, não viaja. E no tráfego de negócios, do qual o Brasil é muito dependente, tem menos tráfego do passageiro a trabalho.

    Sua chegada ao banco é recente. Quais são os planos?

    O banco de investimento tem esse papel de estruturar negócios ou analisar e pesquisar setores e dar informação para potenciais investidores. Acreditamos que isso vai ganhar maior relevâncias no Brasil daqui para a frente até por uma menor participação do financiamento público pelas condições fiscais em que o país está.

    Além disso, o mercado bancário como um todo observou várias concentrações. E quando há maior concentração bancária, com algumas fusões, o volume de limites disponibilizado dessas empresas tem um impacto. Se um banco A dava 100 e um banco B dava cem, não é verdade que se o A se juntar ao B, o limite vai ser 200. O limite provavelmente continuará sendo 100.

    Acreditamos que a oportunidade de negócios para um banco do nosso perfil focado na atividade de banco de investimento se torna também maior. Somos um banco muito líquido, com baixa alavancagem. Estamos hoje com um banco que gira com R$ 150 milhões em caixa para R$ 380 milhões de patrimônio. É alta a liquidez.

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    • VOZ DE COMANDO - RESPOSTAS RÁPIDAS

    Time: Palmeiras

    Meio de transporte: carro, a trabalho, e moto por lazer

    Que tipo de pessoa contrata?

    Quem não tem medo de perder o emprego, quem acredita no seu próprio valor, quem questiona e gosta de ser avaliada por desempenho

    Que tipo demite?

    Quem está com baixo comprometimento e gosta de estabilidade independentemente da realização

    O Brasil ainda é o país do futuro?

    Continuamos...

    E quando vai chegar esse futuro?

    Qual futuro a gente gostaria para o país? Quando houver diminuição da desigualdade. Está um pouco distante por infraestrutura, educação. Será país do futuro quando tivermos educação

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    • RAIO-X - O LÍDER E O BANCO

    Marco Antonio Bologna

    Idade: 60

    Formação: engenharia de produção pela USP

    Carreira: presidente do Banco Fator e do conselho de administração da Latam

    Banco Fator/2015

    Patrimônio líquido: R$ 332 milhões

    Patrimônio sob gestão: R$ 4,9 bilhões

    Funcionários: 360

    Principais concorrentes: Sofisa, Indusval e ABC

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