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    Facebook e Google deveriam divulgar faturamento, diz presidente da Abap

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    28/08/2015 02h00

    Bruno Santos/Folhapress
    São Paulol, SP , BRASIL- 24-08-2015: Posa para a foto, Orlando Marques (66), presidente nacional da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade). (Foto: Bruno Santos/ Folhapress ) *** MERCADO *** EXCLUSIVO FOLHA***
    Presidente nacional da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade), em São Paulo

    O Facebook, que, ao lado do Google, se manteve durante anos refratário ao mercado publicitário brasileiro, busca agora uma aproximação.

    Orlando Marques, ex-presidente da Publicis Brasil e presidente da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade), diz que a rede social procurou a entidade e apresenta nesta sexta (28), em sua reunião nacional, "como acha que o Facebook e as agências podem trabalhar juntos".

    Diego Dzodan, que assumiu há dois meses como vice-presidente para América Latina do Facebook, no lugar de Alexandre Hohagen, "vai levar uma ideia", e, a partir daí, diz Marques, "vamos discutir". O executivo do Facebook deverá ouvir reclamações sobre a resistência da rede social em abrir seus dados de faturamento no país.

    Sem os números de Facebook e Google, o Projeto Inter-Meios, que consolidava os dados e servia de referência para agências e anunciantes, foi suspenso no início deste mês.

    Em entrevista à Folha, Marques acrescenta que o investimento publicitário mostra recuperação neste segundo semestre, o que credita em parte à necessidade dos anunciantes de sustentar as marcas, para não perder fatia de mercado.

    *

    Folha - O que o sr. espera da reunião nacional?

    Orlando Marques - Temos uma coisa importante. O vice-presidente para América Latina do Facebook está levando uma proposta, de como ele acha que o Facebook e as agências podem trabalhar juntos. Vai levar uma ideia, vamos ver como é que podemos fazer.

    Porque você sabe que, até então, Facebook e Google acham que agência, mídia impressa, é tudo terceira categoria, para não dizer dinossauro em extinção.

    A gente, pela primeira vez, vai ter uma conversa.

    Eles já encaminharam as ideias?

    Não, a gente vai conhecer lá. Estiveram aqui com a gente, disseram que gostariam de uma aproximação.

    Para nós interessa, porque é um veículo que nos ignorava.

    E com o Google, já houve aproximação?

    Esse nos ignora olimpicamente. Eles são profissionais, mas não querem saber de agência de propaganda, não. Quer dizer, agência para botar lá um "bannerzinho" é ótimo, mas, para trabalhar a comunicação como um todo, eles acham que não precisam da gente, não.

    O Google está trabalhando com agências, tem buscado?

    Eles levaram muita gente de agência, inclusive a minha ex-diretora de mídia na Publicis, a Gleidys [Salvanha].

    E eles têm, sim, procurado uma aproximação, mas ela não é completa.

    Não é institucional?

    É. Eles continuam vendendo a maioria dos anúncios diretamente. E até ensinando como é que se faz o anuncinho, "Faça assim, assado, passe seu cartão de crédito e está resolvido".

    Não precisa de agência para botar aquilo dentro de uma estratégia, de um planejamento, de uma razão de ser para fazer aquilo.

    No Facebook é a mesma coisa?

    É o que eu digo: não há nenhum modelo de operação, não há nenhuma regulamentação.

    A Abap pretende encaminhar algum tipo de regulamentação no ambiente digital?

    É preciso partir deles a vontade de regulamentação. O que gostaríamos muito é que participassem do mundo publicitário.

    Por exemplo, eu quero saber quanto o Google, quanto o Facebook fatura no mercado brasileiro. A gente gostaria de saber, na comunidade publicitária, quanto se fatura, quanto é televisão aberta, quanto é TV fechada, quanto é digital. E no digital a gente não tem essa informação.

    O Inter-Meios foi encerrado.

    Por causa disso. A razão foi essa. É uma grande perda, é uma grande pena.

    Você pretende levantar isso na reunião?

    Com o Facebook? Mas que dúvida. Não preciso nem falar nada, vou ficar quietinho lá e deve ter uns 30 presidentes de agências que vão falar.

    Como é nos outros países?

    Na Inglaterra, por exemplo, eles declaram o quanto faturam, porque é obrigado, por lei. Não tem como escapar de declarar.

    Você tem uma estimativa de quanto representam Google e Facebook hoje, no Brasil?

    Pois é, não tem. Falam que o Google já é a segunda mídia no Brasil. Eu acredito, mas acredito por nariz, porque não tenho informação.

    O fundamental é: você está num país que tem uma indústria que não é nenhum bando de idiotas. A indústria da propaganda no Brasil é uma coisa séria, respeitável mundialmente. Eu espero que, se você vem à minha casa e começa a operar, me conte o que está fazendo. Mas eles não.

    Outra questão [na reunião] é a perspectiva do mercado. O país vive crise econômica...

    O primeiro semestre foi uma desgraça para a qual talvez a gente não estivesse preparado. Esperava que caísse, mas não tanto.

    A gente não tem o número exato da encrenca, mas deve ser de dois dígitos, mais de 10% de queda, no primeiro semestre. Então, agosto, setembro está pintando melhor. Não quer dizer que a gente vá se salvar completamente, mas melhora um pouco. A minha leitura é que o ano não vai ser uma desgraça, se a gente conseguir algum crescimento no segundo semestre, que reponha um pouco da perda do primeiro.

    Os números são negativos, na economia. Por que estaria havendo recuperação [na publicidade]?

    É que tem muita gente que represou até agora, e não dá para represar o ano inteiro, se não você começa a perder "share" [fatia] de mercado.

    Os anunciantes?

    É, é. Por mais que [a empresa] não queira, porque não confia na economia, ela fala, "Não, mas peraí, eu preciso garantir o 'share' da minha bolacha, do meu chocolate". E aí tem que fazer. Não dá para parar totalmente.

    Tem a ver com Natal, festas?

    Tem, também, porque em outubro começam essas promoções.

    É o período de mais investimento em mídia mesmo.

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    • RAIO-X ORLANDO MARQUES

    Idade: 67 anos

    Carreira: Presidente da Abap (Associação Brasileira de Agências de Propaganda), ex-presidente da Publicis Worldwide e membro do conselho da Publicis

    Atuou como diretor-geral de Publicidade e publisher da "Veja", foi diretor comercial de "O Estado de S. Paulo" e teve passagens pela Editora Globo, TV Bandeirantes, Brasil Mídia e TV Globo

    Formação: Publicidade na Escola Superior de Propaganda (hoje ESPM) e MBA no IMD, de Lausanne

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