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    Futuros concessionários de aeroportos terão de investir R$ 8,5 bilhões

    PATRICK CRUZ
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    31/08/2015 02h00

    Os aeroportos de Salvador, Porto Alegre, Fortaleza e Florianópolis, os próximos a serem concedidos à iniciativa privada, devem receber, juntos, R$ 8,5 bilhões em investimentos ao longo do período de concessão.

    O valor equivale à necessidade de investimento de Brasília e Galeão juntos.

    No momento, o governo trabalha na definição dos parâmetros do próximo leilão, previsto para o terceiro ou o quatro trimestre de 2016.

    Próxima etapa de concessões de aeroportos

    Uma das principais indefinições é sobre a participação que a Infraero terá em cada aeroporto. "Temos dois grupos no governo: um que defende 15% de participação e outro que quer manter os 49%", disse o ministro Eliseu Padilha, da Secretaria de Aviação Civil.

    "O raciocínio de continuar [com 49%] é que não tem nenhum setor que crescerá como a aviação, com previsão de 7% ao ano para os próximos anos."

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    Assim, a permanência dos 49% funcionaria como um investimento para a estatal. Outro questão diz respeito aos prazos da concessão. Dentre os já concedidos, os prazos variam de 20 a 30 anos.

    Se nesses quesitos ainda há dúvidas, a certeza está no aperto financeiro da Infraero. Nos últimos dois anos, o governo precisou injetar R$ 4,2 bilhões na empresa, que perdeu 58% de suas receitas com a privatização.

    Sozinha, a Infraero não tem condições de arcar com os investimentos que os quatro aeroportos que irão a leilão no ano que vem precisam para se modernizar.

    FLORIANÓPOLIS

    Florianópolis, por exemplo, precisa de R$ 1,1 bilhão. O aeroporto tem capacidade para receber 1,1 milhão de passageiros por ano, mas recebeu 3,6 milhões em 2014.

    A ampliação do terminal, iniciada em 2004, ainda não foi finalizada.

    Segundo projeção da Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina), se o projeto original for mantido, o aeroporto estará defasado em 2020, já nos primeiros anos sob concessão de um eventual operador privado.

    SALVADOR

    O aeroporto de Salvador tem um Plano Diretor que prevê, desde 1981, a criação da segunda pista para pousos e decolagens de aeronaves de grande porte.

    O projeto nunca foi levado adiante —em parte por falta de recursos e em parte porque o projeto original previa a ocupação de 80% da área de proteção ambiental no entorno do parque Lagoas e Dunas do Abaeté, cartão-postal da cidade.

    Dos quatro que serão leiloados no próximo ano, Salvador é o que exige mais recursos. A previsão é que ele receberá R$ 3 bilhões.

    A necessidade de investimentos ficou evidente no último mês de maio, quando surgiu um buraco na principal pista do aeroporto. Ela foi interditada temporariamente e alguns voos tiveram de ser desviados para Aracaju (Sergipe).

    PORTO ALEGRE

    Na capital gaúcha, com investimento previsto de R$ 2,5 bilhões, um dos pontos de defasagem está na capacidade de pista. A ampliação de 2.200 metros para 3.200 metros está prometida ao menos desde a última década, mas nunca saiu do papel.

    Essa limitação faz o Estado perder R$ 3,3 bilhões em negócios por ano, segundo cálculo da Fiergs (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul). Com as limitações da pista, as exportações por via aérea são praticamente inviáveis no aeroporto.

    FORTALEZA

    Os investimentos previstos para Fortaleza somam R$ 1,8 bilhão. Em 2012, um grupo de 11 consórcios disputou o projeto de reforma e ampliação do aeroporto, vencido pelo consórcio CPM Novo Fortaleza. Os sucessivos atrasos nas obras levaram à suspensão dos trabalhos e exigiram nova licitação —para a qual não apareceram interessados.

    Durante a Copa do Mundo de 2014, o aeroporto ganhou um puxadinho de lona para receber os visitantes, modo improvisado em cima da hora para atender passageiros.

    Os primeiros aeroportos leiloados (Guarulhos, Viracopos, Brasília e Natal) passaram à gestão privada sob uma nuvem de dúvidas. Afinal, seria a primeira vez que aeroportos brasileiros desse porte, e de maneira quase simultânea, deixariam de ter administração estatal.

    Os novos leilões serão realizados tendo os resultados dos seis primeiros como espelho (Galeão, no Rio, e Confins, em Belo Horizonte, têm administração privada desde 2014) —e os resultados são, de modo geral, positivos.

    As concessionárias e seus integrantes já se dizem dispostas a participar da nova rodada de concessões. "Temos interesse, sim. E nos quatro aeroportos", diz José Luís Menghini, presidente da Inframérica, que administra Brasília e Natal.

    Em nota, a CCR, que integra o consórcio que administra Confins, e a Odebrecht Transport, que assumiu o Galeão, também ratificaram o desejo de participar da disputa na próxima rodada.

    "A nova rodada de concessões abre uma oportunidade interessante para a evolução de um modelo mais eficaz e atrativo para o setor privado", avalia o especialista em aeroportos Érico Santana. "Esta evolução deve estar atrelada a uma melhor definição quanto aos investimentos obrigatórios, sobretudo aqueles a serem realizados no curto prazo, e à participação da Infraero, para trazer clareza sobre os riscos do negócio."

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