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    Hábitos de tecnologia compatíveis são essenciais para casais modernos

    DO "FINANCIAL TIMES"

    07/09/2015 02h00

    Michael Nagle/The New York Times
    Um grupo de amigos em seus telefones durante aniversário, no bar Iate Clube Gowanus, em Nova York. Vídeo do youtube faz sucesso na web com críticas sobre o uso excessivo de smartphones. *** FILE -- A group of friends on their phones during a birthday at the Gowanus Yacht Club bar in New York, Sept. 21, 2012. A YouTube video about pervasive smartphone use may have landed at a moment when people start questioning if something has gone too far and start doing something about it. (Michael Nagle/The New York Times) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Um grupo de amigos em Nova York; hábitos 'tecnológicos' são importantes nos relacionamentos

    Falando de um jeito equilibrado e tentado evitar um tom demasiadamente crítico, mas ainda assim parecendo cético, meu namorado diz: "Espero que você não esteja trabalhando".

    Durante uma pausa em nossa conversa, no jantar em um restaurante local, eu tolamente apanhei o celular no bolso, o destravei com uma mão só e, sim, enquanto o segurava por sob o tampo da mesa, estava discretamente tentando digitar uma resposta a um e-mail de trabalho. "Ahn... talvez", eu consegui responder, apertando o botão de envio e guardando o celular.

    Por sorte, ao longo de nosso relacionamento descobri que somos muito parecidos em nosso interesse pela tecnologia.

    Excetuadas algumas diferenças de opinião sobre o uso de telefones em espaços públicos, nossos hábitos de tecnologia são notavelmente semelhantes, em termos de tempo dedicado a isso e tipo de conteúdo consumido. Eles geram conversas todos os dias ("ei, você leu aquele artigo no Reddit?") Fico imaginando se o nosso namoro teria durado tanto caso não fôssemos tão tecnologicamente compatíveis.

    E no entanto, as atitudes quanto a celulares e laptops não foram tema de discussão, ao contrário, por exemplo, de questões religiosas ou a vontade de ter filhos, quando começamos a sair três anos atrás. Tópicos pesados como esses em geral ocupam muito espaço nas vidas amorosas das pessoas de mais de 30.

    Que os hábitos de uso da tecnologia não tenham sido incluídos na famosa conversa sobre "ei, será que estamos só perdendo nosso tempo com isso?" parece insensato, se levarmos em conta até que ponto as pessoas empregam seus aparelhos eletrônicos na presença dos outros, hoje.

    De qualquer forma, 62% dos norte-americanos parecem concordar com meu namorado quanto a que usar o celular em um restaurante "não é OK, em geral". Isso deixa os 38% que não veem problema nisso como possíveis companheiros de jantar para mim (ainda que, claro, nenhum deles deva ser companhia tão interessante quanto meu namorado).

    Essas estatísticas foram publicadas no mês passado em um relatório sobre as constatações de uma pesquisa quanto à "etiqueta no uso de aparelhos móveis" conduzida pelo Pew Research Center. O relatório não cobre, no entanto, as atitudes dos casais quanto ao uso desse tipo de aparelho. Para descobrir o que as pessoas pensam sobre isso, é preciso recorrer a estudos acadêmicos.

    No "International Journal of Neuropsychotherapy", em 2014, pesquisadores da Universidade de Queensland, Austrália, delinearam uma investigação quanto ao impacto do uso de computadores de mesa, laptops, smartphones e televisores sobre os casais.

    Eles propõem que "se um parceiro em um relacionamento se afasta de uma interação pessoal e dedica sua atenção à tecnologia (ou seja, ao laptop), o outro parceiro pode interpretar o fato como ameaça à sua necessidade de sentir envolvimento e controle sobre o relacionamento".

    O grau de intensidade dessa ameaça parece se relacionar ao menos em parte à maneira pela qual um aparelho é usado. Isso foi ilustrado pelos resultados de uma pesquisa conduzida por pesquisadores sobre 21 casais heterossexuais. A idade média dos casais era de 31 anos, e eles estavam juntos por em média aproximadamente seis anos.

    O interessante é que os entrevistados que reportaram forte envolvimento e interação com seus parceiros quando estavam usando aparelhos também tenderam a reportar mais satisfação, concordância e sentimentos positivos sobre seus relacionamentos.

    Acredito que eu tenha recentemente observado provas dessa afirmação no mundo real, durante um casamento realizado em um grande hotel perto de Bath. Diversas vezes durante a festa, uma mulher apanhava o celular para usar a câmera. Em cada ocasião, o marido a ajudava a encontrar a luz e composição certa para uma foto. Os dois pareciam estar curtindo muito o trabalho conjunto. Quando perguntei a respeito, eles timidamente admitiram que seu uso do celular se estende a enviarem emoticons um ao outro de aposentos diferentes de casa, para "contar como estamos, se estamos com fome ou sono".

    É uma experiência que contrasta com as queixas de um par de colegas sobre a incompreensão de seus parceiros quanto a seus hábitos de uso de tecnologia - quanto mais usar a tecnologia para criar mais proximidade. Mas nos dois casos, os relacionamentos surgiram antes da revolução do smartphone, e são bastante sólidos em outras áreas.

    Na semana passada a Flurry, uma companhia de análise de dados sobre o uso de tecnologia móvel, reportou que os consumidores dos Estados Unidos dedicam em média 220 minutos por dia aos seus celulares, um aumento de 35% ante o ano passado.

    Nesse contexto, não só o risco de uso excessivo deveria ser levado em conta como deveríamos refletir sobre a melhor maneira de adaptar nossos costumes tecnológicos para evitar excluir as pessoas que nos são mais próximas. Como em qualquer relacionamento de longo prazo, é preciso encontrar terreno comum para lidar com os hábitos do parceiro. Mas se o namoro está só começando e você descobrir que seu novo parceiro é tecnologicamente incompatível, persistir pode ser perda de tempo.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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