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    É oficial: Dinheiro compra felicidade, aponta estudo

    EMILY CADMAN
    DO "FINANCIAL TIMES"

    14/09/2015 12h00

    Pode esquecer o que seus pais, guias de autoajuda ou sua religião talvez tenham lhe dito, porque dinheiro compra felicidade.

    Essa, pelo menos, é a conclusão dos estatísticos do Serviço Nacional de Estatística do Reino Unido, em um estudo no qual combinaram dados de pesquisas sobre patrimônio domiciliar e bem estar pessoal.

    "A satisfação com a vida, o senso de valor e a felicidade são maiores, e a ansiedade menor, à medida que aumenta o patrimônio de um domicílio", anunciou o serviço de estatística em um estudo divulgado neste mês.

    De fato, uma forma muito específica de dinheiro mostra correlação especial com o bem estar: o patrimônio financeiro líquido, que envolve ações e títulos, dinheiro em contas bancárias ou dinheiro embaixo do colchão.

    Mas a Geração Inquilina —os jovens que enfrentam dificuldade para galgar os degraus na escala da moradia— não precisa se desesperar de vez. O estudo também constatou que o aumento no valor dos imóveis ou dos planos pessoais de pensão não resulta em elevação mensurável do bem estar. O nível de renda domiciliar —e não o de ativos já adquiridos— também mostra correlação muito menos forte para com ele.

    Surpreendentemente, embora ativos físicos tais como antiguidades, iates, carros de luxo ou coleções de selo possam causar ostentação, o estudo constatou que eles não apresentam correlação com o bem estar pessoal, o que pode ou não servir para negar a teoria de que é melhor chorar em uma Ferrari do que no banco da praça.

    O estudo pedia aos participantes que classificassem o seu bem estar em escala de zero a 10, com base em perguntas como "você está satisfeito com sua vida?", "ou "as coisas que você faz são dignas do esforço?" As respostas em seguida eram avaliadas em companhia de dados sobre patrimônio e renda domiciliar, sob um modelo estatístico que pondera variáveis como sexo e etnia a fim de ver que impacto o patrimônio ou renda exerce sobre indivíduos de outro modo semelhantes.

    O serviço estatístico está confiante em que as correlações descritas são estatisticamente significativas. No caso do patrimônio financeiro líquido, por exemplo, as pessoas nos 20% inferiores da distribuição de patrimônio se classificavam como em média 0,4 ponto menos felizes do que as pessoas dos 20% médios.

    O relatório é o mais novo dado em um debate sobre a importância da renda e patrimônio absolutos ou relativos para a determinação do bem estar.

    Em estudos influentes, os economistas Betsey Stevenson e Justin Wolfers tentaram, por exemplo, encontrar provas em apoio da ideia de que o que importa para o bem estar é como você se compara àqueles que o cercam - ou seja, que felicidade significa viver melhor do que os vizinhos. Mas fracassaram.

    Depois de estudar múltiplos países e múltiplas definições de bem estar e de necessidades básicas, eles concluíram que "se existe um ponto de saciedade [a partir do qual renda e bem estar se dissociam], não conseguimos identificá-lo".

    O mais importante para as autoridades econômicas talvez seja o fato de que eles constataram que países que desfrutavam de crescimento econômico mais rápido em média também apresentavam evolução maior do bem estar.

    Em 2006, o primeiro-ministro David Cameron, então líder da oposição britânica, instou os estatísticos a buscar novos indicadores sobre a qualidade de vida nacional. "O bem estar não pode ser mensurado em dinheiro ou negociado nos mercados", ele afirmou.

    Mas novas estatísticas, que surgiram por conta de seu apelo, sugerem que medi-la desse modo talvez seja possível.

    Diane Coyle, fundadora da Enlightenment Economics, é uma economista que acredita que as estatísticas deveriam levar em conta desfechos mais tangíveis.

    "Não creio que devamos medir felicidade, de modo algum. Esse não é um indicador que tenha utilidade para a política pública. O governo não dispõe de alavancas que afetem facilmente a felicidade, e deve se concentrar nas coisas que é capaz de fazer", ela disse, exemplificando com áreas como o emprego ou investimentos em saúde mental.

    Em pesquisas anteriores do serviço estatístico, boa saúde, tipo de emprego e os relacionamentos pessoais apresentaram as mais fortes correlações para com um nível elevado de bem estar declarado. Ao menos as duas primeiras categorias são algo que o governo pode influenciar.

    E se você não acredita no estudo estatístico, pode ainda assim concordar com Ronald Reagan, que disse que "o dinheiro não compra felicidade, mas certamente provê recordações muito melhores".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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