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    Fábrica israelense fecha as portas na Cisjordânia após pressão

    DANIELA KRESCH
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    15/09/2015 02h00

    A tradicional fábrica da empresa israelense SodaStream em Mishor Adumim, na Cisjordânia (território palestino), fechará definitivamente as portas em 16 de setembro após três décadas de funcionamento.

    Apesar de a empresa —a maior produtora de máquinas de bebidas gasosas do mundo, com 24 milhões de consumidores em 45 países — alegar que se trata apenas de "business", já que estaria apenas transferindo a produção para uma novíssima planta, de 175 mil m², no Sul de Israel, ativistas palestinos comemoram a medida. Estão certos de que a mudança é fruto da pressão para que a empresa deixasse a Cisjordânia.

    Há anos, ONGs alinhadas ao movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), que pregam boicote a empresas israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, protestam em frente a algumas das 70 mil lojas que vendem as máquinas da SodaStream. Afirmam que a empresa "lucra indevidamente" ao atuar em terras "roubadas" dos palestinos. Israel afirma que a Cisjordânia está em disputa e que as fábricas não se apropriam de recursos naturais.

    SodaStream se muda de território palestino

    No ano passado, a atriz americana Scarlett Johansson sentiu na pele o boicote do BDS depois de ter protagonizado um comercial da SodaStream durante o Super Bowl, a final do campeonato de futebol americano. Foi hostilizada e criticada pelos ativistas.

    Mas, ao contrário deles, os 500 funcionários palestinos da fábrica de Mishor Adumim lamentam o fechamento. "Queremos só trabalhar, com palestinos ou israelenses. Fechar fábricas que sustentam famílias é um desastre para nós", diz o gerente de turno Ali Zayapa, 39, morador da Cisjordânia e pai de cinco filhos.

    Ali se preocupa com o futuro dos colegas de fábrica, ameaçados pelo desemprego de 30% na Cisjordânia e pela burocracia israelense. Isso porque o governo de Israel só deu, até o momento, 130 vistos de trabalho para que os órfãos da fábrica de Mishor Adumim possam ser transferidos para a nova planta da SodaStream, em Lehavim.

    Daniel Birnbaum, CEO da SodaStream, é categórico: fará de tudo para manter na folha de pagamentos todos os 500 funcionários palestinos da fábrica que vai fechar. "Estou numa batalha constante contra a burocracia de Israel. Não é um processo simples. Por questões de segurança, só aceitam dar permissão de trabalho em Israel para palestinos casados e com mais de 22 anos", diz Daniel Birnbaum. "É um nonsense burocrático".

    Para substituir quem ainda não tem visto, a nova fábrica está contratando beduínos da cidade vizinha de Rahat (a maior cidade beduína de Israel, com 30 mil habitantes).

    Apesar de negar que a saída da Cisjordânia tenha sido motivada pelo BDS, Daniel Birnbaum admite que o boicote à SodaStream, que tem 11 fábricas no mundo, é uma pedra no sapato: "O BDS é um incômodo constante. Espalham mentiras horrendas. Alguns revendedores e consumidores acreditam e deixam de comprar nossos produtos".

    Três revendedores cancelaram os contratos com a SodaStream, nos últimos anos: John Lewis (Reino Unido), Silvan (Dinamarca) e Yodobashi Camera (Japão). Em julho de 2014, 17 países da União Europeia decidiram parar de fazer negócio com empresas israelenses com presença na Cisjordânia. Alguns exigem comprar produtos da SodaStream feitos apenas na fábrica da empresa na China.

    A receita da SodaStream mais do que quintuplicou desde 2007 (de US$ 90 milhões para US$ 512 milhões). Mas a empresa, que abriu o capital em 2010, sofreu uma queda de receita de 42%, fruto da desaceleração das vendas nos EUA. Para tentar reverter o quadro, pretende investir agora na América Latina (Brasil, Argentina e México).

    Apesar do fechamento da fábrica em Mishor Adumim, o BDS avisou que continuará a protestar contra a SodaStream por causa da nova localização (mesmo estando dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas de Israel). "A fábrica em Lehavim é perto de Rahat, onde beduínos palestinos estão sendo forçados a se mudar contra sua vontade. SodaStream se beneficia desse plano, é complacente com essa violação de direitos humanos", diz Rafeef Ziadah, porta-voz do BDS em Londres.

    Para a beduína Dunyia Kieranay, 42, no entanto, trabalhar na nova fábrica é uma bênção. Moradora de Rahat e mãe de cinco filhos, ela estava desempregada há dois anos. "Graças a Deus temos um lugar para trabalhar. Aqui todos são como uma família. São todos seres humanos".

    O engenheiro eletrônico árabe-israelense Muhammad Barhoum, 37, também garante que a SodaStream é uma espécie de "ilha de harmonia" em meio ao conflito entre israelenses e palestinos. Chefe de 600 funcionários como diretor da linha de produção de plásticos, Barhoum afirma que, no chão da fábrica, ninguém se importa de onde vem o funcionário. Só se ele faz um bom trabalho. "A paz não vai ser feita pelos políticos e sim por nós, trabalhadores".

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