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    Entenda por que o banco central dos EUA pode subir os juros nesta quinta

    DE SÃO PAULO

    16/09/2015 17h00

    Jim Lo Scalzo/Efe
    Janet Yellen, presidente do banco central americano, em foto de 2014
    Janet Yellen, presidente do banco central americano, em foto de 2014

    Após quase nove anos sem aumentar os juros que servem como referência para a remuneração dos títulos públicos americanos, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) pode finalmente elevar a taxa básica na reunião do comitê de política monetária que termina nesta quinta-feira (17).

    A Folha ouviu Maurício Nakahodo, economista do Banco de Tokyo-Mitsubishi, e responde, abaixo, algumas dúvidas envolvendo a decisão do Fed. Confira:

    *

    Por que o Fed pode aumentar os juros agora?

    O mandato duplo do Fed é garantir o máximo emprego e a inflação dentro da meta de 2% ao ano. Os últimos dados de mercado de trabalho nos Estados Unidos mostram taxa de desemprego de 5,1%, a menor em sete anos. Até a crise financeira de 2008, a média histórica era de 4,5%.

    Além disso, o consumo das famílias —que representa quase 70% do PIB (Produto Interno Bruto) americano— tem mostrado recuperação. No segundo trimestre do ano, a economia americana cresceu 3,7%, amparada na expansão de investimentos, gastos do governo e consumo.

    Uma população empregada e ganhando mais pode se traduzir em pressão inflacionária. No entanto, o último dado de preços ao consumidor nos EUA, divulgado nesta quarta (16), mostrou que o índice de inflação caiu pela primeira vez em sete meses.

    Por isso, analistas se mostram divididos em relação a um aumento de juros nesta quinta-feira. Dos 113 economistas ouvidos pela agência internacional Bloomberg, 54 veem aumento da taxa e os demais acreditam que o Fed não mudará sua política monetária.

    Karen Bleier/AFP
    Mercado de trabalho sólido e aumento do consumo das famílias podem fazer Fed elevar os juros
    Mercado de trabalho sólido e aumento do consumo das famílias podem fazer Fed elevar os juros

    Por que os EUA mantiveram os juros em um patamar tão baixo por tanto tempo?

    A crise causou a desaceleração da economia americana, com reflexo no aumento do desemprego e queda da confiança dos empresários. O banco central americano, então, precisou cortar os juros para reduzir o custo de captação e estimular a atividade econômica.

    A economia americana está pronta para o aumento de juros?

    Não há um consenso. Embora os dados de emprego e consumo amparem a decisão, o aumento da taxa provocaria uma valorização do dólar, afetando a competitividade dos produtos americanos e o resultado das empresas.

    Além disso, a inflação continua baixa, influenciada pelos efeitos deflacionários dos preços de energia e alimentos. Por isso, o Fed não precisaria ter pressa para elevar os juros.

    Até que patamar o Fed deve subir os juros?

    As estimativas variam até um máximo de 3% a 4% ao ano em 2018. A velocidade vai depender da resposta da economia. Para Maurício Nakahodo, economista do Banco de Tokyo-Mitsubishi, após elevar os juros, o Fed deve avaliar o impacto econômico. O ritmo, então, seria de elevações intercaladas com reuniões de manutenção dos juros.

    "O espaçamento é para o Fed avaliar o impacto da decisão. O banco central vai ter cuidado para não gerar um desequilíbrio nos fundamentos econômicos americanos", afirma Nakahodo.

    Mark Wilson/AFP
    Analistas veem juros nos EUA em torno de 4% ao ano em 2018
    Analistas veem juros nos EUA em torno de 4% ao ano em 2018

    Para o consumidor americano, o que significa o aumento de juros?

    Basicamente, a elevação dos juros de empréstimos e maior rentabilidade de alguns ativos. A alta seria repassada a juros de hipotecas, financiamento de veículos e cartão de crédito.

    O aumento também deve influenciar preços dos ativos, incluindo ações, assim como os juros de títulos emitidos por empresas. A remuneração de depósitos de poupadores deve aumentar.

    Como os investidores vão reagir ao aumento dos juros?

    Depende. Muitos analistas afirmam que a alta não deve ter tanto reflexo em ativos como o dólar, que já estaria precificando o aumento. Outros especialistas acreditam que haverá uma corrida por títulos públicos americanos, considerados de risco zero.

    Isso porque as taxas de juros na Europa e no Japão —também considerados seguros— estão baixas e devem permanecer nesses patamares por algum tempo, enquanto os países europeus e a economia japonesa se recuperam da crise.

    Yuya Shino/Reuters
    Investidores em frente a painel eletrônico na Bolsa de Tóquio
    Investidores em frente a painel eletrônico na Bolsa de Tóquio

    O dólar no Brasil sobe cada vez que se fala de aumento de juros nos EUA. Como a moeda deve reagir quando isso ocorrer?

    Mesmo com a grande diferença de juros —a taxa básica brasileira está em 14,25% ao ano—, deve haver saída de investidores do Brasil em direção aos Estados Unidos. Isso vai causar uma valorização do dólar em relação ao real.

    A desvalorização da moeda brasileira, porém, deve ser gradual e ocorrer a cada elevação dos juros nos Estados Unidos. Não são esperadas variações muito bruscas.

    Além do dólar, que outros investimentos reagem ao aumento de juros?

    A Bolsa brasileira deve perder atratividade com a perspectiva de aumento de juros nos EUA, por ser um investimento de risco. Então é possível que o Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, sofra algumas quedas, mas nada muito forte.

    O ouro também sofre, porque não paga juros. Além disso, sua cotação é influenciada pela demanda de países como a China, que tem desacelerado.

    O mercado de títulos é bastante afetado, pois papéis emitidos por empresas com grau especulativo —sem o selo de bom pagador—devem pagar uma remuneração maior. A dificuldade de captação pode causar a falência de algumas empresas.

    Paulo Whitaker/Reuters
    Bolsa brasileira deve ser afetada pelo aumento de juros nos EUA
    Bolsa brasileira deve ser afetada pelo aumento de juros nos EUA

    A última ata do Fomc mostrou o Fed preocupado com a crise chinesa. Qual a influência que a China terá nessa decisão?

    A China pode influenciar na decisão, mas não é possível mensurar quanto. Com as economias emergentes fragilizadas, o aumento de juros nos EUA pode ter um efeito ainda negativo sobre esses países, provocando queda na demanda mundial e prejudicando o próprio crescimento dos EUA no futuro.

    O aumento de juros tornaria ativos denominados em dólares mais atraentes do que os denominados em yuan —moeda chinesa—, o que aceleraria a saída de capitais da China e deixaria o país asiático com menos recursos para investir em títulos públicos americanos.

    O Banco Central brasileiro está preparado para o aumento de juros nos EUA?

    O BC pode reforçar sua atuação no mercado cambial.

    Com a economia brasileira em recessão, o BC não tem espaço para elevar a taxa básica de juros (Selic), pois isso deprimiria ainda mais a atividade econômica. Por isso, para conter a disparada do dólar, tem optado por ofertar a moeda americana, em diferentes tipos de contrato.

    Folhainvest

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