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    o impeachment

    Dólar fecha acima de R$ 4 pela primeira vez na história

    ANDERSON FIGO
    DANIELLE BRANT
    DE SÃO PAULO

    22/09/2015 17h38

    Dúvidas sobre a aprovação de medidas fiscais necessárias para evitar que o Brasil tenha sua nota de crédito cortada por agências internacionais de classificação de risco e a preocupação com a crise global fizeram o dólar romper nesta terça-feira (22) a barreira dos R$ 4, para seu maior valor histórico.

    No final da sessão, a sinalização de que o Congresso deverá manter para esta noite a votação da chamada pauta-bomba, sem derrubar vetos presidenciais a medidas que preveem o aumento dos gastos públicos, amenizou um pouco a alta do dólar e a queda da Bolsa brasileira, que chegou a perder 2,82% durante o dia.

    O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou com valorização de R$ 1,58%, para R$ 4,054 na venda. Já o dólar comercial, utilizado em transações de comércio exterior, avançou 1,80%, também para R$ 4,054. É o maior valor histórico de ambas as cotações. Na máxima dessa terça-feira, o dólar à vista chegou a atingir R$ 4,063, e o dólar comercial, R$ 4,068.

    É preciso considerar, no entanto, que o cenário econômico entre 1994, quando o Plano Real foi criado, e 2015 mudou drasticamente. O valor de R$ 4 naquela época, por exemplo, hoje valeria cerca de R$ 12,75, após correção inflacionária.

    Infográfico: Cotação histórica do dólar

    No mercado de ações, o principal índice da Bolsa brasileira fechou no vermelho. O Ibovespa recuou 0,70%, para 46.264 pontos. O volume financeiro foi de R$ 6,840 bilhões. Por causa de uma falha no cálculo dos índices no Segmento Bovespa, a atualização e divulgação dos indicadores ficaram paralisadas entre 10h30 e 12h30. A situação foi normalizada no início da tarde.

    "Há uma percepção negativa em torno do crescimento global, o que tem afetado os preços das commodities e, consequentemente, os mercados mundiais. Por isso, as principais Bolsas no exterior fecharam o dia no vermelho, colaborando para a perda do Ibovespa e a valorização do dólar", disse Rogério Oliveira, especialista em Bolsa da Icap.

    Também contribuiu para o movimento a expectativa de aumento de juros nos Estados Unidos ainda em 2015, o que retiraria investimentos de países emergentes, como o Brasil. Assim, entre as 24 principais moedas emergentes do mundo, 23 desvalorizaram-se em relação ao dólar. O dólar de Hong Kong se manteve estável frente a moeda norte-americana.

    CENÁRIO FISCAL

    Incertezas sobre o quadro fiscal brasileiro, segundo economistas, intensificaram no Brasil o clima de cautela trazido do exterior, a ampliaram o risco de rebaixamento da nota de crédito do país.

    O Palácio do Planalto enviou nesta terça ao Congresso as primeiras medidas que integram o pacote fiscal proposto pelo governo federal para tornar as contas públicas superavitárias em 2016. Entre elas está a recriação da CPMF. Com isso, o governo prevê arrecadar R$ 32 bilhões por ano.

    O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, recebeu nesta tarde representantes da agência de classificação de risco Fitch Ratings.

    O governo tenta evitar um novo rebaixamento da nota brasileira, a exemplo do que ocorreu no início do mês, quando a agência Standard & Poor's cortou o rating do país, retirando seu selo de bom pagador.

    O receio é que o Brasil também perca o chamado grau de investimento da Fitch ou da Moody's. Com duas classificações de grau especulativo, grandes fundos estrangeiros têm que remover suas aplicações do país pelo risco maior de calote.

    No caso da Fitch, a nota brasileira ("BBB") está dois degraus acima do limite entre grau de investimento e especulativo, por isso mesmo que a agência resolva cortar a nota do país em um nível, o Brasil manteria o selo de bom pagador.

    Mauro Leos, responsável pela classificação da América Latina na Moody's, avaliou que, sem a recriação da CPMF, o "cenário fica muito ruim". No curto prazo, a principal questão é o Orçamento do ano que vem, disse. O analista afirmou que uma aprovação do imposto seria fundamental para evitar o terceiro ano consecutivo de deficit primário do Brasil.

    CURVA DE JUROS

    A alta do dólar tende a pressionar a inflação, já que encarece os produtos importados. O IBGE divulgou nesta terça-feira que o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15) desacelerou para 0,39% em setembro. O índice é considerado uma espécie de prévia da inflação oficial. No ano, porém, a inflação acumula avanço de 7,78% —o mais elevado para o período desde 2003 (8,46%).

    Este cenário tem feito com que os investidores apostem em juros mais elevados nos próximos anos, também pela expectativa de que o Brasil terá de pagar taxas maiores para atrair investidores estrangeiros dispostos a bancar o risco de investir num país pouco confiável na avaliação das agências de risco.

    As taxas de juros futuros negociadas na BM&FBovespa voltaram a subir nesta sessão. O contrato de DI para janeiro de 2021 apontou taxa de 16,140%, ante 15,810% na sessão anterior. O DI para janeiro de 2016 subia para 14,580%, ante 14,540%.

    Na véspera, o Banco Central e o Tesouro fizeram uma ação conjunta para tentar conter a escalada do dólar e dos juros. O Tesouro informou que fará outra operação extraordinária nesta terça, sem detalhes.

    AÇÕES

    As ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, perderam 4,52%, para R$ 6,97 cada uma. É o menor valor desde 6 de agosto de 2003, quando estavam em R$ 6,83. Já as ordinárias, com direito a voto, recuaram 3,13%, a R$ 8,35. É a cotação mais baixa desde 30 de janeiro, quando estava em R$ 8,04, considerando preços de fechamento.

    A estatal informou nesta terça que está em negociações finais com a japonesa Mitsui para a venda de 49% da Gaspetro, empresa que tem participação em 19 distribuidoras de gás canalizado. A Mitsui já é sócia da Gaspetro em distribuidoras envolvidas na transação e disputava o negócio com a chinesa Beijing Gas. A venda é parte do plano de desinvestimento da Petrobras, que tem por objetivo reduzir o elevado endividamento da companhia.

    Também no vermelho, os papéis preferenciais da mineradora Vale cederam 2,23%, para R$ 15,35 cada um. O movimento acompanhou a baixa nos preços do minério de ferro no mercado da China, que é o principal destino das exportações da companhia. As ações ordinárias recuaram 2,36%, para R$ 19,46.

    Os bancos, que caíram durante boa parte do dia, mas retomaram o fôlego no final da sessão, ajudaram a amenizar a queda do Ibovespa. Este é o setor com maior peso dentro do índice. O Itaú subiu 0,95%, enquanto a ação preferencial do Bradesco teve valorização de 0,4%. O Banco do Brasil ficou praticamente estável, com leve baixa de 0,06%.

    As ações de exportadoras se beneficiaram da alta do dólar e lideraram os ganhos do Ibovespa. A Fibria subiu 3,96%, enquanto a Suzano teve ganho de 1,86%.

    Folhainvest

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