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    Executivo precisará ser flexível para achar novo emprego, diz diretor

    JOANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    24/09/2015 00h00

    Moacyr Lopes Junior/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL. 14.09.2014. Patrick Hollard, diretor-executivo do Page Group, especialista em mercado de trabalho para executivos brasileiros. (Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress, MERCADO). ***EXCLUSIVO***
    Patrick Hollard, diretor-executivo do Page Group, especialista em mercado de trabalho para executivos

    O mercado de trabalho secou para executivos de todos os níveis. As demissões engordaram a oferta de bons profissionais, achatando as remunerações inflacionadas de anos atrás, quando o Brasil ficou famoso nas matrizes de multinacionais pelos altos salários praticados na filial.

    Hoje, em vez de criar vagas, o país substitui executivos por outros que ganham menos –e o tempo de preenchimento de postos dobrou. No cenário, descrito por Patrick Hollard, diretor da multinacional de recrutamento PageGroup, quem tiver "flexibilidade, não só em salário, mas também em tipo de posição e em termos geográficos", pode achar boas oportunidades.

    *

    Folha - Em tempos de ameaça ao emprego, o que aconselha?
    Patrick Hollard - Hoje, os executivos não colocam a gestão de sua própria carreira como prioridade na gestão de seu tempo. É preciso estar alerta para valores que você tem para mostrar. Pode ser uma experiência internacional que você teve no passado e parou de valorizar. Pode ser uma reestruturação que você fez numa empresa no passado. O mercado hoje quer pessoas com capacidade de estruturar operações e dar eficiência. É preciso fazer uma introspecção, uma fotografia de você. No que é bom e onde precisa melhorar? Analise se é preciso voltar a estudar e se atualizar em alguns temas. Infelizmente, estamos num momento em que todo mundo pode ter de passar por uma transição de carreira. É preciso se antecipar. Imagine se amanhã você está na rua. O que faz? Em que contribuiu, qual é seu diferencial?

    Compare a situação de Brasil e América Latina
    Em outros países, como o México, eles estão criando posições. No Peru, no Chile, hoje, há confiança. Enquanto aqui estamos passando por um momento de substituição de posições, lá há criação. Baixou radicalmente o número de empresas estrangeiras vindo ao Brasil e criando posições.

    Essa substituição está vindo com achatamento de salários?
    Sim. Em 2011 e 2012, pagava-se muito no Brasil. Comparado ao resto do mundo, havia uma inflação dos salários. Eu recebia ligações de vice-presidentes de RH mundiais que perguntavam: 'o que acontece no Brasil? Estou pagando bônus acima do valor do chefe deles em Nova York! Não é lógico!' Hoje há um ajuste que era necessário.

    Havia preconceito de empresas contratantes em selecionar executivo que estivesse demitido, disponível? E hoje?
    Antes, cerca de 95% das movimentações eram executivos trocando emprego, deixando uma vaga para ocupar outra em outra empresa. Quem está numa função, geralmente quer um benefício a mais para mudar.

    Hoje é diferente. Quem está disponível tem ambições mais razoáveis, aceita até reduzir salário. Hoje, infelizmente, não é atípico ficar em transição de carreira, porque muitas empresas estão em recuperação, cortando custos. É possível encontrar profissionais bons desempregados e isso faz com que as empresas queiram pagar menos.

    Onde ainda há vagas?
    Geograficamente, há negócios que precisam se profissionalizar, ainda mais neste momento, que precisa otimizar operação.

    Temos um escritório em Recife que continua com muita demanda. Tem muitas empresas familiares que precisam se adaptar para um dia serem vendidas ou abrir capital quando tudo melhorar. Quem está aberto a trabalhar no Nordeste terá mais oportunidade.

    A flexibilidade tem que ser maior, não só em salário, mas também em tipo de posição e termos geográficos. Há outros países com demanda de profissionais. E há algumas áreas indo razoavelmente bem: exportadoras, energia alternativa, farmacêuticas.

    Os candidatos são adequados?
    Nunca tivemos tantos executivos que se candidataram e, depois de selecionados, receberam proposta e não aceitaram a vaga. É medo de mudar.

    O executivo que está bem na função dele hoje, para mudar, tem que ter um premium de mudança agressivo. E esse premium poucas empresas estão oferecendo.

    E o que vocês fazem?
    Se é sempre o mesmo candidato que recusa uma oportunidade e não dá justificativa clara, tem um momento em que questionamos se ele pensou bem antes de apresentar. Temos obrigação de apresentar pessoas motivadas a nossos clientes.

    O problema não é quantas vezes a pessoa se candidata. É o raciocínio que ela tem por trás de cada candidatura. Existe um pé atrás com pessoas que ficam só olhando, testando.

    E tempo de recolocação?
    Aumentou. A média era três a cinco meses. Hoje, duplicou. Todos estão observando antes de tomar decisão. Tem cancelamento de posição, candidato que desiste no fim com medo de mudar... Isso não facilita nem agiliza. Já no México, por exemplo, há oferta e demanda ágeis.

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