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    Instituto Fernando Henrique debate inserção do Brasil na economia global

    SAMY ADGHIRNI
    DE SÃO PAULO

    23/09/2015 23h08

    Fabio Braga/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 24-03-2015: O ex-presidente FHC, 83, durante entrevista em seu escritorio, no iFHC. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fala sobre a crise politica no governo Dilma. (Foto: Fabio Braga/Folhapress, PODER)***EXCLUSIVO***.
    O ex-presidente FHC durante entrevista em seu escritório, no iFHC

    O Brasil precisa se ajeitar internamente para voltar a ter proeminência internacional ou deveria, ao contrário, intensificar sua agenda externa como forma de sair da crise?

    Foi o tema central de um debate aberto ao público promovido na tarde desta quarta-feira (23) no Instituto Fernando Henrique, em São Paulo, entre o diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero e o empresário Pedro Passos, presidente do conselho de administração e sócio fundador da Natura, empresa brasileira que vem investindo no exterior.

    Passos defendeu a tese de que o Brasil só poderá superar a crise se caso adote uma diplomacia econômica "mais agressiva".

    O empresário sugeriu que o país deveria se empenhar em aderir às grandes negociações comerciais internacionais em vez de priorizar o Mercosul, bloco emperrado por disputas internas.

    Passos citou como exemplo de sucesso a já concretizada aliança Transpacífica, que agrupa Austrália, EUA, México e Peru, entre outros, e cobre 24% do comércio e 38% do PIB mundial, segundo o centro de estudos americano Peterson Institute.

    O dirigente da Natura afirmou que existem 350 acordos comerciais em vigor no mundo, dos quais o Brasil está amplamente à margem.

    "O Brasil ficou para trás, e agora estamos pagando o preço de termos limitado nossas parcerias comerciais", disse Passos, que ironizou o fato de o país ter acordos comerciais com países de economia pouco expressiva, como Israel e Palestina.

    "A falta de inserção global é um dos principais fatores para a baixa produtividade e as dificuldades da economia brasileira", acrescentou, citando como exemplos países como China e Coreia do Sul, que têm grande competitividade comercial.

    Ricupero defendeu outro pensamento.

    Com a autoridade de quem já esteve no alto comando de organismos multilaterais como o Gatt, antecessor da Organização Mundial do Comércio, e o Unctad, braço da ONU para comércio e desenvolvimento, ele sugeriu que o Brasil sofre de crise cujo conteúdo é "100% nacional" e deveria ajeitar a casa antes de entrar no jogo das negociações internacionais.

    "É difícil imaginar entrarmos em acordos comerciais que exigem concessões que o Brasil não está em condições de fazer", afirmou.

    "Não se pode retirar os tubos que alimentam o paciente terminal e mandar que ele corra uma maratona", comparou.

    Ricupero disse que, ao contrário da crise do governo FHC, em 1999, o Brasil hoje tem reservas cambiais e, por isso, precisa ainda menos de ajuda externa.

    "Não se vê neste momento a possibilidade que o mundo nos salve de nós mesmos", disse.

    Citando o rombo nas finanças públicas, a desvalorização cambial abrupta e a esperada alta dos impostos, Ricupero afirmou que, no momento atual, "é difícil fazer política externa."

    O ex-ministro relativizou a importância do comércio mundial e lembrou que o volume dos intercâmbios vem crescendo a ritmo muito mais lento nos últimos três anos.

    Segundo ele, com notável exceção da China, as maiores economias mundiais tendem a se sustentar muito mais por dinâmicas internas e relativizou a importância dos Brics, grupo formado pelas maiores economias emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que, segundo ele, esbarram em profundas divergências de estratégias e prioridades.

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