• Mercado

    Monday, 06-May-2024 09:59:52 -03

    Periscope não quer ser aplicativo de selfie

    FERNANDA EZABELLA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE SAN FRANCISCO (EUA)

    28/09/2015 02h00

    Divulgação
    Kayvon Beykpour, 26 anos, no terraço de seu escritório em San Francisco, cofundador do site Periscope, que foi comprado pelo Twitter. Foto: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Kayvon Beykpour, 26 anos, cofundador do Periscope

    Quando vazou a notícia da compra do aplicativo de vídeo ao vivo Periscope pelo Twitter, em janeiro deste ano, mais uma história de startup de sucesso começava a se formar no Vale do Silício, envolvendo cifras milionárias, gente jovem e o potencial de ruptura de novas mídias.

    Mas a empresa de apenas seis pessoas e menos de um ano tinha nas mãos um produto aparentemente pouco original, com muitos concorrentes e que ainda nem tinha sido lançado. Mesmo assim, quando foi, sua popularidade explodiu.

    "Começar uma startup é como entrar numa montanha russa", disse o confundador Kayvon Beykpour, 26 anos, no terraço de seu escritório em San Francisco. "Um dia você se sente pra baixo, outro dia se sente bem, nunca sabe o dia de amanhã. E, de repente, alguém realmente gosta do seu trabalho. Ficamos muito surpresos com o interesse do Twitter."

    A venda teria sido por cerca de US$ 100 milhões, de acordo com o jornal americano "Wall Street Journal", uma das aquisições mais caras já feitas pelo Twitter.

    O Periscope permite transmitir vídeos ao vivo, um conceito antigo que ganhou nova força no último ano graças às melhorias de softwares, smartphones e redes de internet. Com a rapidez das conexões, a interação com os espectadores ficou mais fácil e instantânea.

    Dez dias após o lançamento, em março, o aplicativo ganhou 1 milhão de usuários. Em cinco meses, 10 milhões. "Com o crescimento rápido, existe um lado negativo psicológico que é ficar muito confortável, achar que estamos arrasando e relaxar", disse Beykpour, cofundador ao lado de Joseph Bernstein, seu amigo de infância e colega da Universidade Stanford no curso de ciência da computação.

    SEM ESPAÇO PARA ERROS

    Para o engenheiro Aaron Wasserman, parte do time original, a fama rápida trouxe uma pressão maior e uma margem de manobra menor.

    "De repente, estávamos operando neste palco global do Twitter. Com a aquisição, tudo começou a andar mais rápido, temos mais recursos e mais conexões com pessoas interessantes. Mas o tamanho afeta nossa habilidade de experimentar algo no aplicativo e arrumar rapidinho. É preciso ser mais cuidadoso", disse Wasserman, responsável pela primeira transmissão do Periscope fora dos EUA, na Amazônia.

    "Em São Paulo, não funcionou, mas, quando chegamos na Amazônia, os bugs haviam sido arrumados e fiz minha primeira transmissão de verdade, mostrei macaquinhos e pássaros do hotel para minha família."

    Esta é a segunda empresa que Beykpour e Bernstein criaram juntos. A primeira, que desenvolvia aplicativos para universidades, também foi comprada, em 2009, numa experiência "desafiadora e dolorida", segundo Beykpour, porém positiva pelas lições que aprendeu.

    "O mais importante foi dizer logo de início ao Twitter as coisas que eram importantes para nós, como, por exemplo, manter a nossa própria cultura, nosso próprio escritório. É fácil esquecer detalhes assim e depois se assustar com o resultado", disse Beykpour, que sempre leva para o trabalho seu cachorro Scotch, o primeiro a cumprimentar os visitantes.

    O escritório do Periscope fica em um prédio de tijolos aparentes a quatro quadras da sede do Twitter e foi um dia sede de uma startup de aplicativo de fotos que, como muitas outras, acabou desaparecendo.

    CONCORRÊNCIA

    Este também pode ser o futuro dos inúmeros aplicativos de vídeo ao vivo que surgiram recentemente, alguns com sucesso similar.

    Um dos mais populares e antigos, o YouNow afirma que chegou a distribuir mais de US$ 1 milhão para seus 500 usuários mais ativos na transmissão de vídeos.

    Por enquanto, Beykpour não se preocupa com a questão econômica.

    "Faz dois segundos que estamos vivos, é muito cedo para falar disso. Veja o Twitter", disse, lembrando que o serviço demorou quatro anos para abrir espaço para publicidade em sua plataforma.

    Hoje, celebridades como Ellen DeGeneres mostram os bastidores de seu programa de TV via Periscope, enquanto ativistas transmitem cenas da chegada de imigrantes na estação de trem de Budapeste, registro ao vivo de uma das maiores crises migratórias da história.

    No entanto, a maioria dos usuários está lá mesmo para fazer a nova modalidade de "selfie streaming" (em vídeo).

    "É algo que prestamos atenção, temos uma equipe dedicada a achar as melhores transmissões e dar destaques", disse. "Definitivamente, não queremos ser um aplicativo de selfies."

    PERISCOPE

    Fundação 2014, em San Francisco

    Faturamento não divulgam

    Número de funcionários 24

    Usuários 10 milhões em cinco meses

    Principais concorrentes YouNow, Meerkat

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024