• Mercado

    Monday, 06-May-2024 06:04:36 -03

    Fabricante do Marlboro nubla perspectivas de aquisição da SABMiller

    LINDSAY WHIPP
    DO 'FINANCIAL TIMES', EM CHICAGO

    30/09/2015 12h55

    Siphiwe Sibeko/Reuters
    Bottles of beer move along a production line at South African Breweries, owned by SABMiller, in Alrode, South Africa in this April 2, 2009 file photo. Anheuser-Busch InBev has approached rival SABMiller about a takeover that would form a brewing colossus which makes around a third of the beer consumed globally. Belgium's AB InBev - the world's biggest brewer - makes Budweiser, Stella Artois and Corona, while Britain-based SABMiller - the No. 2 player - owns Peroni, Grolsch and Pilsner Urquell beers. REUTERS/Siphiwe Sibeko/Files ORG XMIT: LONX302
    Linha de produção na SABMiller na África do Sul; mercado se aquece com possíveis aquisições

    Cerveja e cigarros não são a combinação mais saudável, mas para a Altria, fabricante dos cigarros Marlboro, ser dona de 27% da fabricante de cerveja SABMiller se provou lucrativo.

    A participação vem contribuindo com entre 10% e 19% do lucro anterior aos impostos da Altria nos últimos anos, e por isso a perspectiva de uma oferta da Anheuser-Busch InBev pela SABMiller, sua maior rival, colocou os investidores em alerta com relação à escolha da Altria quanto à sua participação.

    A dimensão dessa participação também significa que o grupo de tabaco pode ter influência considerável sobre as discussões da SABMiller quanto a aceitar ou não uma oferta, e sobre a maneira pela qual uma transação seria estruturada.

    A maioria dos analistas diz que o melhor resultado para a Altria, a maior companhia de tabaco dos Estados Unidos, seria pressionar por termos que permitam que ela mantenha uma participação na combinação entre a AB InBev e a SABMiller.

    Vivien Azer, analista da Cowen & Company, antecipa que a Altria utilize seus três membros no conselho da empresa para pressionar por uma transação liquidada 50% em dinheiro e 50% em ações, que lhe permitiria manter posição "significativa" na companhia combinada. Uma razão para isso seria que a venda da participação da Altria em dinheiro resultaria em significativos custos tributários, apontaram os analistas.

    "Eles teriam muito imposto a pagar, se vendessem", diz Michael Zbinovec, analista da agência de classificação de crédito Fitch. "Afirmaram repetidamente que estão satisfeitos com os lucros auferidos pela participação".

    Adam Fleck, da Morningstar, estima que a participação da Altria na SABMiller poderia valer até US$ 24 bilhões em uma tomada de controle acionário, e sua empresa estima que o valor justo para as ações da companhia seria de 36 libras. Outros sugerem que o preço pode ser mais alto.

    O valor é próximo da atual cotação das ações da SABMiller, 37,22 libras no pregão da manhã de quarta-feira. É difícil determinar qual seria o preço normal das ações da companhia, no entanto. Elas subiram em 20% desde que a abordagem quanto a uma fusão foi anunciada, em 16 de setembro, mas especulações sobre uma oferta circulavam amplamente antes disso, o que já tinha empurrado as ações a uma alta.

    Ainda assim, qualquer preço final deve ser muito superior aos US$ 6,2 bilhões que a Altria atribui à companhia em seu mais recente balanço.

    E a alíquota de impostos que incidiria sobre os ganhos com a venda seria de 35%, dizem os analistas.

    A Altria, então conhecida como Philip Morris, adquiriu participação de 34% na SAB, em valor de US$ 3,6 bilhões, ao vender a Miller Brewing ao grupo em 2002. A participação foi gradualmente diluída para 27,3% em 2009, de acordo com os balanços anuais da companhia.

    Mas os impostos não são o único motivo para que reter uma participação interesse à Altria, de acordo com os analistas. A substancial contribuição da SAB para os lucros da Altria oferece um fluxo de caixa firme para a companhia, que está tentando elevar os retornos de seus acionistas em meio a um declínio secular na sua atividade central, a fabricação de produtos de tabaco.

    A participação também serviu como forma de diversificação para a Altria, já que a maioria de seus lucros ainda vem dos cigarros, a despeito da expansão de sua linha de produtos "sem fumaça" e de vinhos. A extensão geográfica do grupo também diminuiu depois que ela promoveu a cisão da Philip Morris International para se concentrar no mercado dos Estados Unidos.

    Ao garantir uma participação na empresa criada pela fusão entre AB InBev e SABMiller, a Altria poderia compartilhar dos ganhos que os analistas esperam de uma transação promovida pela 3G Capital, o grupo brasileiro de capital fechado que detém 22,7% da AB InBev e é conhecido por sua eficiência em cortar custos.

    Zbinovec, da Fitch, também aponta que o rendimento dos dividendos da AB InBev excede o da SABMiller, com 3,17% ante 2,07%, respectivamente, o que sugere que manter uma participação elevaria a receita com dividendos.

    O objetivo de longo prazo da Altria, obter crescimento de entre 7% e 9% ao ano em seu lucro por ação, "parece implicar uma crescente contribuição acionária da SABMiller", aponta Fleck, da Morningstar.
    "Se o comando da empresa deseja continuar atingindo essas metas sem elevar a contribuição de capital, teria de promover preços mais altos e provavelmente acelerar o declínio no volume de seus produtos de tabaco", diz.

    A marca Marlboro da Altria, que responde por quase todas as suas vendas de cigarros "com fumaça", detém quase 44% do mercado dos Estados Unidos - mais que as 10 concorrentes seguintes somadas. O segmento, que inclui também charutos, desfruta de generosa margem de lucro de 44%. Os produtos sem fumaça, embora representem contribuição menor para o lucro, estão crescendo e apresentam margem de lucro de 63%.

    Mas com capacidade limitada para anunciar produtos e a probabilidade de regulamentação ainda mais dura, o tabaco é um setor difícil.

    A concorrência interna está se intensificando em um momento de significativa consolidação. A Reynolds American recentemente concluiu a aquisição da Lorillard, e algumas marcas das duas companhias foram vendidas à subsidiária da Imperial Tobacco nos Estados Unidos, enquanto a Japan Tobacco esta semana anunciou planos para adquirir US$ 5 bilhões em ativos da Reynolds.

    Mais consolidações podem estar por vir. Houve especulações no mercado de que a Imperial poderia ser alvo da BAT ou da Japan Tobacco.

    Um foco importante para os investidores e analistas, se a Altria mantiver um investimento na cerveja depois de uma união entre a AB InBev e a SABMiller, é a dimensão da transação.

    No momento, os 27,3% de participação e seu direito a indicar três membros do conselho lhe propiciam "influência significativa" em termos contábeis, permitindo que empregue o método de contabilidade de capital e consolide sua parcela no lucro da SABMiller como parte de sua declaração de renda.

    Embora permitir que sua participação caia abaixo dos 20% possa forçar a empresa a mudar a maneira pela qual contabiliza esse ativo e autorize apenas a inclusão dos dividendos, não existe regra firme quanto a isso, dizem analistas, acrescentando que ela poderia provar de outras maneiras que continua a exercer "influência significativa".

    Como dizia o Homem de Marlboro sobre seus cigarros em uma campanha de 1954, "você só pode gostar disso". Para a Altria, se o assunto for manter sua participação em uma união entre a AB InBev e a SABMiller, o slogan provavelmente se aplica.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    GUERRA DA CERVEJA - Divisão do mercado da cerveja, em %

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024