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    Com alta de 9% do dólar, fundos cambiais lideram ranking pelo 4º mês

    DANIELLE BRANT
    ANDERSON FIGO
    DE SÃO PAULO

    30/09/2015 18h25

    Mark Wilson/AFP
    Fundos cambiais lideram ranking de investimentos pelo quarto mês seguido
    Fundos cambiais lideram ranking de investimentos pelo quarto mês seguido

    As incertezas envolvendo o cenário político brasileiro —que culminaram com o rebaixamento do país pela agência Standard & Poor's— e dúvidas sobre quando o banco central americano vai elevar sua taxa de juros provocaram valorização de 9% do dólar em setembro, impulsionando o ganho de fundos cambiais. Essas aplicações lideraram pelo quarto mês o ranking da Folha no acumulado em 12 meses.

    O levantamento também computa o desempenho mensal e desconta Imposto de Renda. Vale destacar que, quando há perda, o IR não é cobrado.

    Em 12 meses, a moeda americana registrou valorização de 61,26%. Com isso, os fundos cambiais tiveram alta de 52,93% em 12 meses (após desconto de IR, que é de 17,5% na categoria para o período). Apenas em setembro, avançaram 9,28% —já sem o IR.

    Apesar de se beneficiar do atual contexto de valorização do câmbio, a aplicação em fundo cambial é mais indicada a quem precisa se proteger da oscilação do dólar ou do euro. É o caso das pessoas que têm despesas programadas em moeda estrangeira —como um filho que mora no exterior, por exemplo.

    Fora dessa circunstância, o produto não é recomendado por consultores como alternativa a pequenos investidores, uma vez que o preço do dólar oscila muito e as taxas de juros, que remuneram a renda fixa, estão elevadas —atualmente, a Selic (taxa básica de juros) está em 14,25% ao ano. Vale destacar ainda que a rentabilidade passada não é garantia de rendimento futuro.

    ranking de investimentos - Fundos cambiais e ouro são destaque em setembro

    Já a pior aplicação em 12 meses foi em fundos de ações livres, alternativa para o pequeno investidor que deseja aplicar em Bolsa. No período, houve queda de 5,61%. Apenas em setembro, os fundos de ações livres perderam 1,04%.

    A inflação medida pelo IPCA (índice oficial) foi de 9,53% nos 12 meses encerrados em agosto. Para este mês, a projeção é de 0,48%, de acordo com a mais recente pesquisa semanal do Banco Central com economistas (o Boletim Focus).

    Além do desempenho no mês, que ajuda a identificar as principais influências momentâneas sobre os investimentos, o retorno em 12 meses é considerado no levantamento da Folha como forma de avaliar o desempenho dos investimentos em um prazo maior. Manter uma aplicação por pelo menos um ano também reduz a alíquota de IR a pagar em alguns casos.

    DÓLAR

    O embate entre o governo e o Congresso aumentou o pessimismo envolvendo a aprovação do ajuste fiscal e fez com que a agência S&P rebaixasse a nota de crédito do país, questionando o comprometimento e coesão do Planalto para arrumar as contas públicas.

    A incerteza pressionou a cotação do dólar, que saltou de R$ 3,632 no último dia de agosto para R$ 3,957 nesta quarta —passando pelo pico de R$ 4,249 no dia 24. "Não tivemos avanço no ajuste fiscal e ainda esperamos pela conclusão da reforma ministerial, além da votação dos vetos presidenciais para evitar novos gastos públicos, o que prejudicaria ainda mais a crise no país", afirma Fernando Bergallo, gerente de câmbio da corretora TOV.

    No exterior, a perspectiva de desaquecimento da China pressionou o preço das commodities e afetou a cotação de moedas emergentes, que também foram prejudicadas pela preocupação com um aumento de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano).

    Evolução da taxa de juros dos EUA, em % -

    Apesar de ter mantido a taxa inalterada neste mês, a expectativa é que o Fed eleve os juros ainda em 2015. Caso isso ocorra, os investidores poderiam retirar o dinheiro de países emergentes, como o Brasil, e aplicar nos títulos americanos, considerados mais seguros. Com a perspectiva de maior saída de dólares da economia brasileira, a cotação da moeda sobe.

    Além de Fed, o cenário interno deve continuar pressionando a cotação do dólar ante o real, avalia Fabiano Rufato, gerente de câmbio da Western Union no Brasil. "Caso a Fitch corte a nota de crédito do país, seria o segundo rebaixamento, o que mudaria o cenário. O dólar ficaria mais vulnerável, mais volátil. E a possibilidade de vir um terceiro rebaixamento [pela Moody's] ficaria bem grande também", diz.

    OURO

    A valorização do dólar impulsionou a cotação do ouro, que foi o segundo melhor investimento de acordo com o ranking da Folha. Em 12 meses, o metal teve avanço de 48,42%, enquanto no mês a alta foi de 7,22%. O preço da commodity aqui é formado pela cotação do dólar no Brasil e pelo valor do ouro no exterior.

    "Muitos investidores procuraram o ouro para proteger seu patrimônio das incertezas políticas do país", afirma Maurício Gaiote, analista de ouro da Ourominas. "É um ativo que defende contra todo o furacão econômico pelo qual passa o país."

    Para investir em ouro, é possível comprar contratos negociados na BM&FBovespa, que são padronizados em 250 gramas. O grama hoje está R$ 141. Quem quiser comprar uma barra terá de desembolsar R$ 35.250. Há corretoras, porém, que oferecem contratos com quantidades menores do metal.

    O metal é considerado uma opção segura de investimento e, por isso, é mais procurado em momentos de instabilidade no mercado financeiro, como o atual. O ouro é isento de Imposto de Renda para movimentações até R$ 20 mil.

    BOLSA

    No mercado acionário brasileiro, o Ibovespa, principal índice local, registrou queda de 3,36% no mês —o terceiro seguido de desvalorização. Em 12 meses, a baixa alcança 16,74%.

    O rebaixamento do país, a instabilidade política e as turbulências no exterior elevaram a aversão ao risco no mês, afirma Alexandre Wolwacz, diretor da escola de investimentos Leandro & Stormer.

    "Historicamente, o mês de setembro é mais volátil para a Bolsa, com viés negativo. A rentabilidade da Bolsa de setembro de 1990 até hoje é negativa em cerca de 0,84%, descontada a inflação", diz.

    Para ele, há outras opções de investimento mais interessantes que a renda variável atualmente. "A taxa de juros está tão alta que o risco da Bolsa torna essa aplicação bem menos atraente que a renda fixa", diz.

    A situação política deve continuar afetando o mercado acionário brasileiro, na opinião de Wolwacz. "Estamos observando um realinhamento político com a reforma ministerial. Se, com isso, medidas importantes de ajuste fiscal passarem pelo Congresso, pode ser que haja um certo alívio na pressão sobre os mercados, especialmente de juros e câmbio", diz.

    RENDA FIXA

    O aumento do juro básico (Selic) vem favorecendo os fundos DI e de renda fixa, que registraram valorização de 10,52% e 10,46% em 12 meses (após o desconto de IR), respectivamente. No mês, as altas foram de 0,80% e 0,70%, respectivamente.

    Esses produtos aplicam em títulos cuja remuneração acompanha a tendência do juro básico, ou que estão atrelados à própria Selic.

    A poupança —tanto para depósitos até 3 de maio de 2012 quanto após essa data— rendeu 7,78% em 12 meses e 0,69% em setembro.

    Folhainvest

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