O ano de economia desaquecida pode ser um bom momento para analisar negócios que estão tendo sucesso e aprender lições de empreendedorismo, defende o economista Marcos Silvestre, 47.

"A crise deixa o mercado enxuto, focado. Quem vai começar um projeto pode criar seu negócio com as características vencedoras dos que estão triunfando", diz.

O economista lança neste mês o livro "A Virada na Carreira: Ganhe Dinheiro por Conta Própria" (Faro Editorial, 224 págs., R$ 34,90).

	Karime Xavier/Folhapress
	Marcos Silvestre em sua casa, em São Paulo

Leia abaixo trechos da entrevista à Folha.

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Folha - O momento atual é bom para empreender?

Marcos Silvestre - Há uma redução da demanda, porque há consumidores com o poder de compra achatado pela inflação e pelo desemprego. No entanto, o mercado brasileiro continua existindo e é grande e expressivo.

Uma potencial vantagem é que a crise tira do jogo os menos adaptados. Não estou dizendo que é uma seleção justa, mas isso deixa o mercado enxuto, focado.

Quem vai começar um projeto de negócio novo pode observar as empresas que estão fechando e as que continuam. Pode criar seu negócio com as características vencedoras dos que estão triunfando.

Quais os riscos de empreender durante a crise?

O maior risco é criar um modelo muito parecido com o da concorrência. Ter concorrentes é um sinal de que há demanda, mas é preciso ter ao menos um ponto de diferenciação para o cliente. Isso não precisa ser feito oferecendo uma versão mais sofisticada, mas talvez preço menor ou melhor condição de pagamento.

Ao mesmo tempo, é uma bobagem de empreendedor inexperiente achar que é preciso criar algo novo para ter sucesso. Se a sua ideia de negócio nunca foi tentada, pode ser que seja uma furada.

Para um pequeno empresário, é até preferível entrar em um mercado em que haja referências, mas ainda não haja saturação. O seu negócio pode ser mais um e ainda se destacar.

Como se preparar para abrir um negócio?

É preciso acreditar que o negócio vai dar certo, mas também se preparar bem antes de dar o primeiro passo, o que não significa ter um longo período de preparação.

O que vejo muitas vezes é um comportamento extremado, porque o peso emocional da decisão de empreender é grande. Há aquele que fica postergando o grande projeto por anos, sempre achando que precisa saber mais, e há o que age de impulso.

Aquele que nunca arriscar nunca realizará nada. Já quem fizer sem preparação vai ter que aprender pilares essenciais durante a implementação, o que pode colocar o negócio em risco.

Escolha dois ou três ramos para procurar oportunidades. Tenha uma reserva financeira e converse com uma boa franquia do ramo para conhecer o mercado.

Qualquer pessoa pode empreender com sucesso?

Empreender é para qualquer um, sim, mas é preciso estar disposto a colocar toda a sua energia no projeto, e nem todos estão nessa fase.

Não é real o clichê de que há um perfil de empreendedor, que é o cara simpático e comunicativo. Há vários empreendedores de sucesso fora desse perfil. O que todos têm em comum é serem comprometidos e dedicados.

O grande pré-requisito é ter envolvimento em alto grau com o negócio. Extrovertido ou tímido, com pouco estudo ou qualificado, isso não é tão importante quanto ter o olho no negócio. É preciso desmistificar esse pensamento de que só arrojados podem empreender.

A cultura empreendedora gira em torno de estudo de casos de grandes empresários. Essa idolatria é um desserviço, algo que eu procuro desconstruir. Provavelmente não vamos ser um Steve Jobs, mas só ele obteve
sucesso? Para cada Jobs, há vários pequenos bons empreendedores. Gente comum também pode empreender com sucesso se houver preparação.

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RAIO-X
MARCOS SILVESTRE

IDADE
47

FORMAÇÃO
Graduação em economia e MBA em finanças e controladoria, ambos na USP

CARREIRA
Consultor de pequenas e médias empresas e empreendedorismo

LIVROS
"Os 10 Mandamentos da Prosperidade" (Faro Editorial, 176 pág., R$ 24,90) e "A Virada na Carreira" (Faro Editorial, 224 págs., R$ 34,90)

Colaborou GABRIELA STOCCO