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    Empresas 'dançam' para se adaptar ao dólar ao redor de R$ 4

    FERNANDO CANZIAN
    DE SÃO PAULO

    04/10/2015 02h00

    Karime Xavier/Folhapress
    Ricardo Martins, da metalúrgica Grampofix
    Ricardo Martins, da metalúrgica Grampofix.

    Em até 20 rodadas durante uma única tarde, empresas e fornecedores desconhecidos entre si buscam maneiras de se adaptar à atual crise no tradicional salão de bailes do Clube Homs, no centro da avenida Paulista, em São Paulo.

    Cada "dança" dura dez minutos. Nesse intervalo, os dois lados perseguem alternativas para quedas no faturamento que chegam a 50% em 12 meses. E, principalmente, para o dólar ao redor de R$ 4,00. A substituição de insumos importados por nacionais é uma das prioridades. Exportar, outra.

    A cada dez minutos é anunciada uma nova "dança", quando empresas e potenciais fornecedores se sentam frente a frente para negociar e trocar contatos.

    Fernando Canzian/Folhapress
     Fornecedores fazem fila para encontros de dez minutos com empresários
    Fornecedores fazem fila para encontros de dez minutos com empresários

    Ampliado para o universo macro, a busca de alternativas por essas empresas para sobreviver à crise já se reflete no resultado do comércio exterior brasileiro e, de forma bem mais aguda, no desemprego.

    Em setembro, o saldo da balança comercial atingiu U$ 10 bilhões no acumulado do ano. O número vem melhorando mais pela queda das importações (em setembro elas caíram 33% no acumulado em 12 meses) do que pela melhora nas exportações. As vendas externas diminuíram 14% no período.

    Fernando Martinez, da Cambuci, que vende peças para veículos, é um exemplo de como a balança comercial está se movimentando. Com o dólar em alta, a empresa cortou em 70% a compra de produtos importados. Eles respondiam em épocas normais por 60% de suas vendas a distribuidoras e revendas.

    Em 12 meses, o faturamento da Cambuci caiu 40%. E o total de funcionários baixou de 230 para 155. "Só compramos o estritamente necessário, pois muitos clientes estão quebrando", diz Martinez.

    A situação é bastante parecida entre muitas das empresas que participaram do encontro no Clube Holms na semana passada, promovido pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (ver quadro).

    Empresas demitem

    Na outra ponta, das exportações, o dólar em alta já começa a compensar a queda no faturamento interno.

    Caso da MRS, fabricante de autopeças cujo faturamento caiu 25% em 12 meses. No mercado interno, a queda foi de 50% para a indústria automobilística e de 35% para o mercado de reposição.

    "Mas houve uma compensação nas exportações, que saltaram 300% em reais", diz Fausto Cestari, presidente da MRS.

    Na prática, as empresas ainda estão se adaptando à nova realidade do dólar a R$ 4,00 depois de um longo período de real valorizado. Foi somente nos últimos 12 meses que a moeda americana subiu mais de 70%.

    Marcos Andrade, da Expor, maior fabricante de manequins da América Latina, diz que o esforço hoje é aumentar de 25% para 35% a participação das exportações nas suas vendas via escritórios na Colômbia e no México.

    Com capacidade para produzir quase 6.000 peças por mês, a empresa vem fabricando 3.500. "A ociosidade é por conta do mercado interno. Daí a saída exportadora", diz Andrade.

    Karime Xavier/Folhapress
    Marcos Andrade, da Expor
    Marcos Andrade, da Expor

    O problema de muitas empresas é que elas andaram pouco competitivas no mercado externo durante os anos de real valorizado. E retomar negócios fora pode levar tempo.

    O setor de máquinas e equipamentos, por exemplo, é proporcionalmente um dos que mais exportam no Brasil, com cerca de 30% vendidos fora.

    "Mas, em nosso mercado, o ciclo de fabricação é de seis meses a um ano. A retomada demora, e grandes oscilações no dólar podem ser fatais", diz Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq, que reúne o setor.

    Já para quem depende de matéria-prima negociada em dólar no mercado internacional (commodities), a valorização da moeda norte-americana significa aumento de custos.

    Na Esteves, fabricante de metais sanitários (e que não exporta), o custo em reais de insumos como latão e inox vêm subindo atrás do dólar. "Não temos alternativa", diz seu presidente, Marcio Esteves.

    Mesmo para exportadores, o dólar em alta não é exclusivamente favorável, já que muitos insumos usados em seus produtos são importados.

    No caso da Metalúrgica Grampofix, o presidente Ricardo Martins afirma que, por enquanto, a empresa está no "zero a zero" por conta do movimento do dólar. Mas seu faturamento já caiu 40% com a crise.

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