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    análise

    Impacto do TTP no Brasil será profundo e exige uma reação

    MARCOS SAWAYA JANK
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    07/10/2015 02h00

    Maior acordo comercial da história. Maior bloco econômico do mundo. Após cinco anos de negociações, foi concluído o Tratado Transpacífico (TTP), megabloco que reúne as três pontas do oceano Pacífico: 5 países americanos (EUA, Canadá, México, Peru e Chile), 5 asiáticos (Japão, Malásia, Vietnã, Cingapura e Brunei) e 2 da Oceania (Austrália e Nova Zelândia).

    É o acordo preferencial mais amplo e profundo já negociado. Vai reduzir a zero 90% das tarifas dos bens comercializados entre os seus membros em 2017.

    Prevê ainda a integração das áreas de serviços, proteção a investimentos, compras governamentais, comércio eletrônico, telecomunicações, propriedade intelectual, concorrência, sanidade animal e vegetal, facilitação de comércio e regras trabalhistas e ambientais.

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    Na área agrícola, cria mecanismos de consulta entre reguladores dos países para resolver questões ligadas a saúde, qualidade e segurança dos alimentos —a chamada "coerência regulatória", que visa aproximar leis e regulamentos dos países-membros.

    Esse aspecto pode ter um impacto muito maior do que a redução das tarifas de importação. Carnes, açúcar e lácteos serão os produtos mais impactados no Brasil.

    Com seus 30 capítulos, o TTP é um acordo de 3ª geração que vai criar fortes preferências e convergências nas múltiplas áreas citadas. A sua conclusão marca, agora oficialmente, o deslocamento da onda central da globalização do Atlântico para o Pacífico no século 21. O TTP é a estrutura institucional que vai moldar as cadeias de suprimento no Pacífico.

    Além disso, a magnitude do novo bloco obrigará Europa e China a se movimentarem mais rapidamente no grande xadrez global. A UE tem poucos acordos na Ásia e precisa acelerar. A China é atingida no coração da região onde estão os seus principais mercados e cadeias de valor.

    No caso do Brasil, os impactos serão profundos. A maior parte do comércio de manufaturas do Brasil se dá nas Américas e mais de 50% das exportações do agronegócio dirigem-se hoje à Ásia. Ou seja, seremos impactados dos dois lados do Pacífico.

    Curiosamente, o Brasil foi pioneiro na construção da Organização Mundial do Comércio (OMC) e dos primeiros projetos de megablocos comerciais. Quinze anos atrás negociávamos a Rodada de Doha da OMC, a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e o acordo Mercosul-União Europeia. As três iniciativas fracassaram.

    Espero que esse forte recado do Pacífico sirva para o Brasil se mexer. Temos importância, tamanho, experiência e pessoas capacitadas para negociar. Falta-nos apenas decisão e organização. Os Ministros da Agricultura, Indústria e Comércio e Relações Exteriores conhecem profundamente a matéria. Que tomem a iniciativa, junto com o setor privado, para recuperarmos a década perdida.

    MARCOS JANK http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcos-jank/ é colunista da Folha, especialista em questões globais do agronegócio e vive em Cingapura

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