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    Jornalista conta invenção do bitcoin em ritmo de aventura

    RODOLFO LUCENA
    DE SÃO PAULO

    10/10/2015 02h00

    David Gray/Reuters
    Cliente de banco australiano deixa área de shopping em que caixa eletrônico convencional divideespaço com um para bitcoins
    Em shopping na Austrália, caixa eletrônico convencional divide espaço com um para bitcoins

    Uma invenção tão secretiva que muito pouco, quase nada, se sabe sobre seu criador -ou criadora ou criadores. O documento que lançou suas bases foi divulgado em um fórum virtual em 2009, assinado por um certo Satoshi Nakamoto, mas até hoje não foi possível juntar o nome a uma pessoa ou grupo de pessoas de carne e osso.

    O mistério é muito apropriado. Afinal, o produto criado é tão volátil quanto os boatos que correm sobre ele. Trata-se de uma criptomoeda -forma de dinheiro cujas transações e mesmo sua criação são controladas por códigos em lugar de um banco central.

    O conceito provavelmente passa a quilômetros de distância da maioria dos usuários de cédulas, moedas e mesmo cartões de crédito, mas já atraiu a atenção do homem mais rico do mundo, Bill Gates, e de bilionários como o criador da Amazon, Jeff Bezos, e o magnata da mídia Rupert Murdoch.

    Eles estavam em uma seleta reunião em Utah, no ano passado, quando o bitcoin -a tal moeda virtual-foi apresentado à nata dos investidores do mundo. Até então, além de servir para especulações financeiras e um punhado de operações experimentais, o dinheiro internético tinha sido usado com sucesso no comércio de drogas e na lavagem de fortunas no submundo digital.

    Essa breve, mas movimentada, trajetória está contada em ritmo de aventura em "Digital Gold: Bitcoin and the Inside Story of the Misfits and Millionaires Trying to Reinvent Money" (Ouro digital: bitcoin e a história secreta de desajustados e milionários tentando reinventar o dinheiro).

    Além de ter presenciado alguns dos encontros e reuniões que cita em seu livro, o jornalista de economia do "New York Times" Nathaniel Popper realizou mais de 300 entrevistas em lugares tão díspares como Pequim, Xangai e Buenos Aires, Austin, Reykjavic e Amsterdam, para citar apenas alguns.

    Também teve acesso a documentos oficiais e a e-mails privados, além de consultar arquivos de redes de aficionados por criptografia e serviços de bate-papo e troca de mensagens eletrônicas de usuários de bitcoins.

    Montado em forma de diário -cada capítulo é identificado por uma data–, o livro de Popper é quase um thriller. Mas tem seus momentos de comédia, quando mostra trapalhadas da imprensa para descobrir a identidade secreta de Nakamoto.

    Em tom mais sério, não deixa de discutir as motivações ideológicas dos envolvidos na criação da moeda sem governo -em boa parte, figuras que abraçam as teses libertárias que animam o grupo ultradireitista Tea Party.

    Também leva o leitor para o teatro das ações, permitindo acompanhar as idas e vindas dos principais atores, os roubos e as trapaças, as fortunas feitas e escangalhadas, as inacreditáveis variações das cotações da moeda virtual e as oscilantes políticas oficiais em relação à novidade.

    Na primeira troca de bitcoins registrada, Martti Malmi, um dos programadores pioneiros que ajudaram a construir o sistema, transferiu 5.050 bitcoins. Em moeda real, aquele montante valia US$ 5,02.

    Pouco mais de um ano depois, em setembro de 2010, já havia 1 milhão de bitcoins em circulação, e o câmbio com o dólar era um por um. No dia 1º de abril de 2013, superou pela primeira vez a marca dos US$ 100. Hoje há mais de 6 milhões de pessoas de alguma maneira envolvidas com a moeda que, no início deste mês, era cotada a US$ 239,72 (R$ 957,10).

    Suculento como uma grande e bem apurada reportagem, o livro chega em momento que mostra os caminhos e os descaminhos do mundo bitcoin.

    Em maio, quando "Digital Gold" foi lançado nos Estados Unidos, um de seus personagens ouviu a sentença de prisão perpétua, sem direito a liberdade condicional. Ross Ulbricht, condenado por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e outros crimes, foi o mentor do Silk Road, empório de drogas movido a bitcoins, quando a moeda se equilibrava nos limites da lei.

    No início deste mês, a agência reguladora do mercado financeiro em Nova York deu sinal verde para o início das operações de uma empresa que fará negócios com bitcoins e moedas nacionais. Trata-se da Gemini, dos gêmeos Winklevoss, ex-atletas olímpicos que ganharam notoriedade por causa de sua atuação nos primórdios do Facebook e se transformaram em grandes investidores no mercado financeiro. Criar um programa "robusto" contra a lavagem de dinheiro é uma das promessas da companhia.

    DIGITAL GOLD
    AUTOR Nathaniel Popper
    EDITORA Harper
    QUANTO US$ 12 (R$ 45,20)
    AVALIAÇÃO Muito bom

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