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    Ganhador do Nobel de Economia compartilha três de suas ideias

    DO "FINANCIAL TIMES"

    12/10/2015 17h12

    Maja Suslin/Associated Press
    Anúncio do prêmio Nobel de Economia 2015, realizado nesta segunda-feira
    Anúncio do prêmio Nobel de Economia 2015, realizado nesta segunda-feira

    Angus Deaton recebeu o Prêmio Nobel de Economia deste ano por uma série de descobertas excepcionais no estudo do consumo que influenciaram políticas públicas e estudos acadêmicos ao redor do mundo.

    Abordando assuntos que vão desde a desigualdade global até a ajuda financeira a outros países, o acadêmico escocês de 69 anos demonstrou pouca hesitação em participar de debates sensíveis relacionados à sua agenda de pesquisas —a qual já completou 40 anos.

    Horas depois de receber a notícia do seu prêmio, Deaton dividiu com o "Financial Times" suas opiniões às vezes controversas sobre três dos principais assuntos que estudou.

    DESIGUALDADE

    A ascensão de populistas de esquerda como Jeremy Corbyn no Reino Unido e o improvável sucesso popular do livro "O Capital no Século XXI", de Thomas Piketty, mostram como a desigualdade se tornou uma das questões mais importantes da nossa década.

    Deaton concorda que a desigualdade é importante, mas também tem uma visão com mais nuances do que a de alguns de seus colegas que estudaram disparidades econômicas.

    "A desigualdade é uma coisa enormemente complicada, que é boa e ruim ao mesmo tempo", ele diz.

    O acadêmico de Princeton acredita que desigualdade em excesso pode produzir alguns efeitos colaterais negativos, que vão do fim dos serviços públicos até a erosão da democracia. Mas ao mesmo tempo, as desigualdades podem também ser um produto do sucesso, por exemplo quando elas são um resultado de empreendedorismo bem-sucedido.

    "Sucesso gera desigualdade, e você não quer sufocar o sucesso", ele afirma.

    Ele também é cético quanto a medidas como alíquotas muito altas de imposto de renda, que pretendem ser um antídoto a disparidades crescentes.

    "Nós já criamos políticas redistributivas," ele diz. "Estabelecer, digamos, uma alíquota de imposto de renda de 85% dificilmente aumentará muito a arrecadação."

    Prêmio Nobel

    AJUDA EXTERNA

    Os estudos econômicos sobre desenvolvimento têm sido dominados por uma controvérisa sobre a efetividade da ajuda externa, com alguns, entre eles William Easterly, acadêmico da Universidade de Nova York, defendendo que ela traz mais danos do que benefícios.

    Deaton reconhece que a ajuda pode ser extremamente útil, por exemplo quando ajuda a financiar hospitais e curar crianças que poderiam morrer.

    "Isso só pode ser uma coisa boa", ele diz.

    Porém, muito no espírito de Easterly, ele também crê que ajuda externa em excesso pode ter consequências indesejadas, na medida em que pode levar a corrupção e criar tensões sociais entre as elites no poder e o público.

    Em relação ao assunto de seu livro de 2013, "The Great Escape: Health, Wealth and the Origins of Inequality" (A Grande Fuga: Saúde, Riqueza e as Origens da Desigualdade, de 2013), ele propõe duas ideias concretas. A primeira é limitar a quantidade de ajuda externa recebida por cada país em, digamos, 50% de sua arrecadação.

    A segunda é levar adiante uma "agenda global de bens públicos", que garanta que mais ajuda financeira seja gasta em problemas duradouros como doenças mortais, mesmo que isso signifique financiar mais pesquisas no mundo rico.

    "Eu sou a favor de dar mais dinheiro não apenas para a África, mas na África", diz Deaton, ecoando o seu colega acadêmico Jagdish Bhagwati.

    MEDIÇÃO DA POBREZA

    No mês passado, o Banco Mundial revisou a sua linha da pobreza oficial, elevando-a de US$ 1,25 para US$ 1,90. Deaton, um antigo crítico da linha da pobreza, considerou a mudança um progresso, mas continua cético.

    "Focar no número de pessoas que está abaixo da linha é como seguir um unicórnio através das florestas", ele disse ao "Financial Times". "Não tenho certeza que seja sábio para o Banco Mundial se comprometer tanto nesse projeto".

    Ele acha que há muito mais na pobreza do que apenas dinheiro, e cita a Índia como um exemplo de país que cresceu substancialmente em termos de renda per capita, mas onde os resultados educacionais e de saúde podem frequentemente ser deprimentes.

    "Eu sigo bastante o pensamento de Amartya Sen, embora eu provavelmente esteja mais interssado do que ele no assunto da medição", ele diz, citando o economista de Harvard e vencedor do Nobel que defende que se deve ir além do dinheiro para entender mudanças no bem-estar.

    "Existe mais do que apenas medir renda, embora claro que se possa medir outras coisas", diz Deaton.

    Tradução de DANIEL MARCONDES

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