• Mercado

    Sunday, 19-May-2024 06:42:14 -03

    Pequenos cervejeiros se dividem sobre vender o negócio para grandes marcas

    DIEGO IWATA LIMA
    DE SÃO PAULO

    18/10/2015 02h00

    As cervejas artesanais só representam 1% dos cerca de 13,5 bilhões de litros da bebida produzidos por ano no Brasil. Parece pouco, mas é o suficiente para que gigantes como a Ambev, a Brasil Kirin e a Heineken façam questão de participar deste mercado, por meio de aquisições.

    Vender-se ou não se vender a uma grande cervejaria é uma discussão que divide os cervejeiros -tanto apreciadores quanto produtores.

    A sede dos gigantes pelas pequenas marcas, segundo especialistas e empresários do ramo, está no exemplo americano. Por lá, as cervejarias artesanais cresceram à margem da percepção das líderes e hoje detêm 11% do mercado -movimentaram R$ 20 bilhões em 2014.

    No Brasil, a Ambev tem hoje no seu portfólio a Wäls e a Colorado, outrora ícones de sucesso entre as independentes. A Brasil Kirin comprou a Baden Baden, a Devassa e a Eisenbahn. E a Heineken é a proprietária da Xingu.

    Mapa da Cerveja

    CONTROLE

    "As grandes não vão repetir o erro aqui", diz Alexandre Bazzo, 39, fundador da Bamberg, de Votorantim (SP).

    Bazzo produz cerveja em pequena escala, 70 mil litros mensais, há dez anos e diz nem imaginar vender sua marca. "Temos história e isso não está à venda", diz.

    Renato Marqueti, 69, produz cerca de 2.000 litros por mês na Sauber, de Mogi Mirim (SP). Ele cita dificuldades de ser pequeno no ramo, como o preço mais alto dos insumos, por não poder comprar em grande escala, mas diz que não pretende se associar a uma marca maior.

    "Não vou dizer 'nunca', mas quero crescer com o comando daquilo que leva o meu nome", afirma.

    Ernesto Rodrigues/Folhapress
    Mogi Mirim - SP - Brasil; 14/10/2015 : CERVEJARIAS INDEPENDENTES. Cervejaria Sauber, marca independente de Mogi Mirim, destacada no mercado, Sr. Renato, o mestre-cervejeiro e proprietário. ( Foto Ernesto Rodrigues/Folhapress.MERCADO.) cod.0628
    Renato Maqruetti, 69, mestre-cervejeiro e proprietário da Sauber, checa suaprodução

    Paula Lebbos, 44, fundadora da Bäcker, de Belo Horizonte (MG), pensa igual. E, acima de tudo, não quer fazer o que considera uma traição com seus consumidores.

    "A artesanal é diferente. Meu público aprecia isso, bebe por prazer. Assim como produzo por prazer", diz. "Quem se vende sofre preconceito", afirma.

    CRESCIMENTO

    Outro cervejeiro da capital mineira, José Felipe Carneiro, 30, está do lado oposto da questão. Cofundador da Wälls, ele cedeu às investidas da Ambev e vendeu sua marca em março deste ano.

    Hoje, compõe ao lado do irmão, Tiago Carneiro, 33, e de Daniel Wakswase, 30, a diretoria de cervejas especiais da empresa, sob a qual estão também a Bohemia e a Colorado, de Ribeirão Preto (SP).

    "Estamos desenvolvendo o mercado e o paladar do consumidor para um produto diferente", diz Wakswase.

    Os irmãos só veem benefícios na fusão. "Melhoramos a produção, ampliamos a distribuição e temos como criar mais", diz José Carneiro.

    É a mesma visão de Juliano Mendes, 40, fundador da Eisenbahn, de Blumenau (SC), que vendeu sua marca à Brasil Kirin em 2008.

    "Nossa cerveja atingiu um patamar que demoraríamos 30 anos para conseguir", diz. A Eisenbahn é a cerveja oficial do Oktoberfest.

    Mendes, no entanto, já não tem influência na marca. Após a venda, ficou por menos de um ano como diretor de marketing na empresa. "Estava acostumado a um negócio pequeno e familiar. Não me adaptei", diz.

    Daniel Wakswase, da Ambev, e Juliana Mendes, vice-presidente da Kirin, dizem que as receitas das marcas adquiridas mantiveram-se fiéis às originais.

    "Para que faríamos aquisições para depois mudar?", indaga Mendes.

    "O mercado de cervejas especiais tem regras, e nós respeitamos", diz Wakswase.

    Independentes ou pertencentes às grandes, o fato é que as cervejas especiais já mudam hábitos no varejo.

    A rede de supermercados Pão de Açúcar, por exemplo, já treina sommeliers de cerveja para orientar os clientes sobre os tipos e marcas disponíveis em suas lojas.

    *

    VENDER OU NÃO VENDER?
    Argumentos dos empresários do setor

    1 - Distribuição

    Continuar pequeno As artesanais reclamam que há concorrência desleal por espaços nos supermercados

    Ser parte de uma grande A fusão com uma grande cervejaria garante acesso a uma estrutura melhor para vendas

    2 - Custos

    Continuar pequeno Escala menor de venda torna a tributação um peso maior para as pequenas

    Ser parte de uma grande As grandes pagam menos por insumos por comprarem em grande escala

    3 - Clientes

    Continuar pequeno As artesanais são vistas com simpatia por cervejeiros fanáticos

    Ser parte de uma grande Mudança na produção pode afastar consumidores mais exigentes

    4 - Comando

    Continuar pequeno Quem produz controla todas as características do produto

    Ser parte de uma grande Quem se vende perde autonomia no processo e no poder de decisão

    Edição impressa
    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024