• Mercado

    Saturday, 18-May-2024 09:10:52 -03

    ANÁLISE

    E se, afinal, os juros dos EUA nunca subirem?

    JOHN AUTHERS
    DO "FINANCIAL TIMES"

    17/10/2015 02h00

    Jim Lo Scalzo/Efe
    Janet Yellen, presidente do banco central americano
    Janet Yellen, presidente do banco central americano

    O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) decidiu não elevar os juros, ao contrário do esperado, no mês passado. E depois de pronunciamentos de diversos dirigentes do banco na última semana, os mercados estão fazendo uma nova pergunta.

    "E se os juros nunca subirem?"

    Eis minha tentativa de explicar por que essa se tornou a pergunta da vez, e respondê-la. Os investidores têm essa nova pergunta porque os dirigentes do Fed mesmo parecem a estar propondo.

    Evolução da taxa de juros dos EUA, em % -

    Janet Yellen, a presidente do Fed, vem declarando que uma alta dos juros continua a ser viável em dezembro.

    Por isso teve impacto forte sobre o mercado a declaração de dois outros dirigentes do Fed, nesta semana, de que seria melhor esperar por provas claras de uma alta na inflação antes de agir.

    Na metade da semana, os contratos futuros sugeriam que havia menos de 50% de chance de que os juros subissem acima de zero depois da reunião de março de 2016.

    No começo deste ano, a probabilidade era de 99%.

    A conversa entre os conhecedores está mudando de "qual será a data da alta dos juros?" para "que novas medidas de política monetária estariam disponíveis para um novo estímulo da parte do Fed?". Será que teremos um quarto programa de compra de títulos da dívida do governo se os juros ficarem assim? Ou teremos uma nova maneira de imprimir dinheiro?

    E OS INVESTIMENTOS?

    Que impacto taxas de juro zero por período prolongado teriam sobre investimentos? Para começar, perceba que, se os juros ficarem assim, será um sinal de que a deflação está se espalhando —processo que começa com a desaceleração da China e a queda das commodities.

    Em um ambiente deflacionário como esse, faz sentido comprar títulos de renda fixa com o maior prazo possível. Títulos de 10 anos do Tesouro dos EUA, cujo rendimento atual mal chega a 2%, são atraentes em meio à deflação.

    Com os juros parados, o medo de um colapso no mercado de títulos do Tesouro, causado pela baixa liquidez, se dissipa. As preocupações sobre os títulos de dívida de empresas nos emergentes, que tiveram papel importante na decisão do Fed de não elevar os juros no mês passado, seriam contidas.

    As moedas dos mercados emergentes se recuperaram um pouco, recentemente. Mas um ambiente deflacionário manteria pressão de baixa sobre as commodities, e portanto sobre os emergentes. Tampouco seria oportuno para reaquecer os mercados de metais ou petróleo.

    Quanto às ações, o quadro é mais complicado. Os juros baixos continuam a propiciar avaliações mais altas do que as merecidas para as ações, e incentivam os investidores a aceitar mais riscos.

    Mas a deflação ataca o faturamento e o poder das empresas de controlar preços. Por isso, em lugar de contar com uma alta contínua das ações dos EUA, o melhor é ter em foco aquelas com poder de controlar preços.

    E quanto ao dólar? Quando parecia provável que o Fed apertasse sua política monetária em um momento no qual os demais BCs estavam afrouxando as suas, o dólar estava forte, pois a perspectiva era que juros altos atrairiam dinheiro para os EUA.

    O dólar cedeu terreno agora, mas não é algo que deva ser levado longe demais.

    Se o Fed se mantiver em compasso de espera, será por causa da deflação. Os BCs emergentes provavelmente baixariam juros nessas condições; o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco do Japão, nenhum dos quais deseja ver sua moeda subindo ante o dólar, recorreriam a estímulo adicional antes do Fed.

    Assim, o dólar provavelmente continuará a subir. Ao menos se o Fed mantiver a espera. Agora, acompanhe os dados, ouça os dirigentes do Fed e avalie se tudo pode mudar de novo até o final do ano.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024