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    Para lucrar com dados pessoais, empresas negociam direto com usuários

    DO "FINANCIAL TIMES"

    19/10/2015 02h00

    A perspectiva de que indivíduos vendam seus dados pessoais diretamente a empresas e anunciantes ficou mais próxima com o lançamento de duas empresas britânicas que pretendem operar nesse ramo.

    A CitizenMe, start-up que colabora com as universidades de Cambridge e Sheffield, vai oferecer aos assinantes um perfil gratuito de personalidade em troca de seus dados quando seu aplicativo chegar ao mercado em 2016.

    As pessoas também poderão optar entre pagamentos, descontos ou várias recompensas das empresas participantes. Até agora, um banco do Reino Unido, uma companhia da área eletrônica e uma outra do setor de distribuição on-line de filmes aderiram.

    A digi.me, que no momento opera como serviço de armazenagem digital com cerca de 350 mil usuários em 150 países, planeja lançar uma função de seu aplicativo que permitirá a empresas abordarem assinantes diretamente para comprar seus dados.

    Lançada em 2009, a digi.me planeja lançar seu serviço até metade do ano que vem. Julian Ranger, presidente do conselho e fundador da empresa, diz que "isso permitirá que você compartilhe seus dados com quem preferir, sob seu controle –e ganhe dinheiro com isso".

    Ranger, no entanto, minimizou o incentivo financeiro aos assinantes. "O que importa é obter serviços, conveniência ou recompensas. O dinheiro é só uma parte da recompensa".

    MERCADO BILIONÁRIO

    A Digital Catapult, iniciativa apoiada pelo governo britânico para estimular a economia digital, estimou que esse mercado pode movimentar até 15 bilhões de libras (R$ 89 bilhões) por ano.

    O cálculo se baseia em um relatório recente, que apontou que 70% das pessoas sentiam que seus dados valeriam entre 15 libras (R$ 89) e 30 libras (R$ 178) mensais.

    John Deakin, fundador da CitizenMe, disse que as pessoas no momento recebem o valor justo por seus dados. "É como comprar um carro usado e a outra pessoa determinar o preço. Qualquer mercado no qual um dos lados dite o preço se torna um caso de pegar ou largar", diz.

    "Empresas não deveriam pagar às pessoas por seus dados pessoais porque os ricos não aceitarão", avalia Didier Truchot, presidente da empresa de pesquisas Ipsos.

    PRIVACIDADE

    A Comissão Europeia está debatendo proteções mais rigorosas aos dados pessoais, que poderiam impor um regime de acesso a dados apenas sob consentimento explícito já a partir de 2018.

    "Os dados pessoais se tornarão commodity valiosa, em um mercado no qual os vendedores terão o controle", afirma Kirsten Whitfield, especialista em proteção a dados do escritório de advocacia Wragge Lawrence Graham & Co.

    A criação de um mercado para dados pessoais pode representar uma mudança significativa do balanço do poder entre as pessoas e as empresas que recolhem dados, a exemplo de provedores de acesso à Internet e cadeias de supermercados.

    Mas a ideia de fornecer dados pessoais, mesmo por dinheiro, gera preocupações quanto à proteção da privacidade. Um relatório da Comissão Europeia revelou que apenas 18% dos usuários leem os termos dos sites quanto à privacidade.

    Philippe Baecke, da Escola Vlerick de Administração de Empresas, na Bélgica, diz que a questão é de confiança. "Os clientes se dispõem mais a fornecer dados se a companhia que os recolhe tem boa reputação", afirmou.

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