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    'Dama de ferro' australiana abre mina de US$ 11 bi enquanto rivais fazem corte

    JAMIE SMYTH
    DO "FINANCIAL TIMES"

    28/10/2015 02h00

    Philip Gostelow/Bloomberg
    A bilionária Gina Rinehart
    A bilionária Gina Rinehart

    Enquanto mineradoras pelo mundo todo —incluindo a brasileira Vale— cortam investimentos e amargam a queda no preço do minério, a pessoa mais rica da Austrália anda pela contramão.

    No próximo mês, Gina Rinehart inaugura sua mina Roy Hill, um projeto de duas décadas e US$ 11 bilhões.

    As primeiras exportações de minério de ferro em plena região desértica do Outback, a 1.100 km de Perth (costa oeste da Austrália), serão um momento histórico para a Hancock Prospecting, controlada por Rinehart, 61.

    Ela conquistou o apelido "dama de ferro" tanto por sua personalidade inflexível quanto pela commodity sobre a qual foi construída a fortuna de sua família.

    Na trajetória, Rinehart disputou a herança de seu pai com sua madastra, uma empregada filipina que ela suspeitava ter participado da morte do magnada.

    Mais recentemente, envolveu-se em disputa com os filhos pelo controle do grupo.

    MOMENTO DIFÍCIL

    Até o momento, a Hancock Prospecting obtém a maior parte de sua receita de licenças concedidas pelo governo para a exploração e desenvolvimento de terras exploradas por empresas como a Rio Tinto.

    Ao formar parcerias com siderúrgicas do Japão, Taiwan e Coreia do Sul, e executar o maior contrato mundial de financiamento de minas, Rinehart está transformando a empresa fundada 60 anos atrás por seu pai, garimpeiro, em rival da Rio Tinto, BHP Billiton e da brasileira Vale.

    Depois do maior boom de investimento em mineração desde a corrida do ouro dos anos 1850, impulsionado pela China na última década, as companhias do setor entraram em compasso de espera.

    Rinehart, em contraste, está fazendo a maior aposta de sua carreira. Os críticos afirmam que seu projeto de estimação, do qual ela detém 70%, não poderia estar iniciando operações em momento pior, com a desaceleração na economia chinesa e a consequente perda de apetite pelo minério de ferro –ingrediente essencial do aço.

    O preço do minério de ferro caiu a US$ 53 por tonelada, ante o pico de US$ 190 em 2011, e alguns analistas antecipam que a mina Roy Hill enfrentará dificuldades para obter lucro. "Os obstáculos a superar são elevados, tendo em vista o investimento pesado que ela teve de fazer antecipadamente", diz Ivan Szpakowski, analista de commodities do Citi.

    A queda nos preços das commodities e a desaceleração do investimento em mineração estão prejudicando a economia da Austrália, cujo Produto Interno Bruto (PIB) está crescendo em ritmo anual de 2%, abaixo dos 3% de sua tendência de longo prazo.

    A situação também vem devorando a fortuna de Rinehart, estimada agora pela revista "BRW" em 14 bilhões de dólares australianos (US$ 10,1 bilhões) ante um pico de 29 bilhões de dólares australianos em 2012, quando a publicação colocou a presidente da Hancock Prospecting no topo de sua lista das mulheres mais ricas do planeta.

    GUERRA EM FAMÍLIA

    A determinação férrea de Rinehart de desenvolver Roy Hill é um traço constante em sua carreira empresarial, mas um traço que a envolveu em desavenças espetaculares com amigos, assessores e até parentes.

    Além dos desafios de obter financiamento e administrar o desenvolvimento da mina, Rinehart está sendo processada por dois de seus quatro filhos, que querem tirar da Hancock Prospecting o controle de alguns dos direitos de mineração mais valiosos da companhia, entre os quais Roy Hill, e reduzir o controle dela sobre a empresa de 76% para 51%.

    A amarga disputa judicial distrai as atenções da empresa no momento em que esta se prepara para iniciar a produção.

    Caso Rinehart se veja derrotada no processo judicial, seu controle sobre toda a Hancock Prospecting pode ser abalado.

    John Hancock, seu único filho homem, diz que a mãe deveria "cuidar dos nossos interesses. Mas em lugar disso tirou ativos de nosso fundo de investimento".

    Um porta-voz da Hancock Prospecting rejeita essa afirmação e diz que a gestão de Rinehart será ferrenhamente defendida nos tribunais.

    Em um processo judicial separado, em maio, Rinehart perdeu o controle de um fundo de investimento familiar multibilionário que tem posição central na disputa, e Bianca, sua filha mais velha, com quem ela está rompida, foi apontada pela Justiça como curadora.

    A disputa familiar concentrou as atenções do país na magnata da mineração, avessa à publicidade, e este ano inspirou uma minissérie televisiva australiana, "The House of Hancock".

    Rinehart reagiu à série processando o Channel Nine e a Cordell Jigsaw, produtora responsável pelo programa. O caso ainda não foi decidido, o que se aplica também a outros processos cujo objetivo é manter os negócios da família sob seu controle, defender sua reputação e contestar os dissidentes.

    "Ela é uma pessoa muito controladora", diz Adele Ferguson, autora de uma biografia não autorizada da rainha do deserto.

    CONTRA A VIÚVA

    Depois da morte de seu pai, Lang Hancock, em 1992, Rinehart travou uma batalha pelo controle da herança do magnata da mineração com sua viúva, Rose Porteous.

    Acreditando que a antiga empregada doméstica filipina havia de alguma forma acelerado a morte de Hancock, ela passou anos fazendo lobby junto à promotoria pública estadual da Austrália Ocidental por um inquérito quanto à morte de seu pai.

    Quando o inquérito foi enfim realizado, em 1999, a conclusão do legista foi a de que Hancock havia morrido de causas naturais. As duas herdeiras encerraram sua disputa por acordo em 2003.

    "Não sei se seria justo dizer que os litígios são uma obsessão [para Gina]", diz Ron Manners, amigo de Rinehart. "Eu diria que muitos dos litígios que surgem ela vê como uma mosca que está rondando uma vaca e precisa ser esmagada".

    Rinehart usa sua riqueza para defender sua reputação, fazer lobby junto a políticos e promover a ideologia do livre mercado, de acordo com Ferguson. Zangada com a cobertura da mídia sobre seus assuntos e a questão da mudança do clima, quanto à qual ela apoia a posição dos céticos, Rinehart adquiriu participação acionária na Fairfax, mas as vendeu alguns meses atrás.

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