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    Taxa de desemprego sobe para 8,7% no trimestre encerrado em agosto

    BRUNO VILLAS BÔAS
    DO RIO

    29/10/2015 09h07 - Atualizado às 15h31 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    Com a economia em recessão e incapaz de gerar novos postos de trabalho, a taxa de desemprego nacional foi de 8,7% no trimestre encerrado em agosto. Trata-se da maior taxa da série histórica, que teve início em 2012.

    A taxa era de 6,9% no mesmo período do ano passado e de 8,1% no intervalo anterior (março a maio).

    O valor corresponde à expectativa de analistas consultados pela agência internacional Bloomberg, que previam a taxa em 8,7%.

    Os dados são da Pnad Contínua, pesquisa de abrangência nacional sobre mercado de trabalho divulgada pelo IBGE nesta quinta-feira (29).

    TAXA DE DESOCUPAÇÃO - Por trimestre móvel, em %

    MERCADO NÃO ABSORVE NOVOS TRABALHADORES

    Com a economia em recessão e a queda da renda, mais pessoas têm procurado emprego, como jovens que ficaram de fora do mercado de trabalho nos últimos anos apoiados na renda da família.

    "Há também pessoas com mais idade e que estão voltando a trabalhar, adiando a aposentadoria, ou mulheres que precisaram ir ao mercado complementar a renda do lar", disse Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

    O problema é que, com a degradação do quadro econômico, o mercado não tem sido capaz de gerar vagas suficientes para absorver esse aumento da força de trabalho.

    No trimestre encerrado em agosto, a força de trabalho (pessoas com 14 anos ou mais empregadas ou procurando emprego) cresceu 2,2 milhões de pessoas em comparação ao mesmo período do ano passado, uma alta de 2,2%.

    Mas apenas 189 mil encontraram emprego no trimestre, em comparação ao mesmo período do ano passado, um aumento de 0,2% nessa comparação. Para o IBGE, esta variação deve ser considerada com estatisticamente estável.

    Com a geração de vagas abaixo do necessário para absorver o crescimento da força de trabalho, a população desempregada no país aumentou em 2 milhões de pessoas no trimestre, frente a igual período de 2014, alta de 29,6%.

    No trimestre encerrado em agosto, havia 8,8 milhões de pessoas desempregadas no país.

    Quando comparado ao trimestre imediatamente anterior (de março a maio), o total de desempregados no país cresceu em 647 mil pessoas, ou 7,9% a mais.

    O rendimento médio dos trabalhadores foi de R$ 1.882 no trimestre encerrado em agosto, uma queda de 1,1% em relação aos três meses terminados em maio.

    Na comparação ao mesmo período do ano passado, o aumento foi de 1%. Na avaliação do IBGE, esta avaliação é estatisticamente estável.

    Rendimento médio real - Habitualmente recebido em todos os trabalhos pelas pessoas ocupadas, por trimestre móvel, em R$

    EMPREGO FORMAL

    Um dos veículos de inclusão social no país nos últimos anos, o emprego formal —com carteira assinada e protegido pelas leis trabalhistas— teve queda de 3% no trimestre de junho a agosto, com a perda de 1,09 milhão de vagas.

    O número é próximo ao registrado pelo Ministério do Trabalho, que mede o emprego formal do país a partir de consultas a empresas. O IBGE faz sua pesquisa em cerca de 3.500 municípios, visitando 211 mil domicílios por trimestre.

    Os cortes de vagas ocorreram sobretudo na indústria, um setor da atividade considerado mais formal. O setor cortou ao todo —com ou sem carteira— 472 mil empregos no trimestre, em comparação ao mesmo período do ano passado, queda de 3,5% no total de ocupados.

    Uma parcela desses trabalhadores foi buscar ocupação em empregos informais, como o de conta própria. São pequenos negócios, sem funcionários, como camelôs, pintores. Esse grupo cresceu em 926 mil pessoas em um ano, para 22,15 milhões de pessoas.

    "Os trabalhadores que perderam o emprego com carteira assinada têm conseguido abrir o próprio negócio, com apoio do seguro-desemprego, do FGTS. É uma ocupação sem a estabilidade da carteira, mas ajuda evitar um aumento da taxa de desemprego", disse Azeredo.

    LAVA JATO

    Na última terça-feira (27), o diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), André Calixtre, disse que a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, foi a origem da crise de emprego no país.

    Em uma entrevista no Rio, o diretor do Ipea disse que a Operação Lava Jato desorganizou o setor de óleo e gás e acabou afetando o setor de construção. E que "o resto [da crise de emprego] veio depois, com a queda da atividade econômica".

    Calixtre disse que não tinha números que demonstrassem o impacto da Lava Jato no emprego. Ele mencionou, no entanto, um estudo do Ministério da Fazenda que culpou a operação por dois pontos percentuais da queda do PIB (Produto Interno Bruto) deste ano.

    Para o especialista em mercado de trabalho do Instituto de Economia da UFRJ, João Saboia, a perda de dinâmica do mercado de trabalho já estava em curso no ano passado, com as demissões em curso na indústria.

    "Não concordo que tenha sido o início, mas acho que [a Operação Lava Jato] contribuiu. A economia já vinha mal em 2014 quando o crescimento foi zero. A razão principal para o aprofundamento da crise foi o ajuste fiscal deste ano", disse Saboia.

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