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    Acordo para salvar a Sete Brasil emperra

    DAVID FRIEDLANDER
    RENATA AGOSTINI
    DE SÃO PAULO

    30/10/2015 02h00

    Alexandre Gentil/Divulgação
    ANGRA DOS REIS, RJ, BRASIL, 22-01-2014: Casco de sonda de perfuração da Sete Brasil, no estaleiro BrasFELS, em Angra dos Reis (RJ)
    Casco de sonda de perfuração da Sete Brasil, no estaleiro BrasFELS, em Angra dos Reis (RJ)

    Concebida no governo Lula para construir as sondas com as quais a Petrobras exploraria as reservas de petróleo do pré-sal, a Sete Brasil precisa agora convencer um antigo parceiro a sair do projeto para que dívidas de R$ 14 bilhões, já vencidas, sejam empurradas para 2016.

    A crise da empresa —na qual sócios e os credores já colocaram mais de R$ 20 bilhões– se agravou com seu envolvimento na Lava Jato, que apura corrupção na estatal, e a queda no preço do petróleo, que inviabilizou financeiramente negócios no setor.

    Na tentativa de salvar o negócio, a companhia mudou e encolheu seu plano original. Mas precisa da confirmação de que a Petrobras vai alugar suas sondas por 15 anos para que os credores aceitem oficialmente rolar sua dívida.

    Há meses a Sete tenta fazer a estatal assinar documento atestando que continua interessada em seus equipamentos. Mas a petroleira impõe novas exigências a cada reunião.

    Uma das últimas é a garantia de que as seis empresas inicialmente contratadas para operar as sondas concordam em rescindir os contratos.

    Essas companhias haviam se tornado sócias minoritárias das sondas no início do projeto. Mas, como o número de sondas do projeto foi cortado, a Sete, para não perder rentabilidade, decidiu operar diretamente os equipamentos.

    PEDRA NO CAMINHO

    A Sete conseguiu a adesão da maior parte dos operadores, mas emperrou na Petroserv, do Rio. A Folha apurou que a empresa negocia condições melhores para deixar o projeto e se recusa a assinar.

    A Petrobras sinalizou que assinaria o documento nos próximos dias. Mas, segundo a Folha apurou, embora a direção queira salvar a Sete, parte do corpo técnico trabalha para encontrar uma saída jurídica que permita a petroleira abandonar o projeto.

    Um dos motivos para isso é que o projeto da Sete Brasil prevê um aluguel de sondas a preços superiores ao do mercado internacional, num momento em que a Petrobras precisa reduzir seus gastos.

    Outro obstáculo é que três ex-executivos da Sete fizeram acordo de delação premiada na Lava Jato, e diretores são suspeitos de receber propinas de estaleiros. A Petrobras quer evitar restabelecer ligação com uma firma que pode ser condenada por corrupção.

    Uma ala da estatal gostaria de deixar a Sete afundar já. Outra advoga que o ideal é postergar a decisão até que a empresa se inviabilize diante da pressão de credores.

    A decisão tem implicações políticas e financeiras pesadas. Entre os credores da Sete Brasil estão os bancos públicos Banco do Brasil e a Caixa.

    Ao lado de bancos poderosos como Bradesco, Santander e BTG, que são sócios da Sete, eles continuam se movimentando para dobrar o corpo técnico da Petrobras e salvar os bilhões que investiram.

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    • 10 perguntas para entender a novela

    1- O que é a Sete Brasil?

    Uma empresa criada em dezembro de 2010 para construir as sondas de perfuração que seriam alugadas à Petrobras para exploração do pré-sal

    2- Qual era o acordo inicial?

    Entre 2014 e 2018, a Sete Brasil forneceria 28 plataformas, no valor estimado de US$ 30 bilhões. As sondas seriam alugadas à Petrobras por um valor estimado, na época da criação, em US$ 600 mil/dia

    3- De quem é a empresa?

    Os principais sócios são a própria Petrobras, os bancos BTG Pactual, Bradesco e Santander, os fundos de pensão estatais Petros, Previ, Funcef, Valia e o fundo FI-FGTS

    4- Quanto dinheiro já foi consumido no projeto?

    Sócios e credores já colocaram ao menos R$ 20 bilhões

    5- Quem fez empréstimos?

    O BNDES havia se comprometido a emprestar R$ 9 bilhões à Sete. Enquanto o crédito não era liberado, Banco do Brasil, Caixa, Bradesco, Itaú, Santander deram crédito "temporário" de R$ 14 bilhões

    6- Por que tudo deu errado?

    A empresa e estaleiros contratados por ela foram envolvidos na Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobras. Isso paralisou o projeto e levou o BNDES a congelar o repasse prometido. Além disso, o preço do petróleo despencou, tornando inadequados os termos do acordo inicial

    7- Qual o envolvimento da Sete na Lava Jato?

    Pedro Barusco, ex-executivo da Petrobras e da Sete, afirmou que ele e outros diretores das empresas receberam dinheiro dos estaleiros contratados para fazer as sondas. O ex-presidente da Sete João Carlos Ferraz e o ex-diretor Eduardo Musa admitiram ter recebido propina de estaleiros que trabalham para a empresa

    8- Sem o dinheiro do BNDES, como a Sete pagou o empréstimo ao grupo de bancos?

    A empresa não conseguiu pagar a dívida e negociou uma prorrogação de prazo, que também já venceu

    9- Os credores vão renovar o prazo outra vez?

    Parte dos credores é também sócia da empresa e não quer perder os investimentos feitos. A Sete negocia uma nova prorrogação formal, mas, para isso, precisa de um aval da Petrobras, confirmando que ainda tem interesse no projeto

    10- Por que a Petrobras está demorando para dar o aval?

    A estatal quer cortar custos para enfrentar tanto a queda do preço do petróleo quanto o aumento de suas dívidas. Por isso, já negociou uma redução no número de sondas, de 28 para 19. No entanto, o contrato ainda é desvantajoso, já que a Sete espera receber cerca de US$ 400 mil por dia em aluguel de cada sonda, enquanto o preço internacional está abaixo dos US$ 250 mil

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