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    Petrobras ganha, mas fornecedores é que levam com alta da energia

    DIMMI AMORA
    DE BRASÍLIA

    08/11/2015 02h00

    A Petrobras foi a grande ganhadora da crise elétrica brasileira, faturando desde 2013 quase R$ 10 bilhões no mercado de energia vendida a curto prazo. A estatal ganhou, mas não levou.

    No fim das contas, quem está ficando com o dinheiro que resultou do aumento das contas de energia dos brasileiros são países como Trinidad e Tobago, Nigéria e Estados Unidos, que vendem o gás necessário para geração de energia térmica aqui.

    A Folha obteve dados da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), uma espécie de mercado onde as empresas compram e vendem energia, que mostram um aumento de quase quatro vezes no volume comercializado entre 2011/2012, antes da crise, e 2014/2015.

    Valores comercializados, em R$ bilhões

    Esse mercado foi concebido para vender pequenas quantidades de energia. O abastecimento aos consumidores deveria ser feito prioritariamente por contratos com preços fixos. Só em emergência essa energia deveria ser comprada no curto prazo.

    As falhas no gerenciamento do setor, atribuídas ao governo pelas próprias estatais da área, diminuíram a geração das hidrelétricas. Como essas geradoras têm contratos com quantidades fixas a entregar, precisam comprar energia para suprir o que foram impedidas de produzir.

    Os valores de venda da energia chegaram a picos históricos na crise, batendo em R$ 822 por MWh. O preço da energia hídrica normal gira em torno dos R$ 120/MWh.

    Essa diferença de custo, no fim, acaba sendo repassada para os consumidores, que neste ano viram os valores aumentarem 52%, segundo o índice de inflação oficial.

    Nos últimos quatro anos, valores de energia dispararam

    CONTRATOS

    A Petrobras faturou R$ 9,9 bilhões entre 2013 e agosto de 2015, segundo os dados da CCEE. A estatal é a maior controladora de usinas térmicas, que foram feitas para suprir o abastecimento quando as hídricas não tivessem como gerar. Outra empresa que faturou alto, a termelétrica UEG Araucária (R$ 3,8 bilhões), tem a estatal como sócia.

    Dados do balanço da Petrobras apontam que o faturamento da empresa com o setor de gás e energia subiu de R$ 30 bilhões em 2013 para R$ 42 bilhões em 2014, um impressionante incremento de 40% num ano. Apesar do alto faturamento, a empresa registrou resultado antes de impostos de R$ 1,6 bilhão negativo em 2014 nessa área.

    O motivo principal informado no balanço foram "maiores custos com importação de gás para atender a demanda do setor termelétrico". A companhia não tinha a capacidade de produzir no país toda a matéria-prima necessária para gerar energia nas termelétricas e teve de recorrer ao gás do exterior.

    O país compra gás da Bolívia, que chega por meio de um duto, mas teve de importar de outros países por navios, operação que custa mais.

    Segundo dados do comércio exterior brasileiro, entre 2013 e setembro de 2015 o país pagou mais de US$ 10 bilhões com importação desse gás.

    Os trinitinos foram os que mais faturaram, com US$ 2,6 bilhões. Nigéria (US$ 2,2 bilhões) e EUA (US$ 2,1 bilhões) fecham o topo da lista, que tem ainda países como Portugal, Qatar e Espanha.

    Entre as maiores ganhadoras do mercado de curto prazo está a empresa do grupo BTG Pactual de comercialização de energia, que faturou R$ 1,8 bilhão no período entre 2013 e agosto de 2014.

    Esse tipo de companhia compra energia que sobra dos contratos de longo prazo dos geradores para negociá-la. O BTG pagou quando a energia estava barata. Quando o preço aumentou, seu faturamento disparou.

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