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    Apenas metade do crédito do Brasil é afetado pela política monetária do BC

    GUSTAVO PATU
    ISABEL VERSIANI
    DE BRASÍLIA

    10/11/2015 02h00

    Joel Rodrigues - 16.abr.2014/Folhapress
    Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília
    Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília

    Em queda contínua nos últimos anos, a parcela dos financiamentos e empréstimos bancários diretamente afetados pelos juros definidos pelo Banco Central representa hoje pouco mais da metade do volume de crédito do país.

    São 50,9%, o menor percentual nas estatísticas disponíveis desde a década passada. A queda, iniciada no final do governo Lula, põe em xeque a eficácia da política monetária.

    Até 2008, algo como dois terços do crédito nacional se originavam de decisões espontâneas dos bancos, com recursos de utilização livre. No terço restante, agora metade, estavam operações sujeitas a regras e taxas impostas pela legislação.

    Esse grupo é composto, principalmente, por três modalidades de financiamentos –os destinados ao setor agrícola, os imobiliários e os desembolsos do BNDES.

    Em comum, todos se valem de recursos garantidos em lei, como parte do dinheiro das cadernetas de poupança e do Fundo de Amparo ao Trabalhador, e aplicam taxas tabeladas ou subsidiadas.

    ANOMALIA

    Tradicional no sistema financeiro nacional, o crédito direcionado por orientações legais ou governamentais é uma das explicações mais frequentes para as anomalias da política monetária do país, onde os juros estão entre os mais elevados do mundo.

    Por esse raciocínio, o BC precisa de taxas mais altas para controlar o crédito, a demanda e a inflação, porque uma grande parte dos financiamentos bancários se mantém imune a suas decisões.

    "A Selic acaba sendo mais alta do que o necessário, o que afeta o custo de todos os empréstimos", afirma o economista Lívio Ribeiro, pesquisador do Ibre-FGV.

    De abril de 2013 para cá, a taxa do BC, a Selic, subiu de 7,25% para 14,25% ao ano, enquanto os juros médios do crédito direcionado aumentaram de 7,22% para 9,77%. Já as taxas do crédito livre saltaram de 30,6% para 46,2%.

    INTERVENCIONISMO

    A parcela do crédito sensível à política do BC foi encolhendo à medida que crescia o intervencionismo econômico da administração petista.

    Dois programas subsidiados pelo Tesouro impulsionaram essa tendência: o PSI (Programa de Sustentação do Investimento), do BNDES, e o Minha Casa, Minha Vida, liderado pela Caixa.

    Os economistas do BNDES Marcelo Nascimento e João Paulo Faleiros ponderam que o impacto dos empréstimos concedidos pelo banco de fomento sobre a taxa Selic é pequeno porque eles são direcionados unicamente a uma parcela dos investimentos e não afetam o consumo.

    Usando modelos matemáticos, os dois calcularam que um aumento de 10% acima da inflação nos desembolsos do banco em um ano gera uma elevação de 0,08 ponto percentual na taxa Selic.

    "No longo prazo, os empréstimos do banco têm impacto sobre o aumento da capacidade produtiva, o que precisa ser levado em conta", afirmou Faleiros à Folha.

    A economista-chefe da consultoria Rosenberg Associados, Thaís Zara, diz que o ritmo do crédito direcionado perdeu força este ano, mas, como o crédito livre também desacelerou, o peso das duas modalidades no estoque total não se inverteu.

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