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    Setor do álcool fecha 300 mil postos de trabalho desde 2008

    MARCELO TOLEDO
    DE RIBEIRÃO PRETO

    14/11/2015 02h00

    O endividamento após a crise de 2008, impulsionado pela política de controle do preço da gasolina, gerou a paralisação ou o fechamento de cerca de 60 usinas de açúcar e etanol, algumas delas em São Paulo, principal Estado produtor e maior consumidor de etanol no país.

    Sem capital e com dívidas em dólar, o setor ficou ainda mais sufocado com o controle artificial do preço da gasolina, que deixou o etanol sem competitividade, e com excesso de açúcar no mercado global, que derrubou os preços da commodity.

    Desde então, 300 mil vagas de emprego foram fechadas na cadeia do setor.

    "A crise de 2008 fez o setor estagnar, tanto por falta de uma política para o etanol quanto pelo ciclo de excedente de açúcar muito forte", disse Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).

    40 ANOS DO PROÁLCOOL -

    Além das unidades paralisadas, a crise afetou também outras 50 usinas, que estão em recuperação judicial, de acordo com estimativa de entidades do setor.

    Entre as unidades paralisadas, estão cinco na região de Ribeirão Preto, mais tradicional polo do setor, com 40 usinas. Isso contribuiu, também, para o desaparecimento dos boias-frias de lavouras em cidades como Guariba.

    "Apesar de todas as crises pelas quais o setor passou, agora é o pior momento. Além de atingir todo o país, a crise atual para a cana é de empregos. O setor desempregou muito nos últimos anos com a mecanização e o fechamento de usinas", afirmou Wilson Rodrigues da Silva, 49, presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de Guariba desde 1992.

    40 ANOS DO PROÁLCOOL - Veículos licenciados, por ano e tipo de combustível, em milhões

    LEVANTE DE 1984

    A cidade é considerada um ícone do setor, por ter abrigado em 1984 um levante que foi essencial para o início das melhorias nas condições trabalhistas nas lavouras.

    Sem condições adequadas de transporte, água ou marmita térmica e equipamentos de proteção individual, os trabalhadores rurais se rebelaram quando as usinas queriam aumentar o total de cana-de-açúcar colhida por empregado diariamente –a média, então, era de seis toneladas diárias. O levante terminou com um morto e 30 feridos, sendo 14 a bala.

    À época, eram mais de 10 mil boias-frias na cidade. Hoje, no entanto, restam somente 750 filiados ao sindicato. A população local é de 38 mil habitantes.

    O cenário para os próximos anos é incerto, na avaliação de Silva, devido à situação econômica do país e às dívidas que as usinas têm.

    40 ANOS DO PROÁLCOOL - Consumo de etanol hidratado no país, em bilhões de litros consumidos

    Para o diretor da Unica, administrar a pressão da mão de obra social impactou no custo de produção das usinas, que agora ganharam um "fôlego" com a redução do ICMS em Minas Gerais e o aumento da Cide (cobrada na gasolina).

    Com isso, Minas superou o Paraná e passou a ser o segundo maior mercado de etanol no país, atrás apenas de São Paulo, que, sozinho, consome mais da metade do combustível produzido.

    Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), as vendas de etanol hidratado (usado diretamente nos veículos) cresceram 42,4% de janeiro a setembro deste ano em relação ao mesmo período o ano passado.

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