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    Desigualdade recua pelo 10º ano, mas ciclo dá sinais de esgotamento

    BRUNO VILLAS BÔAS
    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    14/11/2015 02h00

    Reuters
     Favela da Rocinha, no Rio
    Favela da Rocinha, no Rio

    O Brasil ficou menos desigual em 2014, pelo décimo ano consecutivo. O motivo foi o aumento da renda dos mais pobres. No Sudeste, porém, a perda de dinamismo econômico da região fez crescer a distância entre ricos e pobres.

    Economistas consultados pela Folha dizem que esse pode ser o último retrato do ciclo de redução da desigualdade do país. O índice tende a parar de cair ou mesmo subir neste ano por causa da crise econômica, efeito já sentido no Sudeste.

    O índice de Gini (medida de distribuição de renda) do rendimento do trabalho recuou de 0,495 em 2013 para 0,490 em 2014 no país —quanto mais próximo de zero, mais igualitária é a distribuição da renda.

    Especial Pnad
    Jorge Araújo/Folhapress

    Os dados são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgado nesta sexta (13) pelo IBGE. A pesquisa foi a campo no fim de setembro de 2014, antes da piora da crise econômica.

    A queda da desigualdade nacional foi possível porque o rendimento dos 10% mais pobres cresceu 4,1%. Já a renda dos 10% mais ricos teve queda de 0,4%.

    Contudo, o aumento da renda real (descontada a inflação) seguiu perdendo o fôlego. Teve uma alta de 0,8%, a menor em uma década.

    Para Márcio Salvato, professor de economia do Ibmec, a alta da renda dos mais pobres é um retrato do passado. De lá para cá, o desemprego subiu fortemente e a renda foi corroída pela inflação.

    "A pesquisa mostra o Brasil uma semana antes do primeiro turno das eleições, quando o governo ainda não havia retirado incentivos ao crescimento", disse ele.

    Para especialista, a alta da desigualdade no Sudeste (de 0,475 para 0,478) foi o primeiro sinal desta tendência. A desigualdade não crescia na região desde 2005.

    Desigualdade

    Segundo Fabio Silveira, diretor da GO Associados, a piora na atividade industrial na região e a queda do emprego no setor fizeram a crise chegar mais cedo ao Sudeste.

    "O mercado de trabalho piorou primeiro em São Paulo e foi contaminando outros setores e o restante do país. Depois vieram a crise de energia, a política, a Lava Jato.

    Paulo Feldmann, professor da USP, diz que a alta do desemprego neste ano prejudica sobretudo os mais pobres e vai elevar a desigualdade. "Muita gente que chegou à classe C ficou desempregada e não consegue agora comprar nada além da comida."

    O Nordeste continua sendo a região mais desigual do Brasil. Foi também a que mais reduziu o índice de Gini, de 0,524, em 2013, para 0,501.

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