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    Petrobras estuda vender divisão de biocombustíveis

    NICOLA PAMPLONA
    LUCAS VETTORAZZO
    DE DO RIO

    15/11/2015 02h00

    Apenas quatro meses depois de começar a produção em uma fábrica de biodiesel em Guamaré (RN), a Petrobras decidiu em outubro encerrar a atividade no local.

    A decisão, "tomada após uma avaliação detalhada do desempenho da unidade", segundo a estatal, é parte da estratégia para estancar as perdas com a PBio (Petrobras Biocombustíveis), subsidiária que, desde a sua fundação, em 2008, acumula prejuízos de R$ 1,5 bilhão.

    A área de biocombustíveis ainda não está no plano de desinvestimentos da Petrobras, mas a direção da empresa já cogita oferecer os ativos no mercado, de acordo com que apurou a Folha.

    O mau desempenho, segundo especialistas, é resultado da influência política sobre a estratégia da estatal, que gerou concorrência desleal da gasolina subsidiada com o etanol, e também da má gestão da produção de biodiesel.

    A PBio tem atualmente participação em cinco usinas de biodiesel e nove de etanol.

    A produção em Guamaré será encerrada definitivamente assim que a usina entregar a produção vendida no último leilão da ANP (Agência Nacional do Petróleo). Depois, a unidade voltará a ser um centro de pesquisas.

    Lucro ou prejuízo líquido da Petrobras - Em R$ bilhões

    A usina que durou só quatro meses é um exemplo dos erros estratégicos que provocaram o rombo na área de biocombustíveis da Petrobras, dizem analistas do setor ouvidos pela Folha.

    Para Luiz Augusto Horta, ex-diretor da ANP e especialista do tema, o problema é que os investimentos da PBio foram pensados sob a lógica do desenvolvimento agrário. O primeiro presidente da Petrobras Biocombustíveis foi o ex-ministro da pasta, Miguel Rossetto.

    "A Petrobras queria fazer biodiesel de mamona, fomentando pequenos produtores, e focou sua atuação inicial no Nordeste", diz Horta. "Isso não vingou e agora a empresa tem que buscar soja no Centro-Oeste e produzir em suas plantas no Nordeste.

    PREÇOS REPRESADOS

    No setor de etanol, a política da Petrobras de represamento artificial do preço da gasolina no mercado interno prejudicou durante anos as empresas do segmento. O etanol só é vantajoso quando seu preço na bomba é equivalente a 70% do da gasolina.

    O setor teve seu boom de 2003 a 2008, quando houve a duplicação da capacidade produtiva no país.

    A partir de 2010, produtores amargaram prejuízos diante dos baixos preços da gasolina. Muitos optaram por produzir açúcar em detrimento do álcool.

    A Petrobras, por sua vez, passou a ter uma dupla perda. A estatal importou gasolina por preço mais alto que o vendido no mercado interno e ofereceu etanol a preços pouco competitivos.

    Em nota, a Petrobras não quis comentar as razões do prejuízo. Disse apenas que vem tomando medidas para aumentar a eficiência e os investimentos realizados pela PBio "serão recuperados ao longo do desenvolvimento e maturação dos negócios".

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