Seria mau uso deste espaço e do tempo do leitor responder às objurgatórias do colunista deste jornal com adjetivos pejorativos ou sussurros e fuxicos desairosos a respeito de episódios de sua vida profissional.
O exercício realizado em sua coluna mais recente ["Dr. Bellezza e a inflação, 18/11, Alexandre Schwartsman], de retirar o efeito da inflação da relação dívida/PIB, revela que até esse ponto da chamada quarta aula o colunista estava atento. Intriga qual desvio em sua formação durante o ensino fundamental não lhe permitiu aprender que a multiplicação do numerador e do denominador por um mesmo valor mantém a razão constante, inclusive da relação juros/PIB.
Em vez de reproduzir com os juros o processo realizado para a dívida, o colunista decidiu descarregar o "efeito da inflação sobre a dívida" em um único componente do numerador (juros), além de compará-la com um denominador não deflacionado (PIB nominal).
Ao reproduzir no resultado primário (outro componente do numerador) de 2014 a fórmula aplicada aos juros pelo colunista, a inflação de 6,14% deve ser descontada da dívida de R$ 3,252 trilhões (dados de 2014).
O "efeito da inflação sobre a dívida" estimado é de R$ 188 bilhões. Este valor somado ao deficit primário de R$ 20,5 bilhões resultaria em superavit de R$ 167 bilhões. Magicamente o deficit de 0,37% do PIB se converte em superavit de 3,24%. O procedimento é equivocado para o tratamento de ambos (resultado primário e juros).
A reconhecida deterioração da relação dívida/PIB, de 53% no fim de 2013 para 66% em setembro de 2015, coincidente com a majoração de 96,55% na taxa básica de juros, considera dívida e PIB com os efeitos da inflação.
É curioso também que o colunista tenha nos furtado a explicação de como convivem suas afirmações de julho de 2015: "a menos que as taxas de juros sejam cortadas severamente, não há simplesmente jeito nenhum de entregar esse resultado" (uma relação da dívida/PIB estável), e de novembro do mesmo ano: "o salto da relação dívida-PIB não resulta da taxa de juros". Nesse momento, nos sentimos inferiorizados como debatedores, pela desvantagem que nos causa a necessidade de observância da lógica e da coerência.
É uma impropriedade arvorar a desafortunada tentativa de prolongar o ciclo de consumo, cujos riscos são alertados desde 2010, à condição de nova matriz macroeconômica. Por outro lado, não pode ser menosprezada a colaboração dos fanáticos da "velha matriz macroeconômica" para as dificuldades atuais –a persistente combinação entre juros altos e apreciação cambial.
Cabe ainda retificar algumas informações. Os autores desse texto são palmeirenses, mas apenas um ocupou o cargo de presidente da gloriosa Academia. Como é sabido, o rebaixamento do nosso querido clube não ocorreu sob sua gestão (mais uma ignorância factual). Entre as "malfeitorias" palestrinas perpetradas estão a cogestão com a Parmalat e a "fracassada" Allianz Arena, com estimativa de receitas em 2015 que supera R$ 70 milhões.
Correm notícias que números racionais e irracionais, relativos e absolutos, cardinais e ordinais, separados há muito pela álgebra, pretendem se reunir na avenida Paulista ainda neste fim de semana, em manifestações contra a sistemática tortura que vêm sofrendo nas mãos de colunistas. Os truculentos tentam força-los a confissões vexaminosas.
GABRIEL MURICCA GALÍPOLO, professor do Departamento de Economia da PUC-SP, é sócio da Galípolo Consultoria.
LUIZ GONZAGA BELLUZZO é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp. Foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.