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    Temidos por atacar moradores, jacarés viram fonte de renda em Rondônia

    AVENER PRADO
    ENVIADO ESPECIAL A PORTO VELHO
    DANIEL MARCONDES
    DE SÃO PAULO

    22/11/2015 02h00

    Antes temidos por atacar moradores, jacarés são hoje fonte de renda na pequena comunidade do lago do Cuniã, em Porto Velho (RO).

    Desde 2011, quando o abate regulamentado começou, a venda do couro e da carne fez com que os animais passassem a ser cultivados e respeitados pela população local.

    O início dos estudos para o projeto ocorreu em 2004, depois de ataques de jacarés terem ferido moradores e causado a morte de uma criança de cinco anos.

    "Até então a gente tratava jacaré com uma diferença, como uma espécie ameaçadora, tínhamos medo de conviver, então desenvolvemos o projeto de manejo do animal", diz Antônio Ednaldo, presidente da Cooper Cuniã, cooperativa formada por moradores que executa o projeto.

    O lago do Cuniã fica próximo ao rio Madeira, em uma reserva extrativista de responsabilidade do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Para chegar até o local, o caminho mais curto a partir do centro de Porto Velho é por um percurso de três horas que envolve estrada de terra, travessias de barco e trilha de moto.

    FITA CREPE

    A captura dos jacarés ocorre à noite: para que sejam laçados, é preciso antes cegá-los com a luz das lanternas. Devido ao risco de ataques, os jacarezeiros, como são conhecidos os trabalhadores responsáveis pela perigosa ação, passam fita crepe na boca e nos olhos do jacaré.

    Após medirem o animal e verificarem seu sexo, os jacarezeiros retiram do lago apenas os machos -em média, 25 por dia.

    Todo o processo de manejo, conhecido como "harvesting" (colheita, em inglês) por não envolver criação em cativeiro, só ocorre entre agosto e novembro, época de seca, e é feito com duas espécies do animal: o jacaré-açu e o jacaretinga.

    Como só há autorização do órgão fiscalizador municipal, a carne de jacaré apenas pode ser comercializada em Porto Velho. Encontrar compradores não foi fácil: de início, apenas um estabelecimento aceitou vender o produto. Hoje, o quilo da carne é comercializado a R$ 29,90 e tem boa aceitação na cidade.

    Já o couro, após ser secado, é vendido em estado bruto para uma empresa em Minas Gerais por R$ 150 a unidade. No total, a venda da pele e da carne gera cerca de R$ 260 mil por ano para a comunidade do lago do Cuniã.

    ALAGOAS

    Os jacarés também são fonte de renda para empresas em outras partes do país. Situada em Maceió (AL), a Mr. Cayman tem o maior criatório de jacarés-de-papo-amarelo da América Latina, com aproximadamente 20 mil animais.

    O animal é criado e se reproduz em cativeiro. Depois de um ano e meio, os répteis estão prontos para o abate e, após quatro anos, viram reprodutores.

    Além de exportar a pele já beneficiada para o mercado europeu e asiático, a Mr. Cayman atua com o repasse de tecnologia para parceiros e a venda tanto de animais vivos quanto, por meio das duas grifes que possui, do produto final.

    A carne, que recebe certificação estadual, é vendida para famílias e restaurantes de Alagoas. Seu valor por quilo, sem osso, é R$ 140.
    Já o valor da pele de cada jacaré-de-papo-amarelo, mais cobiçada pelo mercado de luxo do que a de outras espécies, varia de € 1.200 a
    € 2.000 (de R$ 4.800 a R$ 8.000, aproximadamente).

    "Nós estamos na contramão da crise, temos mercado no mundo inteiro. Nos próximos anos não teremos como atender nem 30% da demanda", afirma Cristina Ruffo, dona da empresa.

    edição de vídeo DIEGO ARVATE

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