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    Banqueiro André Esteves liderou negócios com empresas do governo

    DAVID FRIEDLANDER
    DE SÃO PAULO

    26/11/2015 02h00 - Atualizado às 14h02

    Fã declarado do empresário brasileiro Jorge Paulo Lemann, criador da Ambev, o banqueiro André Esteves fez carreira imitando o ídolo: virou bilionário antes dos 40 anos e transformou o BTG Pactual num dos maiores bancos de negócios do país.

    Mas há uma diferença entre os dois. Enquanto Lemann manteve distância do setor público, nos últimos anos Esteves seguiu caminho oposto e passou a fazer também grandes negócios com empresas do governo.

    Nesta quarta (25), o banqueiro foi preso sob a acusação de obstruir as investigações da Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobras –estatal da qual o BTG é parceiro de negócios.

    Além de ter sido acusado de pagar propina em troca de vantagens num negócio com a BR Distribuidora, o BTG de Esteves é um dos principais acionistas da empresa de sondas Sete Brasil e é sócio da Petrobras na exploração de petróleo em países da África.

    Até agora não há nenhuma irregularidade envolvendo o banco de Esteves nesses dois negócios, mas a Sete Brasil, fornecedora da petroleira estatal, é investigada na Operação Lava Jato.

    A PetroÁfrica, por sua vez, é alvo de dúvidas desde que o BTG comprou metade da empresa por US$ 1,5 bilhão, dois anos atrás. Avaliações internas da companhia indicavam que a operação poderia render à Petrobras mais do que o banco pagou, possibilidade negada por Esteves.

    Fora do mundo do petróleo, o BTG é sócio da Caixa Econômica Federal no banco Pan, o antigo Panamericano, que quebrou nas mãos do apresentador Silvio Santos.

    LEI DO MAIS FORTE

    Aos 47 anos, com uma fortuna pessoal estimada em US$ 2,1 bilhões, o que o colocava em 14º lugar entre os brasileiros no site da revista "Forbes", Esteves despertou inveja em muitos concorrentes, que o consideravam perigosamente agressivo.

    Uma de suas ambições, segundo pessoas que o conhecem bem, já foi tornar-se sócio do Bradesco. Ele tentou pelo menos uma vez, em 2004. Ofereceu o Pactual ao banco da Cidade de Deus e disse que gostaria de ser pago com ações do próprio Bradesco. A oferta foi recusada.

    Esteves é um produto típico dos bancos de investimentos, o terreno mais competitivo do mercado financeiro. Essas instituições não trabalham com conta corrente e poupança, apenas com empresas e pessoas ricas.

    Nesses lugares, quem para de ganhar dinheiro perde o lugar imediatamente para colegas mais competitivos.

    Foi esse ambiente que André Esteves encontrou quando chegou ao banco Pactual para trabalhar como programador de sistemas, aos 22 anos. Um dia ganhou uma oportunidade na mesa de operações, virou sócio e acabou engolindo seu criador.

    Por dentro do BGT

    No final dos anos 90, Esteves foi um dos líderes dos jovens sócios que tiraram o banqueiro Luiz Cezar Fernandes do Pactual.

    Fundador do banco e responsável pela contratação de Esteves, Fernandes estava endividado por causa de negócios pessoais desastrados e acabou entregando suas ações para liquidar dívidas.

    Quando provocado a respeito, Esteves dizia ter aprendido com o próprio Fernandes que, nos bancos de investimento, prevalece a lei do mais forte e que um dia chegaria também a sua vez.

    A GRANDE TACADA

    A grande tacada veio em 2009, quando ele e um grupo de sócios recompraram o banco que tinham vendido três anos antes ao grupo suíço UBS, por US$ 3,1 bilhões. Debilitados pela crise global, os suíços receberam menos do que tinham pago –quase US$ 2,5 bilhões.

    Em poucos dias, o banco foi reaberto com o nome de BTG Pactual numa segunda-feira em que os funcionários encontraram cartões de visita, formulários e documentos já timbrados com os novos logo e nome do banco.

    Esteves, que cuidava dos menores detalhes pessoalmente, dava entrevistas para dizer que aquele era o negócio de sua vida e que ia transformar o BTG no maior banco de investimentos dos países emergentes.

    Desde então, a instituição esteve envolvida em boa parte dos maiores negócios que ocorreram no Brasil, na posição de assessor e de investidor. O banco virou sócio de hospitais, rede de estacionamento, montadoras de veículos e dos postos de gasolina que deram problema na Lava Jato.

    Foram apostas no boom econômico do Brasil, que com a crise acabaram trazendo perdas pesadas como no caso da Sete Brasil, que corre o risco de quebrar.

    Nos últimos tempos, executivos do BTG diziam que a aposta agora estava sendo feita no exterior; neste ano fecharam a compra do banco suíço BSI, por US$ 1,2 bilhão.

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