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    Bancos credores da Sete Brasil ainda confiam em reestruturação

    JULIO WIZIACK
    RENATA AGOSTINI
    DE SÃO PAULO
    DO RIO

    28/11/2015 02h00

    Alexandre Gentil/Divulgação
    ANGRA DOS REIS, RJ, BRASIL, 22-01-2014: Casco de sonda de perfuração da Sete Brasil, no estaleiro BrasFELS, em Angra dos Reis (RJ)
    Casco de sonda de perfuração da Sete Brasil, no estaleiro BrasFELS, em Angra dos Reis (RJ)

    Os bancos credores ainda não foram avisados sobre a intenção dos acionistas da Sete Brasil, principal fornecedora de sondas para o pré-sal, de buscar a recuperação judicial da empresa.

    Segundo apurou a Folha, os bancos já haviam sinalizado à companhia que aceitariam prorrogar pela sexta vez o vencimento da dívida caso a Petrobras não assinasse o um novo contrato até o dia 1º de dezembro (último prazo acordado para pagamento do empréstimo).

    Uma reunião na semana que vem está acertada para definir qual a nova data seria oferecida à empresa.

    Os credores ainda acreditam que um acordo entre a Sete e a Petrobras sairá diante dos eventuais prejuízos financeiros e de imagem que a quebra da empresa pode trazer à estatal.

    Se os acionistas da Sete Brasil seguirem com o planode recorrer à Justiça, os bancos credores serão os maiores prejudicados. Isso porque, em geral, num processo de recuperação judicial, a empresa em dificuldade negocia descontos agressivos na dívida para que possa se reestruturar.

    Organizados sob a forma de um sindicato, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú, Bradesco e Santander emprestaram US$ 3,6 bilhões (R$ 14 bilhões) à Sete Brasil.

    O empréstimo deveria ter sido quitado no início deste ano, quando o BNDES liberaria um financiamento de longo prazo à empresa.

    Com as notícias de que a companhia e os estaleiros contratados por ela estavam sendo investigados na Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobras, o BNDES congelou o repasse.

    Sem os recursos do banco estatal, a Sete não pôde honrar os compromissos com os bancos. Até agora, eles vinham concordando em renegociar os vencimentos na esperança de reaver integralmente os valores.

    Na avaliação de um executivo do alto escalão de um dos bancos credores, pedir a recuperação judicial da Sete como forma de manter o contrato não é simples. Os acionistas precisarão do aval da própria Petrobras. Além de ser a única cliente, a estatal tem participação no bloco de controle da Sete.

    *

    12 PERGUNTAS PARA ENTENDER A NOVELA

    1 O que é a Sete Brasil?

    Uma empresa criada em dezembro de 2010 para construir as sondas de perfuração que seriam alugadas à Petrobras para exploração do pré-sal

    2 Qual era o acordo inicial?

    Entre 2014 e 2018, a Sete Brasil forneceria 28 plataformas, no valor estimado de US$ 30 bilhões. As sondas seriam alugadas à Petrobras por um valor estimado, na época da criação, em US$ 600 mil/dia

    3 De quem é a empresa?

    Os principais sócios são a própria Petrobras, os bancos BTG Pactual, Bradesco e Santander, os fundos de pensão estatais Petros, Previ, Funcef, Valia e o fundo FI-FGTS

    4 Quanto dinheiro já foi consumido no projeto?

    Sócios e credores já colocaram ao menos R$ 20 bilhões

    5 Quem fez empréstimos?

    O BNDES havia se comprometido a emprestar R$ 9 bilhões à Sete. Enquanto o crédito não era liberado, Banco do Brasil, Caixa, Bradesco, Itaú, Santander deram crédito "temporário" de R$ 14 bilhões

    6 Algo já foi construído?

    Sim. Alguns estaleiros já iniciaram a construção das sondas encomendadas, mas, com a crise da Sete Brasil, ficaram sem receber os pagamentos devidos. Vários deles já anunciaram paralisação dos trabalhos e demissões

    7 Por que tudo deu errado?

    A empresa e estaleiros contratados por ela foram envolvidos na Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobras. Isso paralisou o projeto e levou o BNDES a congelar o repasse prometido. Além disso, o preço do petróleo despencou, tornando inadequados os termos do acordo inicial

    8 Qual o envolvimento da Sete na Lava Jato?

    Pedro Barusco, ex-executivo da Petrobras e da Sete, afirmou que ele e outros diretores das empresas receberam dinheiro dos estaleiros contratados para fazer as sondas. O ex-presidente da Sete João Carlos Ferraz e o ex-diretor Eduardo Musa admitiram ter recebido propina de estaleiros que trabalham para a empresa

    9 Sem o dinheiro do BNDES, como a Sete pagou o empréstimo ao grupo de bancos?

    A empresa não conseguiu pagar a dívida e negociou uma prorrogação de prazo, que também já venceu

    10 Os credores vão renovar o prazo outra vez?

    Parte dos credores é também sócia da empresa e não quer perder os investimentos feitos. A Sete negocia uma nova prorrogação formal, mas, para isso, precisa de um aval da Petrobras, confirmando que ainda tem interesse no projeto

    11 Por que a Petrobras está demorando para dar o aval?

    A estatal quer cortar custos para enfrentar tanto a queda do preço do petróleo quanto o aumento de suas dívidas. Por isso, já negociou uma redução no número de sondas, de 28 para 19. No entanto, o contrato ainda é desvantajoso, já que a Sete espera receber cerca de US$ 400 mil por dia em aluguel de cada sonda, enquanto o preço internacional está abaixo dos US$ 250 mil

    12 A prisão de André Esteves afeta a Sete Brasil?

    Não necessariamente, mas o banqueiro era um dos principais defensores do investimento e o BTG, além de sócio, fez empréstimos à empresa e estava elaborando a reestruturação das operações

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