• Mercado

    Thursday, 02-May-2024 23:02:00 -03

    Para combater calote, entidades reforçam ações de educação financeira

    ANDERSON FIGO
    DANIELLE BRANT
    DE SÃO PAULO

    30/11/2015 02h00

    Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
    Franklin Vieira usa videoaulas e clipes musicais da associação de empresas de cartões de crédito
    Franklin Vieira usa videoaulas e clipes musicais da associação de empresas de cartões de crédito

    A diminuição da renda da população e o aumento nas restrições ao crédito geraram aumento da inadimplência no país. Entre os devedores, cresce a participação das classes mais baixas. De acordo com pesquisa da Boa Vista SCPC referente ao terceiro trimestre obtida pela Folha, 59% dos consumidores inadimplentes pertenciam à classe C. No mesmo período do ano passado, eram 50%.

    O conceito utilizado foi o Critério Brasil da Abep (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa), que engloba na classe C pessoas com renda média familiar entre R$ 1.446,24 e R$ 2.409,01.

    A elevação da inadimplência nessa faixa de renda tem levado entidades a reforçar ações de educação financeira. O objetivo é se aproximar da população e mostrar a importância de manter o orçamento sob controle.

    "A classe C costuma ser a mais prejudicada em um cenário de queda na renda e inflação elevada", afirma Flávio Calife, da Boa Vista. O principal problema, diz, são os serviços básicos, como água e luz, que tiveram elevação de preços neste ano. "Eles têm pesado no orçamento e contribuído para o avanço da inadimplência."

    Volume de crédito do rotativo - Por faixa de renda, em salários mínimos

    A indústria de cartões, uma das mais afetadas pela inadimplência, apostou na linguagem popular. Com 12 videoaulas e dois videoclipes, o canal da campanha da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) para alertar sobre o uso consciente do cartão já teve mais de 35 milhões de visualizações.

    Entre os vídeos, está o "funk sem ostentação", em que canta a letra: "Lá no meu trabalho/Dou dicas de estilo/ Compro tudo no cartão/Mas me controlo e não vacilo."

    "É uma maneira lúdica de conscientizar. Temos recebido um 'feedback' muito bom", diz Ricardo Vieira, diretor-executivo da entidade. A campanha também está em estações de metrô, ônibus e terminais rodoviários.

    Desempregado desde junho, o administrador de empresas Franklin Soares Vieira, 34, acompanha os vídeos com frequência. "O conteúdo é fácil e didático", diz. "Quando você perde o emprego, busca tudo o que possa te ajudar a gastar menos."

    A CVM, que regula o mercado de capitais, realizou neste ano a segunda edição do concurso cultural "Meu Pé-de-Meia". O órgão divulgou conteúdo educativo pelo Facebook e premiou publicações sobre finanças pessoais.

    Um dos vídeos premiados foi feito por Fabiano Silva Ferreira, 31, e Antônio Wanderson Coelho dos Santos, 18, de Uruburetama (CE). "Sou professor e sempre abordei educação financeira porque é um tema pouco difundido nas escolas. O concurso foi uma oportunidade para colocar em prática o que sempre ensinei", diz Ferreira.

    Também engajado no assunto, o Banco Central possui o portal Cidadania Financeira, que traz orientações sobre investimentos e consumo, além de cursos de finanças.

    "O site do BC não era adequado para tratar desse tema e criamos uma página mais coloquial, com linguagem simples", diz Elvira Cruvinel, chefe do departamento de educação financeira.

    A Febraban (federação dos bancos) lançou um aplicativo que trata educação financeira como item de sustentabilidade. O app, que já teve mais de 60 mil downloads, ensina a consumir melhor recursos como a água, de forma a beneficiar bolso e ambiente.

    *

    NO VERMELHO

    Sinais de que suas finanças saíram de controle

    > CHEQUE ESPECIAL
    Contar todo mês com este recurso é sinal de que as finanças não estão sob controle. É um empréstimo temporário que, embora permita com que você continue gastando mesmo quando seu salário termina, terá que ser devolvido em algum momento —e com juros altos. Os dias "sem juros" oferecidos pelos bancos no cheque especial podem parecer uma boa opção num primeiro momento, mas caso o dinheiro não seja reposto dentro deste prazo, serão cobrados juros sobre o período total que o crédito foi utilizado

    > CARTÕES DEMAIS
    Ter muitos cartões aumenta a chance de o consumidor perder o controle dos gastos em cada produto, o que o leva a ficar inadimplente. Cartões de crédito são os grandes vilões dos consumidores, com as maiores taxas de juros do mercado, por isso seu uso deve ser sempre bem pensado —e evitado sempre que possível. O ideal é que o vencimento da fatura seja sempre no mesmo dia que o consumidor recebe seu salário, diminuindo assim o risco de calote

    > AFUNDADO EM CONTAS
    Quando você acaba de receber e, após pagar as contas, não sobra mais nada no banco. Este é um alerta para reorganizar suas finanças. Especialistas recomendam que o consumidor não comprometa, por exemplo, mais do que 30% da renda com financiamentos. É preciso lembrar que você precisará de dinheiro para se manter no restante do mês, e nunca se sabe quando uma emergência —como conserto de carro ou compra de medicamentos— pode surgir

    > PRIORIZANDO PAGAMENTOS
    Quando você percebe que seu salário não cobre todas as contas do mês e, portanto, começa a priorizar seus pagamentos. Isto pode se tornar uma armadilha, pois é fácil perder o controle sobre quais contas estão em atraso e pode te levar a ficar com o nome negativado em órgãos de proteção ao crédito

    > RENEGOCIAÇÃO CONSTANTE
    Renegociar a dívida é sempre uma boa solução, mas cuidado para isto não se tornar um "vício". O acordo é uma medida para solucionar seu descontrole financeiro. Fazê-lo e descumpri-lo torna a situação ainda mais difícil de ser resolvida. Procurar ajuda de órgãos como os Procons pode ser uma saída para quem não sabe por onde começar a se organizar financeiramente

    > DESAPEGANDO
    Quando você começa a querer se desfazer, todo mês, de algum item não muito utilizado, mas que seu valor de venda pode cobrir "buracos" na conta do banco. Vender objetos que estão "encostados" em casa pode ser uma boa fonte de renda em casos de emergências financeiras, mas se acostumar a isso é perigoso. É preciso lembrar que esta é uma opção limitada e que você pode não conseguir vender o item pelo valor desejado ou no prazo pretendido

    > EMPRÉSTIMO AQUI E ALI
    Quando você sabe que recorrer a empréstimos com bancos para pagar contas não é um bom negócio, mas constantemente recebe ajuda financeira de familiares ou amigos. Isso pode virar uma "bola de neve" e em breve você vai estar pegando um empréstimo para cobrir outro. As chances de desfazer amizades também são grandes

    > SONHOS DISTANTES
    Quando suas contas constantemente te impedem de comprar aquele carro desejado ou de fazer a viagem dos sonhos. Em alguns casos, até mesmo desejos mais simples como comprar uma blusa ou ir ao teatro acabam sendo "barrados" pelo saldo zerado no banco. Priorizar o pagamento de contas é importante, mas é preciso também organizar as finanças para que seja possível ter uma folga no orçamento mensal para destinar ao lazer

    Edição impressa
    Folhainvest

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024