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    Sócios do BTG tiram André Esteves do comando para blindar o banco

    DAVID FRIEDLANDER
    JULIO WIZIACK
    TONI SCIARRETTA
    DE SÃO PAULO

    03/12/2015 02h00

    Depois de uma discussão que se arrastava desde a última sexta, os principais sócios do BTG Pactual tiraram André Esteves do controle do banco nesta quarta (2), na tentativa de blindar o banco que está com a credibilidade em xeque desde a prisão do banqueiro, investigado na Operação Lava Jato.

    Decidiram cumprir uma cláusula do acordo de acionistas que permitia afastar o banqueiro do comando depois da confirmação, no domingo, de que ele ficaria preso por tempo indeterminado.

    A Folha apurou que o próprio Esteves opinou sobre sua saída por meio de sua mulher, Lilian, que o visitou no presídio Bangu 8, no sábado.

    "André Esteves não tem mais poder no banco. Não interfere mais nas decisões", disse Persio Arida, presidente do conselho de administração do BTG.

    Segundo ele, o acordo de acionistas da empresa que controla o banco (holding) prevê a retirada de um sócio que fique impedido de exercer suas funções na holding. "Esse mecanismo é automático e entra em ação tão logo o sócio fique impedido."

    Questionado se Esteves tinha sido retirado do controle do banco à revelia ou participado da decisão, Arida disse: "Não me cabe falar sobre isso".

    Desde domingo (30), Esteves já não era mais presidente-executivo nem presidente do conselho do banco. Segundo o BTG, ele próprio renunciou aos cargos depois que sua prisão temporária foi transformada em preventiva, o que significa que poderá ficar muito tempo na prisão.

    Ações do BTG x índice MSCI

    Pelo acordo de acionistas, Esteves foi obrigado a entregar suas ações ordinárias (com voto) para os sete principais sócios da holding. Em troca, recebeu papéis preferenciais (sem voto) na mesma proporção (28,8%). Ele continuará sendo o maior acionista do BTG e recebendo dividendos.

    Arida afirmou que não houve pagamento adicional para Esteves na troca de ações. "Embora normalmente ações ordinárias tenham mais valor que as preferenciais, não é assim no nosso acordo [de acionistas]."

    Com a mudança, os sócios Marcelo Kalim, Roberto Sallouti, Persio Arida, Antonio Carlos Porto Filho, James Marcos de Oliveira, Renato Monteiro dos Santos e Guilherme Paes compartilham o controle do BTG Pactual.

    A alteração de controle societário está sujeita a aprovação do Banco Central.

    Desempenho das ações das companhias <br>que têm participação do BTG - Em %

    BLINDAGEM

    O banqueiro foi detido na quarta (25) sob a acusação de participar de uma trama para atrapalhar as investigações junto com Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do governo Dilma Rousseff no Senado.

    O impacto no mercado foi imediato. Grandes investidores, especialmente os estrangeiros, têm regras que os impedem de manter recursos em uma instituição se houver acusações desse tipo.

    Até domingo (30), quando venceria o prazo da prisão temporária de Esteves, os saques de clientes que decidiram trocar de banco eram, segundo o banco, suportáveis.

    Mas, com a decretação da prisão preventiva, os sócios não quiseram correr o risco de expor o banco a uma possível onda de saques e decidiram retirar Esteves do comando da instituição.

    SANGRIA MENOR - Clientes reduzem ritmo de resgate de fundos BTG

    NEGOCIAÇÕES

    Para reforçar o caixa e se preparar para possíveis resgates, o BTG começou a se desfazer de alguns de seus investimentos. Nesta quarta, vendeu os 12% que ainda tinha na Rede D'Or, maior grupo privado de hospitais, por R$ 2,38 bilhões para o fundo soberano de Cingapura (GIC).

    A negociação estava em curso desde agosto, mas a prisão de Esteves acelerou as conversas.

    "Tomamos a decisão de vender todos os negócios que não façam parte da atividade financeira", disse Arida. "Há conversas em curso para outras operações."

    Embora o executivo não confirme, estão na fila de venda a fatia do banco na rede de estacionamentos Estapar, empresa avaliada por cerca de R$ 1,3 bilhão, e na Recovery, empresa especializada na cobrança de dívidas.

    O banco também negocia a venda de R$ 4 bilhões de seus empréstimos para Itaú e Bradesco.

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