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    Com real mais barato, praias do Brasil voltam a ganhar sotaque argentino

    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES

    06/12/2015 02h00

    Na operadora de turismo argentina Principios, o gerente de vendas Oscar Juárez comemora a boa fase: "Neste ano, a procura por pacotes turísticos no Brasil duplicou".

    Com o peso valorizado, graças à estratégia pré-eleitoral de Cristina Kirchner de evitar uma impopular alta do dólar, combinado à uma desvalorização do real que supera 50% neste ano, o Brasil voltou a ser destino atrativo para os turistas "hermanos".

    vamos a la playa

    De janeiro a agosto, o Brasil foi o principal país buscado pelos argentinos. Cerca de um quarto dos que viajaram para o exterior tiveram como destino o Brasil, com um aumento de 13% em relação ao período de janeiro a agosto do ano passado.

    O real mais fraco deixou a hospedagem e as compras mais acessíveis para os argentinos, que estão trocando as praias geladas do litoral do país e do Uruguai pelo Brasil.

    "Os argentinos estão aproveitando o momento e comprando pacotes até outubro de 2016. O verão já foi quase todo vendido, me restam poucas opções", disse Juárez.

    O advogado Hernán Campaña, 50, vai atravessar a fronteira de carro até Lagoinha, no litoral de Santa Catarina. Ele, a mulher, duas filhas e duas amigas das filhas passarão 15 dias de janeiro em uma casa alugada pelo equivalente a 7.000 pesos por semana (cerca de R$ 1.850).

    "Está mais barato do que alugar uma casa em Cariló ou Pinamar [litoral argentino]."

    No litoral argentino, alugar uma casa para todo o grupo não sairia por menos de 10 mil pesos semanais (R$ 2.600).

    "No Brasil, a comida é mais cara, mas também é mais farta e, com o preço atual do real, vale mais a pena", disse. Outras seis famílias amigas farão o mesmo trajeto, diz ele, alguns para Bombinhas, outros para a Praia do Rosa, também em Santa Catarina.

    Até outubro, a Embratur registrou alta de 50% nas vendas de pacotes para o Brasil de argentinos. A Abav (que reúne as agências de viagem brasileiras) espera um aumento de 30% no fluxo de argentinos até o fim do verão.

    "DÁME DOS"

    Na época em que o dólar valia um peso, nos anos 1990, os argentinos invadiram as praias brasileiras na fase que foi apelidada pelos hermanos de "dáme dos" [me dê dois, em vez de um apenas].

    Na última década, com a alta do real -quando o dólar chegou a valer R$ 1,60- a relação se inverteu e os brasileiros invadiram Buenos Aires.

    Juárez acredita que a relação voltará a pender para os argentinos. Além da desvalorização do real, a recessão brasileira ajudou a desinflar preços em outras regiões até então menos buscadas pelos argentinos.

    "O Brasil voltou a estar ao alcance da classe média, que havia trocado o país pelas praias argentinas", disse. "Antes havia uma concentração da procura em alguns destinos, agora estou vendendo Porto de Galinhas, Jericoacoara e até Amazônia."

    O argentino acredita que parte da demanda também pode se explicar pela expectativa de que, logo que assuma o novo presidente, Mauricio Macri, possa haver uma desvalorização do peso, como ocorreu com o real.

    Receita de turismo

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