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    Experiente em crises, BTG tem futuro incerto

    TONI SCIARRETTA
    DE SÃO PAULO

    06/12/2015 02h00

    O BTG Pactual que tenta sobreviver à crise de reputação, após a prisão do banqueiro André Esteves, tem longa experiência em passar por momentos de apuros.

    Nos anos 80, época da hiperinflação, vivia da aplicação do dinheiro dos clientes no overnight, o antigo mercado de juros de um dia, até pouco antes de o Brasil dar o calote na dívida, em 1987.

    Após a estabilização, o negócio de destaque passou a ser as reestruturações de empresas que rumavam para a falência -passaram pelo "hospital" do Pactual a fabricante de chocolates Lacta, a aérea Varig, a loja Mesbla, de departamentos, a construtora Encol e a TV Manchete.

    Foi o banqueiro Luiz Cezar Fernandes, fundador e então controlador do Pactual, quem introduziu no país a engenharia financeira (e jurídica) de separar a parte boa -marca, história, fábricas etc.- da parte podre de uma empresa: dívidas, processos judiciais, impostos atrasados.

    Ganhou manchetes nos jornais, trouxe esperança de manutenção de empregos, mas sucesso mesmo teve apenas com a Lacta, que foi vendida para a Philip Morris; nas demais, a crise era afastada até uma próxima tormenta.

    O reinado de Luiz Cezar começou a ruir em 1997, com a tentativa frustrada de comprar o antigo banco BCN. Ele foi abandonado na última hora pelos sócios André Jakurski e Paulo Guedes, que se opunham ao Pactual ir para as ruas disputar espaço com Bradesco e Itaú.

    Luiz Cezar foi se afundando em dívidas de suas outras empresas. Aos poucos, foi trocando socorro financeiro dos sócios -entre eles, o jovem André Esteves- por parte de suas ações. No final de 1999, acabou sendo obrigado a vender os 12% restantes por US$ 80 milhões ao quarteto que, além de Esteves, tinha Gilberto Sayão, Marcelo Serfaty e Eduardo Plass.

    Alessandro Shinoda/Folhapress
    o banqueiro André Esteves, ex-presidente do banco BTG Pactual
    o banqueiro André Esteves, ex-presidente do banco BTG Pactual

    Começava o reinado de Esteves, ainda dividindo espaço com Sayão, hoje na Vinci Partners. Nos anos 2000, o banco apostou no chamado Novo Mercado da Bolsa, o segmento de alta transparência e respeito aos minoritários, e comandou a onda de aberturas de capital.

    O sucesso foi tão grande que despertou a cobiça dos suíços do UBS, maior gestor de fortunas do mundo, que adquiriu o Pactual em 2006, por US$ 2,6 bilhões.

    Dois anos depois veio a crise americana, o UBS quase quebra e precisa ser socorrido pelo governo. À época, falava-se que Esteves teria liderado um grupo para derrubar os antigos controladores e comprá-lo barato; ele nega.

    Fora do UBS, onde chegou a comandar a área de renda fixa global em Londres, Esteves volta ao Brasil, abre sua butique BTG (Banking and Trading Group) e recompra o banco dos suíços praticamente pelo mesmo valor, formando o BTG Pactual.

    O banco vira um dos campeões nacionais do governo Lula e arremata o PanAmericano do empresário Silvio Santos, em meio a escândalo de maquiagem de balanço. Com a compra da corretora chilena Serfin, consolida uma posição de destaque na América Latina.

    No ano passado, comprou o suíço BSI, também gestor de fortunas, que agora está à venda. Para sobreviver, vai se desfazendo uma a uma das participações: foram-se a Rede D'Or, de hospitais e a próxima deve ser a Estapar, de estacionamentos.

    Nas palavras de um ex-sócio, que pediu para não se identificar, fatalmente o Pactual tentará passar uma borracha no reinado de Esteves, perderá muitos clientes e "encolherá". "Se irá sobreviver é uma outra história."

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