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    PIB do agronegócio vai encolher 0,7% em 2015, afirma CNA

    DIMMI AMORA
    DE BRASÍLIA

    10/12/2015 12h42

    O PIB do agronegócio deverá ficar 0,7% menor neste ano em relação a 2014, aponta a balanço anual divulgado nesta quinta-feira (10) pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

    O principal problema do setor é a queda dos preços de commodities no mundo, o que fez o país reduzir em 11% o valor das exportações em 2015, mesmo embarcando 11% mais produtos que no ano anterior.

    "Temos consciência de que vamos enfrentar dois anos difíceis", disse o presidente da entidade, João Martins.

    De acordo com o relatório, feito em parceria com a LCA Consultores, a perspectiva não é melhor para 2016 e a tentativa será de evitar uma nova queda do PIB do setor. O crescimento moderado da economia mundial e os estoques elevados de produtos agrícolas deverão continuar pressionando para baixo o preços das commodities.

    "A cavalaria não vai vir nos salvar", afirmou Fernando Sampaio, economista da LCA que apresentou um panorama para o próximo ano explicando que, ao contrário de outras crises, quando o país saiu delas usando ganhos com as exportações, dessa vez isso não deverá ocorrer.

    Para Sampaio, o ano de 2016 ainda será ruim. Mas a velocidade da piora deverá ser menor que a de 2015 por haver menos fatores pressionando a economia, como falta de energia, aumento de preços e redução de estoques. Se os problemas políticos forem resolvidos, a retomada da economia será facilitada, diz.

    Na perspectiva da LCA, o dólar deve terminar o ano que vem em R$ 4,11, a taxa Selic deve se manter no patamar atual de 14,25% por todo o ano e a inflação terminará próxima dos 6,5% ao ano.

    AUMENTO

    Mesmo com a crise lá fora, a previsão é de que o valor da produção agrícola brasileira para 2016 fique 2,7% maior, puxado basicamente por aumento de área plantada em algumas culturas como café e cana-de-açúcar.

    A produção total deve crescer 2,1%, chegando a 213 milhões de toneladas, puxada pela soja. A previsão é que as exportações aumentem 17%, mas os valores obtidos continuarão a ser decrescentes (-8%).

    No setor de carnes, a perspectiva é que os bovinos não devem ter aumento de produção, mas suínos e aves deverão crescer de 2% a 5%.

    Para o setor agrícola, outro problema para 2016 será o custo do dólar. Se em 2015 os exportadores ganharam com a subida do valor da moeda americana por terem plantado com o custo da moeda mais baixo em 2014, deverá ocorrer o oposto em 2016.

    O dólar mais alto em 2015 aumentou o custo de produção, mas em 2016 não deverá haver aumento adicional da moeda estrangeira para compensá-lo. Na soja, por exemplo, o custo de produzir ficou 24% maior na atual safra por causa de aumento de custo de energia, mão de obra e fertilizantes, que são importados.

    O fenômeno El Niño, também é um fator de risco para o setor por causa do excesso de chuvas que ele já provoca nas regiões sul e sudeste e a redução nas outras regiões.

    CAOS

    O presidente da CNA, João Martins, disse que o agronegócio deverá continuar sustentando o PIB brasileiro e que isso não é bom nem para o setor, nem para o país.

    Para ele, há um desconforto dos agricultores com o que ele chamou de "procedimentos que estão levando o país ao caos", chamando a política econômica de "descontrolada". O vice-presidente da entidade, José Mário Schreiner, classificou como "vergonha" a crise política do país.

    Após uma reunião da diretoria da entidade, que congrega grandes produtores agrícolas de todo o Brasil, Martins afirmou que prevê para 2016 "situações difíceis", citando aumento dos custos para captar recursos e descontrole cambial.

    "Vamos ter dúvida se vamos continuar a ser competitivos no mercado global de agricultura", prevê o presidente da entidade.

    De fato, o crédito para o setor já ficou mais caro este ano. De acordo com o relatório, o volume de crédito sem subsídios para o custeio da safra, ou seja, com juros mais altos, pulou de R$ 23 bilhões em 2014 para R$ 53 bilhões este ano. Para investimentos, a situação é ainda pior, com um crescimento de R$ 0,4 bilhão para R$ 7,2 bilhões.

    Parte do problema foi o atraso na definição do crédito rural em 2015. Para 2016, a perspectiva é pior já que já foram anunciados cortes no orçamento do governo federal que vai afetar o Seguro Rural.

    O órgão criou uma comissão interna para criar propostas para "blindar" o setor dos problemas políticos e econômicos do país. O presidente da entidade diz que isso é necessário não para criar privilégios ao agronegócio, mas para que a crise não fique maior.

    "Apesar de tudo, não estão faltando comida na mesa", disse Martins dizendo que a frase do ex-presidente Lula dizendo que os pobres vão comer arroz sem carne é mais "política", para "provocar conflito social" e que a perspectiva é que o preço da carne não suba.

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