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    conferência do clima em paris

    Crise dificulta captação de recursos para projetos sustentáveis

    JOANA CUNHA
    ENVIADA ESPECIAL A PARIS

    11/12/2015 17h12

    Edilson Dantas/Folhapress
    Poluição emitida por indústria em Mauá, em São Paulo
    Poluição emitida por indústria em Mauá, na Grande SP

    A prática de captação de recursos por meio de títulos de dívida verdes, os chamados "green bonds", para o financiamento de projetos sustentáveis (um dos grandes temas da COP21 em Paris) avançou exponencialmente no mundo nos últimos dois anos, mas, no Brasil, a crise já atrapalha ao movimento.

    Quase US$ 37 bilhões em "green bonds" foram emitidos no mercado internacional em 2014 para financiar projetos que seguem critérios socioambientais, segundo dados apresentados em estudo do GVces (Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV) em parceria com a Febraban.

    A principal diferença entre os títulos verdes e os títulos de dívida tradicionais é o destino dos recursos. Sua captação deve financiar exclusivamente projetos sustentáveis, como implantação de fábricas sustentáveis, projetos florestais, recuperação de áreas degradadas e energias renováveis, eficiência energética e transporte de baixo carbono.

    Os rendimentos oferecidos aos investidores são compatíveis com títulos tradicionais disponíveis no mercado. Não se trata de uma emissão com taxas mais baixas, ou seja, a principal motivação para a emissão de um "green bond" é o ganho de reputação, segundo especialistas.

    "Vem crescendo muito fortemente na Europa e nos Estados Unidos. Há três anos não existia praticamente nada de 'green bond' no mercado. Só em 2013 e 2014 explodiu para US$ 50 bilhões. E este ano a estimativa é chegar entre US$ 80 bilhões a US$ 100 bilhões", segundo Mário Sérgio Vasconcelos, diretor de relações institucionais da Febraban.

    Dentre as companhias brasileiras, porém, a primeira emissão relevante só foi feita neste ano. No final de maio, a companhia alimentícia BRF anunciou a captação de 500 milhões de euros para projetos ligados à redução de emissão de gases de efeito estufa, uso de embalagens sustentáveis, gestão de água, resíduos e matérias primas, entre outras iniciativas.

    O destino do recursos eram projetos no Brasil, mas a venda dos títulos foi feita no exterior.

    A atual crise brasileira atravanca o mercado de títulos de dívida verdes. Diferentemente do Brasil, os países onde essa modalidade de captação prospera contam com características como taxas de juros baixas, menores incertezas macroeconômicas, menor risco de mercado, com títulos públicos que entregam níveis mais baixos de remuneração.

    DÍVIDA VERDE - Crescimento mundial das emissões de "green bonds", em US$ milhões

    "O momento econômico e político afeta a confiança e a expectativa e faz com que a maioria dos emissores prefira esperar até que o mercado melhore para fazer uma emissão de qualquer tipo, seja ela green ou não", afirma Denise Hills, superintendente de sustentabilidade do Itaú Unibanco.

    De acordo com o estudo do GVces, além da crise conjuntural, no Brasil, o segmento de "green bonds" enfrenta dificuldades também ligadas a desafios estruturais de seu mercado de capitais na comparação com o cenário internacional. A baixa liquidez do mercado secundário no Brasil prejudica o desenvolvimento do setor de títulos privados e o mercado de investidores local é muito concentrado, com baixa participação de pessoas físicas e estrangeiros.

    Outro aspecto relacionado ao "green bond" que o diferencia dos títulos tradicionais e atravanca sua emissão no Brasil é a ausência de um mercado de empresas de "second opinion". No ato da emissão é necessário apresentar a chamada "segunda opinião" de uma instituição independente que avalia e atesta as características de sustentabilidade do projeto financiado, dando detalhes sobre o desempenho do emissor para mitigar riscos e adicionar credibilidade ao processo.

    Segundo o diretor da Febraban, a entidade está procurando empresas que possam funcionar como 'second opinion' e identificando potenciais estrangeiras interessadas.

    "Também pretendemos trabalhar com Ministério da Fazenda, Banco Central e CVM, não para criar novas regras, que não são necessárias, mas para ampliar a divulgação", diz Vasconcelos. "Não há dinheiro público para isso. Não podemos contar com incentivos fiscais. Precisamos desenvolver esse mercado e atrair capitais privados", afirma.

    Para Mariana Nicolletti, do GVces, os "green bonds" aparecem como uma importante alternativa para um dos temas mais polêmicos da COP 21, o financiamento para os países pobres enfrentarem o aquecimento global e a decisão de quem vai bancar a conta da batalha climática.

    "Seja pela discussão travada sobre o financiamento para que ocorra a transição para a economia de baixo carbono, seja porque os países desenvolvidos estão muito longe de cumprir o prometido, os investimentos privados ganham papel central para o alcance dos compromissos nacionais de redução de emissões. Diferentes mecanismos precisarão ser combinados para direcionar recursos financeiros para tecnologias, infraestrutura e processos produtivos de baixo carbono. E os 'green bonds' são um deles", diz Nicolletti.

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