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    Aulas de finanças pessoais chegam à periferia de SP

    VINICIUS PEREIRA
    DE SÃO PAULO

    14/12/2015 02h00

    Dívidas em excesso podem se tornar um fardo difícil de suportar, principalmente quando a renda não é suficiente para uma família satisfazer suas necessidades básicas.

    Para diminuir os impactos do endividamento excessivo, algumas empresas têm oferecido aulas gratuitas de educação financeira em comunidades carentes de São Paulo, locais em que o orçamento doméstico costuma ser mais apertado.

    Em Paraisópolis (zona sul), segunda maior comunidade carente de São Paulo, não é difícil encontrar pessoas que, em tempos de crise econômica, vêm enfrentando dificuldades para administrar o orçamento e manter o mesmo padrão de consumo.

    É o caso da estudante Nádia Machado, 17, que participou junto com outros 11 jovens das aulas de educação financeira na associação de moradores da comunidade.

    "A internet, a luz e a conta do meu celular ficaram muito caras. Na casa dos meus pais estão todos com muitas dívidas", disse.

    O curso, oferecido pela empresa Mais Fácil, aborda assuntos como consumo consciente e problemas decorrentes do endividamento excessivo. A empresa lançou um cartão de crédito no local.

    Especialistas em educação financeira apontam que o sucesso dessas iniciativas depende do foco no comportamento e do acompanhamento das situações específicas de cada participante.

    "Aprendi como controlar os gastos da família. Dessa forma, vou poder ter minhas coisas sem me afundar em dívidas", disse André da Silva Alves, 19, que atualmente está desempregado.

    Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 18-11-2015 10h23: * Nadia De spuza, 17,,aluno do curso de educacao financeira oferecida aos moradores de Paraisopolis, em Sao Paulo. ( Foto: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress, FSP - MERCADO ) ***RESTRICAO***
    Nádia Machado, aluna do curso de educação financeira oferecida aos moradores de Paraisópolis, em SP

    EXPERIÊNCIA

    Segundo Elvira Cruvinel, chefe da área de Educação Financeira do Banco Central, as áreas que despertam mais interesse dos participantes dos cursos são sobre pesquisa de preço, noções básicas de administração do orçamento, além de hábitos de poupança.

    "Isso é mais importante do que ensinar juros compostos, por exemplo. Não adianta oferecer cursos gigantes, mas depois não ter mais contato com o assunto. Tem de ser algo constante", disse.

    Desde 2012, o BC realiza cursos on-line de educação financeira. O BC também orienta empresas e outros grupos que pretendam oferecer cursos sobre o assunto.

    "O dinheiro afeta completamente as relações entre as pessoas. Uma das maiores causas de divórcios é a questão financeira. Ela acaba influenciando todo o tipo de relação", afirma Cruvinel.

    A Unibes (União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social) e a Boa Vista SCPC, empresa de proteção ao crédito, também promovem aulas de educação financeira desde o início do ano. Na sede do órgão, jovens da periferia de São Paulo recebem orientações de profissionais sobre consumo consciente, poupança, crédito e orçamento doméstico.

    "O impacto é imediato. Eles enxergam exemplos dentro da própria casa. Alguns dizem: se meu pai não tivesse se endividado tanto, talvez não estaria naquela situação", disse Marissol Parrilla, coordenadora de capacitação profissional da Unibes.

    Ao todo, cerca de 700 jovens, a partir de 16 anos, já passaram pelas duas turmas do curso, oferecido nos dois semestres de 2015.

    Parcerias entre empresas e ONGs ditam o ritmo das iniciativas na periferia de São Paulo. A Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) desenvolveu um acordo com Fundação Cafu, do ex-jogador da seleção brasileira, para fazer cursos sobre orçamento doméstico no Jardim Irene (zona sul), em São Paulo. Ao todo, 60 moradores da região já passaram pelos cursos da fundação.

    "As pessoas são receptivas à informação desde que seja em uma linguagem adequada e com conceitos coloquiais. Estamos usando até funk para nos comunicar melhor com o grupo", disse Ricardo Vieira, diretor-executivo da Abecs.

    Folhainvest

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