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    Alta de juros nos EUA não deve causar estrago no dólar, dizem especialistas

    ANDERSON FIGO
    DANIELLE BRANT
    DE SÃO PAULO

    16/12/2015 12h04

    Jim Lo Scalzo - 19.mar.2014/Efe
    Presidente da Fed, Janet Yellen durante entrevista coletiva no comitê de mercado, em Washington
    Presidente da Fed, Janet Yellen durante entrevista coletiva no comitê de mercado, em Washington

    A aguardada decisão do Federal Reserve (banco central americano) de elevar os juros nos Estados Unidos pela primeira vez em quase dez anos não deve causar altas expressivas no dólar ou turbulências na Bolsa e nas taxas de títulos públicos brasileiros.

    Essa é a avaliação de especialistas ouvidos pela Folha. Para eles, parte da instabilidade que a medida causará já está no preço desses ativos.

    O Fed realiza nesta terça (15) e quarta (16) a última reunião do ano de seu comitê de política monetária. O encontro finalmente deve dar início ao ciclo de elevações da taxa de juros americana, que serve como base para a remuneração dos títulos americanos.

    Inflação - Em %

    Segundo dados coletados pela agência internacional Bloomberg, investidores atribuem probabilidade de 72% à possibilidade de o Fed elevar os juros nesta semana.

    A mudança deixaria os títulos do Tesouro americano, cuja remuneração reflete a taxa de juros, mais atraentes que aplicações em mercados emergentes, considerados de maior risco, pressionando a cotação do dólar para cima.

    O QUE O FED TEM A VER COMIGO?
    Como as decisões do banco central americano afetam os brasileiros
    Dolares
    1. Por que os EUA podem elevar os juros?
    Porque a economia americana está se aquecendo e isso pode trazer inflação
    2. Como os juros nos EUA afetam outros países?
    Títulos do Tesouro americano são considerados a aplicação mais segura do mundo. Se seus juros sobem, atraem investidores, que retiram recursos de outros países
    3. Qual o impacto para o Brasil da migração de investimentos para os EUA?
    A maior procura por dólares faz subir a cotação da moeda americana. Se o país precisar de recursos externos, terá também que oferecer taxas maiores de juros
    4. O Banco Central pode conter a alta do dólar?
    O BC tem reafirmado que o câmbio no Brasil é flutuante e, portanto, deve admitir altas na cotação. Quando há variações bruscas, ele tem optado por oferecer contratos que protegem quem tem suas atividades afetadas pelo preço do dólar —por exemplo, exportadores e importadores
    5. Essas ações ameaçam as reservas internacionais do Brasil?
    O valor ofertado até agora é bem inferior às reservas, de US$ 369,46 bi. O BC tem descartado a venda de moedas da reserva propriamente dita
    6. E o cidadão que tem despesas em dólar?
    A orientação de consultores é comprar a moeda aos poucos, para evitar variações bruscas, e pesquisar preços, já que a cotação varia bastante

    Para Julio Callegari, chefe da equipe de renda fixa no Brasil da J.P. Morgan Asset Management, o atual patamar do dólar já reflete, em parte, a elevação dos juros. "Só haveria um impacto grande no dólar se a taxa não aumentasse neste momento."

    Para Alexandre Espirito Santo, economista da Órama Investimentos, a alta não causará muita volatilidade na cotação da moeda americana. "Eu não acho que subir 0,25 ponto percentual causaria uma debandada de investidores e pressionaria o dólar, porque a taxa de juros aqui ainda é muito alta [está em 14,25% ao ano]", afirma.

    TIMING

    Para Christopher Bennett, analista de estratégia de índices de investimento da S&P Dow Jones Indices, a pergunta que o mercado começa a se fazer é sobre o ritmo das elevações.

    "Entram na discussão algumas variáveis, como se a medida já foi antecipada ou precificada nos ativos. Então, indo além, a pergunta vai ser não tanto o aumento, mas sim a frequência das elevações", afirma.

    A avaliação é parecida com a de Callegari, da J.P. Morgan Asset Management. "Os investidores agora ponderam se a alta será gradual e espaçada, como mercado espera, ou se há uma chance de uma elevação mais brusca, por causa de um aquecimento maior da economia americana, da inflação alta ou de uma queda mais forte do desemprego", diz. "Mas o Fed não vai deixar de avaliar o impacto da elevação nos mercados emergentes."

    Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Asset Management, avalia que a desaceleração da China pode influenciar o ritmo de elevação dos juros nos EUA. "A economia chinesa está desacelerando e, consequentemente, pressionando os preços das commodities. Isso afeta o mundo como um todo", diz.

    PIB dos EUA - Variação trimestral

    E enquanto no dólar o impacto é mais visível, com a saída de investidores pressionando a cotação da moeda para cima, na Bolsa a elevação teria poucas consequências, afirma Espirito Santo. "O cenário interno importa mais. Muitos investidores já saíram da Bolsa pela crise política e pelo Petrolão. Isso foi agravado agora pelo processo de impeachment", diz.

    Já as taxas de títulos públicos devem ser influenciadas majoritariamente pelo aumento de juros aqui, ferramenta usada pelo Banco Central para conter a inflação. "Se você aplicar seu dinheiro em um título publico pagando 14,25%, você consegue duplicar o capital em cinco anos. Nos EUA, vai precisar de mais de 200 anos", diz Espirito Santo. "Não acho que por causa de 0,25 ponto percentual os investidores queiram colocar mais prêmios nos juros de títulos públicos."

    HISTÓRICO

    O banco central americano mantém a taxa numa faixa entre 0% e 0,25% ao ano desde a crise de 2008. A medida foi adotada para estancar a contração da economia dos EUA, que chegou a cair 8,2% no quarto trimestre daquele ano. Ao cortar os juros, o Fed deixa o crédito mais barato e estimula o consumo, que responde por mais de dois terços da atividade econômica americana.

    A discussão em torno da elevação não é nova, mas a decisão em si vem sendo adiada pela presidente do Fed, Janet Yellen, à espera de dados que comprovem que o mercado de trabalho está sólido e a inflação a caminho da meta de 2% ao ano.

    Atualmente, o desemprego nos EUA está em 5%. Dados de criação de vagas de emprego nos EUA também têm mostrado força: em outubro e novembro, foram gerados mais de 200 mil postos de trabalho.

    Como funciona o FED

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