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    Indústria pede para governo brasileiro ignorar acordo comercial com a China

    RAQUEL LANDIM
    DE SÃO PAULO

    18/12/2015 02h00

    A indústria solicitou ao governo brasileiro que compre uma briga diplomática com a China e não reconheça o país como economia de mercado, ou seja, sem interferência estatal direta nos preços.

    O pedido, capitaneado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), chegou por carta aos ministérios do Desenvolvimento, Relações Exteriores e Fazenda. O documento foi assinado por 41 associações, incluindo calçados, alumínio, máquinas, eletrônicos, celulose, etc.

    O novo status está previsto em tratado assinado quando a China entrou na OMC (Organização Mundial de Comércio) e deveria ser adotado por todos os países até 11 de dezembro de 2016. A China ameaça retaliar quem não cumprir o acordo.

    O receio da indústria brasileira é que a mudança inviabilize a aplicação de sobretaxas na importação de produtos para combater o dumping (venda em outro país por preço inferior ao mercado interno). O Brasil é um dos países que mais aplica antidumping.

    Como a China hoje não é considerada uma economia de mercado, os países desconsideram os preços chineses no cálculo das sobretaxas. Após o novo status, será necessário utilizar os preços internos da China, que são muitos baixos.

    Por exemplo: no caso das canetas importadas, as autoridades brasileiras ignoraram os preços chineses e adotaram os franceses.

    Na França, uma caneta BIC custava na época US$ 0,23. Na China, apenas US$ 0,04. Ou seja, seria impossível comprovar que os chineses praticavam dumping, exportando por preços inferiores aos locais.

    Na carta enviada ao governo, as associações empresariais argumentam que a China não é uma economia de mercado, porque há muita interferência das estatais na formação de preço e o governo ainda controla o câmbio.

    RETALIAÇÃO

    "O novo status da China vai trazer um prejuízo enorme para a indústria. Sei que o Brasil também vai levar em conta a questão política, mas precisamos negociar isso", disse Carlos Abijaodi, diretor industrial da CNI.

    A preocupação das autoridades brasileiras é com possíveis bloqueios às exportações de produtos agrícolas, como a soja, e os que os chineses analisem de má vontade pedidos de financiamento de empresas brasileiras.

    Com a recessão, muitas companhias brasileiras tem captado recursos com bancos chineses, que são mais flexíveis na concessão de empréstimos. É o caso de gigantes como a Petrobras e a Oi.

    Durante uma visita do presidente chinês ao Brasil em 2003, o então presidente Lula chegou a prometer que reconheceria a China como economia de mercado, decisão nunca implementada.

    Segundo a Folha apurou, o governo avalia que agora a situação é mais complicada, porque é obrigatória para todos os países do mundo. A maioria ainda avalia o problema.

    A China já informou aos países que vai abrir processo contra quem não cumprir o tratado. A União Europeia sinalizou que não reconhecerá o país asiático como economia de mercado. A posição dos Estados Unidos ainda não está definida.

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